sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Prisão de 2º suspeito por morte de comandante de UPP tem tumulto

Dois suspeitos foram presos por envolvimento na morte de Uanderson (Foto: Gabriel Barreira / G1 e Reprodução / Globo)Dois suspeitos foram presos por envolvimento na morte de Uanderson (Foto: Gabriel Barreira / G1 e Reprodução / Globo)
Foram presos nesta sexta-feira (12) dois suspeitos da morte do capitão Uanderson Manoel da Silva, comandante da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Nova Brasília, no Conjunto de Favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio, nesta quinta-feira (11). Segundo a Polícia Militar, um deles, até as 12h não identificado, estava escondido em uma fábrica ocupada desde março, conhecida como Favela Tuffy.
Durante a ação da polícia para achar e prender o suspeito, houve tumulto com moradores. Alguns tentaram fechar a Avenida Itaoca, em protesto. Bombas de efeito moral foram lançadas.
Outro suspeito, Cassiano da Silva Harris, de 20 anos, foi preso nesta madrugada. Ele foi reconhecido por PMs da UPP como o responsável por atirar um artefato contra um carro da PM cerca de 20 a 30 minutos antes do confronto que terminou com a morte do comandante. Segundo o delegado assistente da 22ª DP (Penha), Carlos Eduardo Rangel, um artefato similar foi encontrado próximo ao local onde morreu o capitão.Cassiano foi preso nesta madrugada (Foto: Gabriel Barreira / G1)Cassiano foi preso nesta madrugada
(Foto: Gabriel Barreira / G1)
Ainda de acordo com Rangel, Cassiano é conhecido pelo envolvimento com o tráfico de drogas e por ser um braço armado no Alemão. A polícia entrou com um pedido de prisão preventiva do criminoso, que foi aceito no plantão judiciário. As buscas por outros envolvidos continuam, com PMs de UPPs, do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e agentes da Polícia Civil.
Velório
No Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, onde Uanderson será enterrado, o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, disse que fará tudo para que Cassiano seja transferido para um presídio federal.
"Não é possível que um jovem jogue uma granada em um beco cheio de policiais. Não vou permitir que façam isso outra vez e matem quatro, cinco policiais", disse Beltrame.
'Guerreiro', diz mulher
No Instituto Médico Legal (IML), a viúva, Bianca Neves Ferreira da Silva, também capitão da Nova Brasília, aguardava a liberação do corpo do marido. “Ele amava o que fazia, era um guerreiro”, disse, muito abalada, antes de ir para o cemitério, onde o corpo chegou por volta das 12h.
Filha usa camisa em homenagem ao pai; ao fundo a viúva é consolada (Foto: Henrique Coelho / G1)Filha usa camisa em homenagem ao pai; ao fundo a viúva é consolada (Foto: Henrique Coelho / G1)
Em entrevista à rádio CBN, Beltrame, categorizou a morte como uma covardia. "Um policial estava na sua mesa trabalhando quando recebeu um alerta de prioridade, saiu correndo e foi ao encontro de seus colegas. Ele foi morto covardemente por pessoas da configuração destas áreas para fazer esconderijo e terem visão e localização privilegiada para atacar polícia", disse.
Segundo o secretário, o episódio não vai intimidar a polícia de pacificação das comunidades. "Isso só legitima nossa presença e sem dúvida nenhuma nós temos todos os dias descobrir métodos e treinamento para termos hoje uma polícia que é cidadã, uma polícia para trabalhar em beco, para trabalhar em viela, para trabalhar em lugar onde o policial fica muitas vezes exposto a sorte e muitas vezes de menores de idade e de pessoas que têm passagem policial porque o sistema de jurídico protege essas pessoas."
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arte PMs mortos UPPs 14 mortos (Foto: Editoria de Arte / G1)
7º PM de UPP morto em 2014
Uanderson estava sem colete à prova de balas no momento em que tomou um tiro no peito que o levou à morte. A informação foi confirmada pela assessoria das Unidades de Polícia Pacificadora. O policial foi o sétimo lotado em uma UPP morto em 2014 em serviço, o 14º desde a criação das unidades, em 2008, e o primeiro comandante morto pelo tráfico.
Os conjuntos de Favelas da Penha e do Alemão são ás áreas com mais mortes de PMs de UPPs. Dos 14 mortos, nove foram em comunidades das regiões: Nova Brasília (3), Alemão (1), Parque Proletário (2), Vila Cruzeiro (2) e Fazendinha (1). Rocinha (1), Coroa/Fallet/Fogueteiro (2), Batan (1) e Cidade de Deus (1) completam a lista dos 14 óbitos.
PM narra drama por telefone
Por telefone, um policial militar falou sobre o episódio logo após o tiro. “O capitão foi transferido às pressas pro Getúlio Vargas. Situação complicadíssima do capitão, tiro de fuzil no peito”, falou o PM – segundo o comentarista de Segurança Pública da TV Globo, Rodrigo Pimentel, o tiro foi de pistola.
O comandante da UPP Nova Brasília chegou a passar por uma cirurgia no tórax, mas morreu por volta das 19h30. De acordo com a Coordenadoria de Polícia Pacificadora, ele chegou a ser levado para a Unidade de Pronto Atendimento do Alemão e encaminhado para o Hospital Getúlio Vargas. O tiroteio ocorreu por volta das 17h30.
Policiais do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) fizeram uma varredura na comunidade para encontrar os criminosos que mataram o comandante. De acordo com informações do Bom Dia Rio desta sexta-feira (12), a busca continuava nesta manhã.
11 anos de polícia
Segundo a PM, o capitão Uanderson estava há 11 anos na Polícia Militar. Ele trabalhou no 14º BPM (Bangu), 15º BPM (Caxias) e 41º BPM (Irajá). O oficial comandava a UPP Nova Brasília há três meses. O PM era casado e tinha uma filha de 7 anos.
O tiroteio começou quando policiais do Grupamento Tático de Polícia de Proximidade (GTPP) da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Nova Brasília, no Complexo do Alemão, estavam em patrulhamento pela localidade conhecida como Campo do Seu Zé quando encontraram com homens armados que atiraram contra os agentes, segundo a polícia. Os PMs revidaram e os bandidos fugiram deixando para trás 58 papelotes de cocaína, dez pedras de crack e duas motos.
Pouco depois, ainda segundo a polícia, militares da UPP Fazendinha encontraram Raian Dias da Rocha, de 20 anos, que foi atendido na Unidade de Pronto Atendimento com ferimentos causados por disparos de arma de fogo. Raian foi transferido para o Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro. O caso foi registrado na 45ª DP (Alemão).
'Tentativas como essa não nos intimidam'
Em nota, o governador Luiz Fernando Pezão lamentou a morte do comandante “que morreu trabalhando em defesa da paz dos moradores do Alemão”. Ele afirmou ainda que não vai permitir que criminosos tirem covardemente a vida dos policiais.
O governador reiterou que o estado não vai retroceder na política de pacificação e enfatizou o processo de instalação de UPPs no Conjunto de Favelas da Maré. “Amanhã (sexta-feira), vamos formalizar a permanência do Exército na Maré para darmos continuidade ao processo de pacificação na comunidade com a futura instalação de UPPs. As unidades têm sofrido ataques de marginais que tentam a todo custo desmoralizar o programa. Tentativas como essa não nos intimidam”, afirmou.
Inauguração
UPP Nova Brasília, que fica no Conjunto de Favelas do Alemão, foi inaugurada em abril de 2012 juntamente com a UPP Fazendinha. Quando foi aberta a UPP Nova Brasília contava com 340 policiais para atender 25 mil pessoas a partir da estação Itararé do teleférico. A unidade é responsável pela segurança das localidades Ipê Itararé, Mourão Filho, Largo Gamboa, Cabão, Joaquim de Queiroz, Loteamento, Prédios, Aterro I e Aterro II.
Entregas restritas
Como mostrou o G1 no dia 31 de setembro, o medo da violência está levando varejistas a restringir entregas no Alemão, apesar de a região abrigar bases de uma Unidade de Polícia Pacificadora. Na ocasião, duas das maiores redes varejistas confirmaram ao G1 que as entregas em determinados locais da região estão restritas em função da criminalidade e destacaram que a lista de endereços considerados perigosos é flutuante, ou seja, varia conforme o registro de atos violentos.
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Nova Brasília e Fazendinha foram as primeiras comunidades a receber UPP no Conjunto de Favelas do Alemão (Foto: Editoria de Arte / G1)

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