sábado, 11 de junho de 2016

Polícia mata menino de 10 anos


Qual o ser humano normal que não se assusta, se indigna, se revolta, ao ler a frase acima? Nenhum. A reação não seria a mesma se a frase fosse escrita da seguinte forma: menino de 10 anos morre em confronto com a polícia. Correto? Claro que sim. O impacto seria menor, a curiosidade da população muito maior. Como assim? Um garoto de 10 anos enfrentou a polícia? Que mundo é este?
Vamos aos fatos. Na semana passada, em São Paulo, dois garotos, de 10 e 11 anos, invadiram um condomínio para praticar roubos. Os primeiros informes indicam que pelo menos um deles portava um revólver. Conseguiram levar um veículo. Perseguido em seguida por policiais militares, o garoto perdeu o controle do carro, bateu em um ônibus e um caminhão, teria efetuado disparos contra os militares e acabou morto. Tudo isto após a recusa em parar.
A mais significativa imagem desse triste episódio foi mostrada em reportagem de TV, porém seus detalhes passaram despercebidos. O garoto sobrevivente, juntamente com a mãe, sai da delegacia. Ele, por ter apenas 11 anos, não pode ser apreendido. A mãe caminha apressada, o garoto vem logo atrás correndo. A mãe veste um casaco de atletismo, com as cores verde e amarela, e a inscrição as costas: BRASIL. A imagem diz tudo. O país caminha à frente, ignora quem vem atrás. Enquanto o garoto corre para agarrar o braço da mãe, ela caminha apressada. O descaso dela é o descaso do país. Seu casaco diz tudo isto.
O menino morto possuía inúmeras passagens pela polícia, o pai está preso por tráfico de drogas, e a mãe saiu da cadeia, onde cumpriu pena por furto. Uma juíza declarou que tudo o que estava ao alcance da Justiça foi feito. Ela conheceu o menino, falou com ele algumas vezes, tentou orientar, encaminhar para a “família”. Certamente ninguém que conheceu o jovem infrator ficou espantado com seu trágico fim. Ninguém precisa ser vidente para imaginar que a falta de providências sérias acabaria desta forma.
Mas o menino tinha apenas 10 anos, e mesmo que tudo e todos tenham falhado, embora verbas não faltem, agora será preciso arranjar um culpado, ou culpados. Mariposas assanhadas acorreram para o calor dos holofotes e decretaram: a culpa é da PM. Eles não agiram certo; Eles poderiam ter detido o garoto, tinha só 10 anos. Olha o absurdo! Aonde vamos parar? A polícia matando meninos de apenas 10 anos?
Quando tais fatos ocorrem, e a cada dia, é que revejo meu plano de ir morar no mato, no alto de uma montanha, sozinho. Ficarei muito feliz, confesso, se de lá conseguir enxergar focos de fumaça, gritarias, correrias, explosões. Se tiver sorte, terei um potente binóculo e com ele verei os corpos pelas ruas. Nesse dia posso morrer tranquilo. Afinal, policiais reconheceram que não vale a pena defender a sociedade. Ela que se vire sozinha.

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