quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Jesus negão provoca piti nos religiosos


A sátira é contada da perspectiva de irmãos negros que vivem na casa do avô em um bairro de maioria branca em Chicago.
Cena do seriado 'Jesus Negro'
Foto: Adult Swim / Divulgação

Série com Jesus negro desperta ira de conservadores nos EUA




BBC / TERRA

Estreou nos Estados Unidos o seriado humorístico americano
 Black Jesus (Jesus Negro) que, mesmo antes de ir ao ar,
 já havia despertado a ira de grupos cristãos e de conservadores.

A série do canal de TV a cabo Adult Swim tem como 
protagonista um sorridente Jesus Cristo negro que 
bebe, fuma maconha e fala palavrões ao passear de
 túnica branca pelas ruas de Compton, um bairro pobre
 de maioria negra em Los Angeles.

No primeiro episódio, que foi ao ar na quinta-feira (7),
 o personagem transforma água mineral em conhaque e
 tenta transformar um terreno baldio em um jardim
 comunitário – onde pretende plantar legumes e verduras
 e maconha.

Os produtores tinham lançado apenas um trailer de dois 
minutos antes do episódio de quinta-feira, mas já foi
 suficiente para que a série fosse taxada de blasfema e 
que grupos lançassem campanhas para não deixá-la ir ao ar.

O idealizador da série, Aaron McGruder, é autor do
 polêmicoThe Boondocks, quadrinhos que foram transformados 
em um seriado de animação que aborda temas complexos
 como o racismo e a luta de classes nos Estados Unidos.


Interpretação possível


De acordo com o Adult Swim, uma programação para adultos
 que só vai ao ar à noite no canal Cartoon Network, Black Jesus 
representa um "filho de Deus em sua missão para difundir o amor 
e a bondade pelo bairro de Compton, ajudado por seu pequeno
 e fiel grupo de seguidores oprimidos".

Em uma nota, o canal disse à BBC que a série é uma sátira e 
uma interpretação possível da mensagem de Jesus, 
contextualizada por contos morais do dia a dia. Além disso,
 afirmam que "embora alguns possam considerá-la uma 
representação polêmica de Jesus, não é nossa intenção
 ofender qualquer raça ou grupo religioso".

A explicação do Adult Swim parece não ter convencido 
organizadores de campanhas para que a série não vá ao ar,
 como a Um Milhão de Mães, parte da conservadora Associação
 Americana da Família (AFA, na sigla em inglês).

Para o grupo, o trailer é "desagradável" porque mostra Jesus Cristo
 "bebendo e fumando erva", falando palavrões e "utilizando o nome
 de Deus em vão diversas vezes". "Há violência, tiroteios, drogas
 e outros gestos impróprios que distorcem a figura de Jesus
 completamente. Isto é blasfêmia!", afirmam os responsáveis 
de Um Milhão de Mães, que também destacam que o Adult Swim não
 "se atreveria a ridicularizar Maomé ou os muçulmanos".

Cena do seriado 'Jesus Negro'
Foto: Adult Swim / Divulgação


A organização de mães não está só em sua batalha contra 
Jesus Negro. O Christian Broadcasting Network, por exemplo,
 lançou um abaixo-assinado contra o seriado. Eles dizem que são
 contra a série não porque Jesus Cristo é representado por 
um ator negro, mas sim pelas qualidades que os produtores lhe 
dão e pelo ambiente em que a trama se desenrola.

Estereótipos raciais


O programa também irritou congregações de maioria afro-americana,
 como a Igreja Cristã da Esperança em Beltsville, no Estado de Maryland, 
cujo bispo, Harry Jackson, pediu um boicote por acreditar que o
 seriado "reforça estereótipos raciais negativos em um tempo em 
que se tenta minar o respeito da sociedade aos cristãos e suas 
crenças bíblicas".

Já a Nação Messiânica Africana, uma organização que se opõe 
à representação eurocêntrica de Jesus, também rechaçou a série, 
argumentando que ela ataca o conceito de um "Messias negro" 
pelo qual vêm lutando há anos.

A polêmica era esperada pelo professor Edward Blum, da
 Universidade Estatal de San Diego, na Califórnia e autor do livro 
A Cor de Cristo, no qual analisa diferentes representações de 
Jesus Cristo ao largo da história.

"Nos Estados Unidos, qualquer questão racial se transforma em
 polêmica. O mesmo acontece com questões religiosas. Ou seja,
 se misturarem raça e religião no mesmo assunto, a polêmica é 
ainda maior", disse à BBC Mundo.

Por outro lado, Blum considera fascinante que "conservadores 
e negros estejam unidos nas críticas à série, mesmo que o
 façam por diferentes motivos".

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