A baleia-cinzenta é um animal que pode se orgulhar de ter sobrevivido a numerosos períodos glaciais na Terra (as famosas “Era do Gelo”) – e sem deixar de manter sua rotina de migração e reprodução. Devido ao tamanho e hábitos do animal, a façanha é de fato impressionante, porque a oferta de alimentos cai drasticamente durante as Eras do Gelo. Qual seria, então, o segredo da baleia-cinzenta?
A resposta, segundo pesquisadores de três insitiuições da Califórnia (EUA), parece ser “adaptação alimentar”. Foi alterando seus hábitos de dieta que este mamífero gigante conseguiu sobreviver ao longo das glaciações. A baleia-cinzenta (Eschrichtius robustus), segundo afirmam os paleontólogos, jamais mudou seus hábitos de migração e quantidade de alimentação ao longo dos milhões de anos, mas conseguiu sobreviver porque passou a se alimentar com mais criatividade.
A refeição de uma baleia-cinzenta, antigamente, era algo mais simples. Bastava sugar uma grande quantidade de água, e os anfípodos (pequenos crustáceos que vivem na água, geralmente ao redor da própria baleia), chamados de organismos “bentônicos”, entravam na dança e já eram suficientes para alimentá-la. Eles constituíam a base de sua alimentação.
O tempo passava, o clima mudava drasticamente por várias razões e diminuía essa oferta abundante de anfípodos. Nessa ocasião, a baleia teve que inovar: passou a consumir camarões e pequenos peixes, como o arenque, para complementar a dieta.
A atual população de baleias-cinzentas no mundo é de cerca de 22 mil. Esse número, segundo estimam os cientistas, estava entre 76 e 120 mil antes que o homem começasse a caçar baleias, no século XVIII. Mas a situação já esteve pior: nos anos 1930, a espécie esteve em seríssimo risco de extinção total, chegando a contar menos de mil indivíduos. As recentes políticas de preservação das espécies marinhas estão reconstituindo sua população.
A adaptação alimentar foi um dispositivo que permitiu às baleias evitar o que se chama de “ponto de estrangulamento”. É quando a população de determinada espécie se torna tão pequena que a endogamia (o vulgar “incesto”) começa a ocorrer, e a diversidade genética tende à extinção.
Se isso tivesse ocorrido com as baleias-cinzentas, de acordo com os cientistas, a espécie perderia a capacidade de se adaptar a qualquer mudança de ambiente. E isso seria fatal para uma espécie que migra mais de 11 mil quilômetros, desde o sul da Califórnia até o Mar de Bering, que separa o Alasca da Rússia.
Em ambos os locais, as glaciações mataram a maior parte da diversidade animal disponível para alimentação, e a baleia-cinzenta sobreviveu a todas, incluindo a última (que terminou há cerca de 50 mil anos). Nos últimos 300 anos, a caça predatória é que se tornou o inimigo da espécie. Em ambos os casos, a população da baleia-cinzenta foi reduzida; mas sobreviveu.[ScienceDaily]
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