Os últimos 40 dias não foram nada fáceis para o auxiliar de produção Carlos Mariotti, de 42 anos. Morador de Orleans, no Sul catarinense, ele passou seis semanas com a mão esquerda inserida dentro de seu abdômen, numa tentativa de evitar uma amputação após um acidente de trabalho. Na manhã de segunda (9), ele passou pelo procedimento da retirada da mão do abdômen.
"Foi um pouco incômodo, fiquei 40 dias sem dormir direito. Na última semana fiquei um pouco ansioso", contou Mariotti, que precisou ter disciplina para manter a mão o tempo todo "dentro do bolso", como mandou o médico. "Botei na minha cabeça e nunca tive a intenção de puxar, poderia arrebentar os pontos. Quando eu me levantava da cama doía, mas sempre tive fé".
No dia 29 de abril, Mariotti teve a mão dilacerada por uma máquina de fazer bobinas na fábrica onde trabalhava. Ao chegar ao hospital, havia a hipótese de amputação. Para evitar a perda, Mariotti teve a mão inserida na barriga, numa técnica clássica de cirurgia. O objetivo era que a pele se regenerasse e pudesse receber enxerto, já que ossos e tensões foram preservados no acidente.
'Desenluvamento'
“Ele sofreu uma lesão que é chamada de desenluvamento”, explicou o médico ortopedista e traumatologista, Bóris Bento Brandão, que fez a cirurgia para colocar a mão de Mariotti no abdômen, e também fez a retirada.
“Ele sofreu uma lesão que é chamada de desenluvamento”, explicou o médico ortopedista e traumatologista, Bóris Bento Brandão, que fez a cirurgia para colocar a mão de Mariotti no abdômen, e também fez a retirada.
“É uma cirurgia clássica, mas pouca gente faz porque é uma situação especial, é um procedimento de salvação para evitar necrose, quando não há mais nada a fazer”, diz Brandão.
O procedimento está sendo considerado bem sucedido. "Não está pronta ainda, mas vamos dizer que está mais de meio caminho andado, evoluindo dentro do esperado", disse Brandão. "Apesar de estar sentindo dor, estou bastante animado. Ver o jeito como estava a mão e como está agora, para mim é uma felicidade".
'Luva de boxe'
Conforme o médico, ainda serão necessários outros procedimentos. "Agora, a mão está como uma luva de boxe, o dedão separado e o restante dos dedos juntos. Ainda vamos precisar fazer alguns enxertos de pele e depois a separação dos dedos", informou o médico.
Conforme o médico, ainda serão necessários outros procedimentos. "Agora, a mão está como uma luva de boxe, o dedão separado e o restante dos dedos juntos. Ainda vamos precisar fazer alguns enxertos de pele e depois a separação dos dedos", informou o médico.
Segundo o médico, Mariotti já consegue fazer alguns movimentos, mas a mão ficará enfaixada por tempo indeterminado. Os novos procedimentos também irão depender da recuperação dele, que nesta terça (10) seguia internado na Fundação Hospitalar Santa Otília, sem previsão de alta.
Em dez dias, Mariotti deve passar por uma nova cirurgia. Enquanto isso, ele precisa ser anestesiado a cada troca de curativo. "Me mostraram umas imagens. É outra mão, uma mão maior. Vai demorar um pouco. Um, dois anos, mas vou poder abotoar um botão da camisa, dirigir. Minha expectativa é poder voltar a trabalhar".
Acidente
Mariotti teve a mão puxada por uma máquina de fabricar bobinas. “Fui passar o filme, quando vi a máquina estava puxando minha mão. Gritei duas vezes, ninguém ouviu. Na terceira, eu puxei”, relembrou.
Mariotti teve a mão puxada por uma máquina de fabricar bobinas. “Fui passar o filme, quando vi a máquina estava puxando minha mão. Gritei duas vezes, ninguém ouviu. Na terceira, eu puxei”, relembrou.
Ele estava sozinho naquele momento, mas logo foi socorrido por colegas. “Uma menina que trabalha lá na frente tinha uma atadura na bolsa, eles amarraram com força, foram os primeiros socorros.” Atendido pelos bombeiros, Mariotti foi levado para o hospital.
Cirurgia
Foi a primeira vez que o procedimento de salvação de mão foi feito na Fundação Hospitalar Santa Otília, único hospital de Orleans. A cirurgia, realizada através do Sistema Único de Saúde (Sus), durou duas horas e o paciente recebeu anestesia no braço e no abdômen.
Foi a primeira vez que o procedimento de salvação de mão foi feito na Fundação Hospitalar Santa Otília, único hospital de Orleans. A cirurgia, realizada através do Sistema Único de Saúde (Sus), durou duas horas e o paciente recebeu anestesia no braço e no abdômen.
42 dias com a mão no 'bolso'
“No caso da mão, é uma lesão muito grande e delicada. O único lugar que caberia a mão inteira é no abdômen”, conta o médico. Mariotti precisou ficar por 40 dias com a mão “dentro do bolso” para garantir o desenvolvimento de um novo tecido capaz de receber enxerto de pele.
“No caso da mão, é uma lesão muito grande e delicada. O único lugar que caberia a mão inteira é no abdômen”, conta o médico. Mariotti precisou ficar por 40 dias com a mão “dentro do bolso” para garantir o desenvolvimento de um novo tecido capaz de receber enxerto de pele.
Dois dias depois de ter a mão inserida no abdômen, o paciente já consegui fazer alguns movimentos, que podiam ser percebidos por baixo do abdômen. “Isso salva a viabilidade do membro. É como se fosse um bolso. Ele é estimulado a fazer movimentos suaves, para evitar a rigidez da mão”, explicou o médico na época.
“Tenho que cuidar ao máximo para não tirar a mão do ‘bolso’. Se eu quiser puxar, eu puxo, mas ele [médico] colocou na minha cabeça que não posso, e estou cuidando”, disse Carlos, na época.
“Ele vai ter uma mão funcional, vai poder dirigir, comer, mas é uma mão menos sensível”, detalhou o médico. “Perdi dois dedos, sei que não vai ficar a mesma coisa, mas vou poder vestir uma camiseta, segurar um talher. Se fosse no passado, teriam amputado. Saber que eu ia perdendo a mão e não vou perder mais...Até agora me emociono”, disse Carlos.
“Ele vai ter uma mão funcional, vai poder dirigir, comer, mas é uma mão menos sensível”, detalhou o médico. “Perdi dois dedos, sei que não vai ficar a mesma coisa, mas vou poder vestir uma camiseta, segurar um talher. Se fosse no passado, teriam amputado. Saber que eu ia perdendo a mão e não vou perder mais...Até agora me emociono”, disse Carlos.
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