segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Governo estuda adoção de novas vacinas até 2016

JOHANNA NUBLAT

O governo estuda a inclusão de novas vacinas no programa nacional de imunização infantil ao longo dos próximos cinco anos. Além da pentavalente, que reúne cinco vacinas já oferecidas em uma só, e de uma outra modalidade de imunização contra a pólio (a ser combinada com a forma em gotinhas), o Ministério da Saúde avalia vacinas contra hepatite A, catapora e HPV.

Estudos de custo-efetividade para as três últimas serão finalizados no próximo mês, o que vai permitir ao governo montar um novo 'quebra-cabeças', nas palavras de Jarbas Barbosa, secretário de Vigilância em Saúde da pasta.

Os estudos avaliam preço e impacto na saúde pública. Outra vacina considerada -assim que se tornar disponível- é contra a dengue. As mudanças podem começar no ano que vem.

A idéia é, primeiro, liberar espaço de armazenamento e reduzir o número de picadas, com a troca de cinco vacinas individuais pela pentavalente. A redução de doses em geladeiras e de vezes em que a criança é picada pela agulha vai permitir, segundo Barbosa, que outras vacinas sejam encaixadas 'na fila'.

Catapora e hepatite já são oferecidas pontualmente na rede pública de saúde, para grupos específicos e em casos de surto.

Segundo o secretário, estudos têm sido favoráveis à adoção das duas vacinas, mas o caso não é tão simples na imunização do HPV. Análise feita pelo governo em 2006, quando cada dose da vacina custava US$ 150, foi desfavorável à sua adoção. Em 2012, será possível comprá-la na versão quadrivalente (que inclui várias versões do vírus) por US$ 14,25, mais taxas, pelo Fundo Rotatório da Opas (braço da Organização Mundial da Saúde nas Américas).

'O assunto foi discutido com o governo brasileiro há seis meses', disse o assessor do fundo Daniel Rodriguez, durante o Congresso Brasileiro de Epidemiologia, neste mês, em São Paulo. Pode haver transferência de tecnologia para a produção da vacina no país.

A questão não depende só de preço, afirma Barbosa. A vacina de HPV é uma forma de prevenir o câncer do colo do útero. Para o secretário, se a vacinação tornasse os exames de papanicolaou dispensáveis, valeria a pena. 'Mas isso não foi provado. Incluir uma vacina que não elimina outras ações de prevenção só aumenta o custo.'

Para João Sanches, diretor de acesso ao mercado da MSD, empresa que vende a vacina, o papanicolaou deveria ser aliado à imunização.

'Mesmo em países onde o exame preventivo atinge índices elevados de mulheres, o que não é o caso do Brasil, o papanicolau não mudou o curso da ocorrência do câncer do colo do útero', disse.

Para Renato Kfouri, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, o ideal seria ter todas as vacinas, 'mas isso não existe no mundo'. Diante dos limites orçamentários, diz, são necessárias estratégias para garantir o abastecimento das já oferecidas.

Menos de 1% foram vacinadas contra HPV – A rede privada é responsável hoje por grande parte das doses de vacina contra HPV aplicadas no país. Segundo a MSD, empresa que fabrica uma forma da vacina, ela não atinge 1% das mulheres que deveriam ser imunizadas no Brasil. Em alguns Estados e municípios, a oferta pública da vacina tem ocorrido. A prefeitura de Campos (RJ), por exemplo, passou a imunizar meninas de 11 a 15 anos no ano passado. Já o Estado do Rio foi instado a organizar um programa de vacinação contra o HPV após a aprovação de uma lei estadual.

A estratégia de vacinação e os métodos para acompanhar sua eficácia devem ser definidos até o meio de 2012, diz o superintendente de Vigilância Epidemiológica e Ambiental da Secretaria de Estado da Saúde do Rio, Alexandre Chieppe.

'Ainda é um problema saber como vai ser feito o acompanhamento da efetividade da vacina. E não sabemos quais os subtipos mais comuns', disse.

Em parecer técnico feito em julho pelo Ministério da Saúde contra a aprovação de um projeto de lei para oferta da vacina, o governo aponta a mesma preocupação: 'Um programa específico para o HPV exigirá suporte laboratorial para identificação e monitoramento da circulação dos diversos tipos de HPV no país, ainda não disponível no SUS.'


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