Homem acorrentado na Indonésia: ONG estima que 19 mil pessoas com transtornos mentais vivam hoje acorrentadas ou confinadas no país
São Paulo – 19 mil pessoas vivem hoje acorrentadas ou trancafiadas no isolamento na Indonésia. É o que mostra um estudo divulgado nessa segunda-feira pela Human Rights Watch (HRW), organização não governamental que monitora a situação dos direitos humanos no mundo, e no qual são relatados os abusos cometidos contra pessoas que sofrem de transtornos mentais.
Ao todo, 57 mil indonésios foram submetidos à chamada “pasung” em algum momento da vida. Embora tenha sido abolida pelo governo indonésio em 1977, essa a prática que envolve algemar e confinar portadores de transtornos mentais continua a ser exercida, especialmente por famílias carentes, hospitais e centros de habilitações incapazes de oferecer a assistência médica adequada e em comunidades religiosas.
Vivendo no inferno
O relatório ouviu 175 casos de pessoas portadoras desses tipos de distúrbios e que vivenciaram a “pasung”, foram há pouco tempo resgatadas daquelas condições ou sofreram outros tipos de abusos, que envolvem desde a violência física até a sexual. O caso mais longo encontrado pela equipe foi o de uma mulher que passou 15 anos isolada em um quarto.
Outro exemplo de “pasung” e abusos é de Rafi, de 29 anos, que vive em um centro de reabilitação em Bekasi, cidade próxima da capital Jacarta. “Eu vivia em casa amarrado”, contou à HRW, “e vim para o centro porquê eu brigo muito com os outros”. Na instituição, contudo, ele continua sendo preso à força, seja por um dia ou uma semana inteira. “Se preciso ir ao banheiro, tenho que ir no ralo do quarto”, relatou.
A forma como essas pessoas são tratadas em casa ou em hospitais é assustadora. A HRW ouviu casos em que familiares deixaram contatos falsos para conseguir se livrar de quem vive esses transtornos e o problema se agrava por conta de uma crença popular de que relaciona essas doenças à espiritualidade. Como consequência, primeiro se procura por um líder espiritual e, por último, um médico.
Quando finalmente se procura por atendimento médico, o obstáculo enfrentado pelas famílias passa a ser estrutural. Com uma população estimada em mais de 250 milhões de pessoas, a Indonésia conta com 48 hospitais psiquiátricos, sendo que metade deles estão localizados em quatro das 34 províncias e três sequer contam com psiquiatras.
Abaixo, veja um vídeo produzido pela ONG e que mostra detalhes da realidade dessas pessoas.
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