Pelo menos 136 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas neste domingo durante uma ofensiva do Exército sírio em várias cidades do país, em um dos dias mais sangrentos desde o início da revolta contra o regime do presidente Bashar al-Assad, informaram os insurgentes.
"Uma centena de civis morreu neste domingo pelos disparos das forças de segurança durante invasão à cidade de Hama", afirmou Abdel Karim Rihaui, presidente da Liga Síria da Defesa dos Direitos Humanos.
Pessoas tentam se refugiar de disparos no bairro de Kazou, em Hama
Rihaui afirmou que a província de Idleb registrou mais três vítimas.
Ammar Qurabi, presidente da Organização Nacional de Direitos Humanos, disse à AFP que outras 19 pessoas morreram em Deir Ezzor, seis em Hark e uma em Bukamal.
Rami Abdel Rahmán, chefe do Observatório Sírio dos Direitos Humanos, com sede em Londres, contabilizou mais dois mortos em Surán, o que eleva para 136 o número total de mortos no país. "Este é um dos dias mais sangrentos" desde o início da revolta, em 15 de março, lamentou Rahman.
O presidente Barack Obama afirmou estar chocado com a repressão na Síria e prometeu aumentar a pressão sobre o regime de Bashar al-Assad.
Em um comunicado, Obama elogiou os manifestantes que tomaram as ruas e disse que a Síria "será um lugar melhor quando avançar para uma transição democrática".
"Mais uma vez, o presidente Assad mostrou que ele é completamente incapaz e não deseja responder aos pedidos legítimos do povo sírio. Seu uso de tortura, corrupção e terror o coloca do lado errado da história e de seu povo", criticou Obama.
"Através de suas ações, Bashar al-Assad fará com que ele e seu regime se tornem coisa do passado e que o corajoso povo sírio que tem se manifestado nas ruas irá determinar seu futuro", afirmou.
Para o ministro britânico de Relações Exteriores, William Hague, "tamanha ação contra os civis que se manifestam em massa e pacificamente durante várias semanas não tem nenhuma justificativa" e esses ataques "são ainda mais chocantes porque ocorrem na véspera do Ramadã", o mês sagrado para os muçulmanos.
Seu homólogo alemão, Guido Westerwelle, exigiu que o presidente Bashar al-Assad "ponha fim imediatamente à violência contra os manifestantes pacíficos" e o ameaçou com novas sanções europeias.
O francês Alain Juppé disse que os ataques são "inaceitáveis" e pediu ao Conselho de Segurança das Nações Unidas "fazer frente a suas responsabilidades", assegurando que "os responsáveis políticos, militares e de segurança sírios devem ser conscientes, agora mais do que nunca, sendo responsabilizados pelos seus atos".
O porta-voz da embaixada norte-americana na Síria, J.J. Harder, declarou à rede britânica BBC que esta violenta ofensiva é "um ato desesperado" por parte do regime, levando a uma "guerra contra seu próprio povo".
"Banho de sangue na Síria", denunciaram os opositores do regime em seu site "Syrian Revolution 2011", motor da contestação e que convocou novas "manifestações de represália" na saída das mesquitas após o "Tarawih", as orações noturnas durante o Ramadã, que começa na noite desde domingo.
Desde o início da revolta contra o regime de al-Assad, em 15 de março, a repressão já deixou pelo menos dois mil mortos na Síria, sendo mais de 1,6 mil civis, de acordo com números divulgados por várias organizações não-governamentais.
Testemunhas em Hama contaram pelo telefone à AFP que o Exército entrou na cidade pelas primeiras horas do dia, fortemente armados e com tanques e outros veículos blindados.
A agência oficial Sana, que responsabiliza os "bandos armados" pelos distúrbios no país, anunciou que dois militares foram assassinados pelos rebeldes em Hama.
Ainda de acordo com a agência, os insurgentes "incendiaram quartéis da polícia, atacaram bens públicos e privados, queimaram pneus e colocaram barreiras nas ruas".
A agência também citou uma testemunha não identificada que denunciou que em Hama "dezenas de homens organizados em grupos armados estão sob os telhados dos principais prédios da cidade e aterrorizam a população atirando sem cessar".
O Governo tenta há várias semanas retomar a cidade de Hama, em poder dos rebeldes, localizada a 210 km ao norte da capital Damasco, onde são realizadas várias manifestações contra o regime do presidente al-Assad. Na última sexta-feira, um protesto chegou a reunir mais de 500 mil pessoas, afirmou Rahmán.
Hama se converteu em um símbolo da luta contra o regime sírio desde a terrível repressão de 1982. Naquele ano, uma revolta promovida pelo movimento da Irmandade Muçulmana contra o então presidente Hafez al-Assad, pai do atual mandatário, foi duramente combatida, deixando mais de 20 mil mortos.
Os militantes temem ainda uma forte repressão em Deir Ezzor, uma região petrolífera que se tornou um importante centro de revolta. Na quinta-feira mais de 50 mil pessoas participaram de um protesto contra al-Assad. Neste domingo, de acordo com Rahmán, foram 19 vítimas.
O Governo, por sua vez, afirmou que "um coronel e dois soldados foram assassinados por grupos armados" nesta cidade.
Na região de Damasco, o Exército também realizou uma ofensiva na cidade de Muadhamiya e bloqueou os acessos ao local, informou Rahmán.
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