Assunto tabu, o sexo com animais ocorre em 3 a 4 entre 10 indivíduos de zonas rurais brasileiras e pode ser o responsável por dobrar casos de câncer de pênis. É o que aponta a pesquisa liderada pelo Hospital A. C. Camargo em parceria com outros 16 centros de tratamento de câncer do Brasil. O estudo reuniu 492 homens (171 com câncer de pênis e 374 sadios) – com idade entre 18 e 80 anos – e mapeou o comportamento sexual da população rural do país. O trabalho será publicado na próxima edição do Journal of Sexual Medicine.
Dos entrevistados, 31,6% dos homens sadios e 44,9% daqueles com câncer de pênis já tiveram uma ou mais relações de zoofilia. O número de animais envolvidos mostra que a prática é mais comum no Nordeste do país e que lá predominam equinos. No Sudeste as opções são por caprinos e galináceos.
Uma das explicações para a associação entre o câncer de pênis e o sexo com animais, segundo o urologista Stênio Zequi, é que a mucosa genital do animal é muito queratinizada, mais dura que a humana. “Ela pode provocar microtraumas na mucosa do homem e desencadear o câncer. Outra hipótese é a existência de elementos tóxicos na secreção animal ou de microorganismos capazes de infectar o ser humano”, afirma.
Periodicidade
A periodicidade da prática de sexo com animais variou. Um único episódio na vida foi apontado por 14% dos entrevistados. Duas vezes ao mês (17%), uma vez por mês (15,2%), uma vez por semana (10,5%), três vezes por semana (10%), duas vezes por semana (9,4%), diariamente (4,1%), dia sim/dia não (5,3%).
A maioria dos homens (59%) afirmou manter relações com animais por um período de 1 a 5 anos. A duração deste comportamento durou menos de um ano para 34 indivíduos (19,9%). Já o sexo com animais junto com um grupo de homens foi citado por 29,8% dos entrevistados.
Amputação
Apesar de ser considerado raro (2,9 a 6,8 casos por 100 mil habitantes), o câncer de pênis costuma provocar mutilações. Um levantamento da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) aponta que são amputados, todos os anos, mais de mil pênis no Brasil.
Zequi ainda alerta. “Se estamos observando um comportamento sexual que causa danos à saúde das pessoas, as autoridades e os agentes de saúde precisam orientar a população. É preciso dizer a esse público: lave o pênis, não tenha fimose, não tenha relaçoes sexuais com animais, use camisinha, etc”, diz.
Sobre a pesquisa
Além do sexo com animais, foram avaliados critérios como raça, idade, idade da primeira relação sexual, história de doença sexualmente transmissível, lesões penianas pré-malignas, fimose e circuncisão, idade da circuncisão, número de parceiros sexuais, tabagismo e história de sexo com prostitutas.
Ainda não é possível afirmar se há um ou mais vírus ou microrganismos específicos envolvidos no processo, nem se a prática pode causar danos às mulheres com quem esses homens se relacionam.
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