quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Rio - Vizinhos do Sambódromo: combate à dengue só acontece no Carnaval


Enquanto a Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil (SMSDC) deu continuidade nesta quinta-feira (24) às ações preventivas de combate à dengue com atividades no Sambódromo, fora da Sapucaí moradores queixam-se do descaso: “só acontece perto do carnaval”.
Pela manhã, agentes da Coordenação de Vigilância em Saúde inspecionaram toda a Avenida Marquês de Sapucaí. De acordo com o coordenador de Vigilância Ambiental e Saúde, Marcus Vinícius Ferreira, as residências que ficam ao redor do sambódromo recebem visitas pelo menos cinco vezes ao ano. 
“São cinco períodos de tratamento, intercalados por quatro levantamentos de índices, em que aleatoriamente se escolhe uma de cada 20 residências para se realizar a coleta, que dá origem aos índices do município. Também neste momento há o trabalho de intensificação de vistoria no entorno, onde um raio a cada 300 metros de distância do sambódromo pode ser afetado”, finaliza.
"Só acontece perto do carnaval"
No entorno do Sambódromo, por outro lado, os moradores dizem desconhecer as tais vistorias. Quando muito, afirmaram receber a visita de agentes uma vez ao ano.
O mecânico Carlos Alberto, 40 anos, trabalha em uma oficina ao lado do Sambódromo e queixa-se que tanto ações contra a dengue quanto de limpeza só acontecem às vésperas do carnaval . “Uma vez por ano os agentes vêm, mas só acontece perto do carnaval. Vêm ver como fica em abril. Isso aqui é uma sujeira só”, critica Carlos Alberto. 
Mecânico queixa-se que, passado o período de festas, a região vizinha ao Sambódromo é abandonada
Mecânico queixa-se que, passado o período de festas, a região vizinha ao Sambódromo é abandonada
"Minha vizinha teve dengue no ano passado. Não é só o problema dos mosquitos, aqui em frente fica uma pilha de sujeira. Hoje não está sujo porque semana passada eles limparam preparando para o carnaval", conta Elias Vieira, 53, apontando para os garis.
Outro vizinho do Sambódromo, o comerciante Emanuel Paulista, 46, bate na mesma tecla. De acordo com Paulista, perto do carnaval “é uma grande faxina, tudo acontece”.  Passada a festa, volta o descaso. “Eu já tive focos da dengue aqui, liguei para a prefeitura mas nunca vieram controlar. Só nessa época”, denuncia.
Área do sambódromo é considerada ponto crítico da dengue no Rio
Segundo o coordenador de Vigilância Ambiental e Saúde, Marcus Vinícius Ferreira, o sambódromo recebe “estrategicamente” um tratamento diferenciado. “O trabalho contra a dengue é intensificado nessa época, porque no carnaval há uma circulação maior de pessoas, o que facilita a transmissão da doença pelos mosquitos. Também aumentamos as vistorias perto dos blocos e das escolas de samba e em todos os outros pontos de aglomeração. Além disso, toda quinta-feira, até o dia 7 de fevereiro, passaremos o carro pesado e leve com fumacê pelo sambódromo”, explica. 
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Segundo Marcus Vinícius, até agora, comparativamente ao ano passado, o município do Rio está com menos casos da doença. No entanto, “a cidade sofre com a mudança climática e as fortes chuvas depositam água em lugares preocupantes, que não são visíveis. Nessa época, a situação também piora porque com o aumento da temperatura, há aceleração do metabolismo do mosquito, que em vez de se desenvolver em 21 dias, passa a chegar à fase adulta em apenas dez dias”, informa.
Mais de 50% dos focos de dengue são encontrados dentro das residências da cidade, conforme informou o coordenador de Vigilância Ambiental e Saúde. “E se for contar os que ficam no entorno das casas, chega-se a cerca de 70% dos focos”, afirma, lembrando que não são apenas fatores como o calor e a alta umidade com as chuvas que fazem crescer os casos de dengue, mas sim o pouco cuidado da população com a criação de focos dentro da própria casa. 
As ações no Sambódromo começaram no início de janeiro, e têm como objetivo deixar a passarela do samba livre dos focos de mosquito. À tarde, foi usado um carro com equipamento de ultra baixo volume (UBV) - o fumacê. O veículo percorreu a Avenida Marquês de Sapucaí e também as ruas próximas. As ações continuam até o Carnaval e contam, além da eliminação de focos do mosquito transmissor, com trabalho educativo com a população do entorno. 
“Nós já fizemos vistoria ao longo de 2012, em todos os meses, de 15 em 15 dias. Neste primeiro mês de 2013 já começam a prevenção no sambódromo, além das vistorias nas áreas internas e externas ao sambódromo. Agora, com a proximidade do Carnaval, a prefeitura vai intensificar as ações, que seguem até março", informou o coordenador da ação de combate a dengue do Sambódromo, Manoel José da Silva. 
Uma curiosidade contada por Manoel é que os agentes de combate à Dengue deixaram de fazer a aplicação de inseticida em alguns bueiros, porque, segundo ele, lá foram encontrados “peixes que se alimentam das larvas do mosquito da Dengue”.
*Do Programa de Estágio do Jornal do Brasil

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