quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Pequena Ninja fica maior, melhor e mais cara


Sem muito esforço mantenho o ponteiro do conta-giros, que domina o moderno e belo painel, entre as 9.000 e 11.000 rotações para aproveitar todo o torque e a potência do motor enquanto contorno as inúmeras curvas da Estrada dos Romeiros, a bela rodovia-parque entre as cidades de Itu e Santana de Parnaíba, no interior de São Paulo. Para entrar em uma curva mais fechada, inclino meu corpo com facilidade, reduzo uma marcha e sem trancos na roda traseira, a motocicleta responde aos meus comandos e mantém-se na trajetória sem oscilações.

A descrição acima soaria como um clichê para uma esportiva de 1.000 cc, mas surpreende justamente por descrever minha experiência com a nova Kawasaki Ninja 300. Notadamente melhor que a antecessora, a nova caçula da família Ninja faz por merecer o título de “miniesportiva”, pois se comporta como tal. Seu motor ficou maior e mais potente. Seu quadro foi reforçado; os freios, melhorados, inclusive com a opção do sistema ABS. O desenho foi completamente atualizado e a nova Ninja 300 realmente parece uma ZX-10R em miniatura. Conta até mesmo com a embreagem deslizante, que evita trancos na roda traseira em reduções de marchas mais bruscas. Em resumo, a Ninja 300 mudou tanto em relação a 250, que podemos chamá-la de uma nova moto.

Mas a Kawasaki cobra um preço por toda essa “novidade”: enquanto a antiga versão de 250cc era vendida por cerca de R$ 15.000, a Ninja 300 tem preço sugerido de R$ 17.990 (versão sem ABS) e R$ 19.990 (versão com ABS). Lembrando que esses são preços base no estado de São Paulo, não inclusos frete e seguro. Ou seja, na concessionária, ela vai ser ainda mais cara.

Mais torque, sempre

Com a honra de ter inaugurado o segmento de esportivas de baixa capacidade cúbica com a Ninja 250R, e ter reinado por anos solitária neste segmento, a Kawasaki sentiu-se ameaçada com o lançamento da Honda CBR 250R em 2011, no Salão de Milão (ITA). E resolveu contra atacar com uma receita simples: fazer da Ninja uma moto com motor maior.

Para atingir os 296 cm³ de capacidade do novo bicilíndrico da Ninja 300, o curso dos pistões, agora feitos em alumínio, foi aumentado de 41,5 mm para 49 mm, o diâmetro permanece o mesmo (62 mm). Porém essa alteração exigiu que a Kawa realizasse outras mudanças internas no propulsor: novas bielas, um duto de admissão redimensionado, além de novos virabrequim e eixo balanceiro. De acordo com a Kawasaki, 45% dos componentes internos do motor são novos. O que explica o comportamento totalmente diferente da Ninja 300.

Exatamente da capacidade cúbica mais elevada é que vem a maior potência: agora a Kawasaki declara 39 cavalos a 11.000 rpm (contra os 32 cv da versão anterior). Um número bastante impressionante para uma motocicleta da sua categoria. O sistema de refrigeração líquida foi redimensionado para manter o motor na temperatura certa e, de quebra, ainda ganhou uma nova tecnologia da marca japonesa para desviar o ar quente do piloto, batizada de KAMS (Kawasaki Air Management System).

Também para aproveitar a potência do motor o câmbio de seis velocidades foi redesenhado, enquanto o sistema de injeção eletrônica de combustível passou a contar com duas válvulas de aceleração. Justamente dessa mudança é que veio o maior benefício do novo propulsor, a meu ver: o torque, além de maior, 2,8 kgf.m a 10.000 rpm, está disponível em uma maior faixa de giros.

Seja rodando na cidade ou em uma estrada com elevações, logo se nota que a nova Ninja 300 tem mais torque e força em médios regimes. O modelo anterior de 250cc não tinha quase nenhuma força abaixo de 8.000 giros, e exigia que se pilotasse “esgoelando” a moto para ter uma aceleração decente. Já no motor de 300 cc, a 4.000 rpm parece haver força suficiente para acelerações ou mesmo para rodar com mais tranquilidade no trânsito urbano, sem ter que “torcer” o cabo do acelerador.

Com muita facilidade os giros crescem e a velocidade atinge 120 km/h sem nenhum esforço (o motor girando a 8.000 rotações). Se for necessário ultrapassar ou tiver mais pressa, basta reduzir uma marcha e acelerar: o ronco do motor cresce e a velocidade no painel digital aumenta com bastante empolgação. Cheguei ao máximo de 172 km/h no velocímetro.

Ágil e precisa, na estrada

O motor mais potente demandou também um novo quadro: continua sendo um berço semiduplo, porém mais reforçado e firme feito em aço. Além disso, a fixação do motor ganhou novos coxins de borracha que praticamente isolaram o piloto das vibrações características dos motores de dois cilindros paralelos – tanto que as pedaleiras perderam os suportes de borracha e agora feitas em alumínio ficaram mais bonitas e esportivas.

As suspensões foram recalibradas: o garfo telescópico dianteiro com tubos de 37 mm agora tem mais óleo, mas estão mais macios. Já o monoamortecedor traseiro está um pouco mais firme. Mudanças que não alteraram o comportamento dinâmico da moto em curvas e nem prejudicou sua esportividade. Durante a sessão de fotos, em curvas mais rápidas, as pedaleiras chegaram a raspar o chão, tamanha a inclinação da nova Ninja 300.

Já na cidade, em ruas mais esburacadas, o pequeno curso da suspensão prejudica um pouco a absorção de impactos. Mas em nenhum momento chegou a dar fim de curso – ressaltando que não rodei com garupa.

Mas o novo conjunto ciclístico parece transmitir mais segurança ao piloto, principalmente para um uso mais radical. E a agilidade em mudanças de direção não foi diminuída pelo maior pneu traseiro – agora um 140/70-17, contra o anterior de 130 mm.

Os freios mantiveram-se bons, como na versão anterior. Afinal é o mesmo disco de 290 mm em formato de margarida com pinça de pistão duplo, na dianteira, e um disco de 220 mm com pinça dupla na traseira. Super dimensionados para a versão anterior, o conjunto de freios parece nem sentir o peso extra: agora são 172 kg contra os anteriores 169 kg em rodem de marcha. A versão com ABS pesa 174 kg, mas, infelizmente, a Kawasaki disponibilizou a versão standard para nossa avaliação.

Outra moto

Era grande minha curiosidade em avaliar essa nova “Ninjinha”, tanto pela tecnologia empregada em uma moto de baixa cilindrada como, por exemplo, a embreagem deslizante, como pela possibilidade de se extrair 39 cv de um bicilíndrico de apenas 296 cm³. Depois de rodar cerca de 400 km com o modelo, a conclusão óbvia é que esta é outra moto, não somente uma versão atualizada da Ninja 250R.

Isso me fez mudar de ideia em relação à Ninja 300. Jamais teria a antiga 250R como meio de transporte diário: sua pilotagem na cidade cansava demais – ter de andar com os giros lá em cima pode ser bastante irritante no trânsito urbano – e seu desempenho na estrada não compensava o esforço. 

Mas durante a convivência de uma semana com o novo modelo, rodando no trânsito urbano e realizando uma viagem por rodovias de tráfego rápido e estradas sinuosas de mão dupla, posso afirmar que o modelo de 300cc está muito mais utilizável com torque disponível em médias rotações e menos vibrações. Outro ponto positivo é que a injeção melhorou um pouco o consumo. O modelo de 250cc rodava entre 18 e 21 km/l, dependendo da tocada. Já a nova de 300cc teve médias entre 22 e 24 km/l. 

Claro que ainda há incômodos, entre eles a limitação do ângulo de esterço para achar um caminho em avenidas congestionadas; sem falar na buraqueira da cidade de São Paulo que castiga a carenagem, fazendo até mesmo os parafusos de fixação de um dos espelhos retrovisores se soltarem. Além disso, pilotos mais altos (tenho 1,71 m) talvez sintam desconforto com a posição das pedaleiras recuadas e certamente sua garupa irá reclamar do espaço reservado a ela. Entretanto, essa Ninja 300 está sem dúvida melhor e mais cara.

Justamente o preço é o grande ponto negativo da nova Ninja 300. Compreendo que a Kawasaki tenha incorporado novas tecnologias e feito uma moto, de fato, melhor. Uma verdadeira miniesportiva. Mas o preço praticado nas concessionárias, beirando os R$ 19.000 para a versão sem ABS (chegando a quase R$ 22.000 com ABS), é realmente elevado. Afinal, trata-se de uma moto que pode até parecer uma esportiva, mas não tem o desempenho de uma. Mas quem dará o veredicto final será o consumidor: o motociclista estaria disposto a pagar tal quantia a mais por uma moto de 300cc?

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