Esta semana, no 11 de setembro (ontem) dois fatos a lembrar e nenhum deles a comemorar: os 39 anos da morte de Salvador Allende, o primeiro presidente socialista a chegar ao poder pelo voto no continente, morto pelo golpe de Estado desfechado pelo general Augusto Pinochet, no Chile, e os 11 anos dos atentados às torres gêmeas do World Trade Center em Nova York, a aviões, e ao prédio do Pentágono, nos Estados Unidos.
Assisti aos dois 11 de setembro em situações completamente distintas. No primeiro, o do golpe militar no Chile e morte de Allende, em 1973, eu vivia de novo em Havana-Cuba depois de minha volta como clandestino ao Brasil, em 1971, e onde já vivera os primeiros anos depois que a ditadura militar me baniu, em 1969, cassando-me a cidadania brasileira.
O segundo, o 11 de setembro de 2001 dos atentados nos Estados Unidos, eu acompanhei parte no carro indo para uma reunião com o presidente Lula no Instituto Cidadania (hoje Instituto Lula), no bairro do Ipiranga, nas proximidades do Museu do Ipiranga. Chegando lá, vendo o que acontecia, tomei consciência da gravidade do ocorrido em Nova York e das consequências políticas daqueles fatos para o mundo.
O tempo trouxe a dimensão sobre as duas tragédias
Hoje, passados 39 anos e 11 anos de cada um, temos a exata noção de quão alto preço os dois 11 de setembro cobram à humanidade. O chileno resultou na implantação de uma das mais tirânicas e sanguinárias ditaduras militares de que o mundo teve conhecimento. Também a tragédia do 11 de setembro americano teve as piores consequências. Mudou para pior os rumos da história e da política mundial.
Do primeiro 11 de setembro, o de 39 anos atrás da morte de Allende, a consequência foi a instauração de uma longa ditadura assassina e cruel no Chile, um país antes e até então símbolo da democracia. O golpe se consolidou com o apoio norte-americano e se desdobrou em novos golpes de Estado na Argentina e no Uruguai, assim como na continuidade da sustentação do desfechado aqui no Brasil, em 1964.
Foram golpes, lá e cá, com graves consequências sociais e políticas, que terminaram por impor a tortura, o assassinato político e o desaparecimento dos opositores de todos matizes em todos esses países, como política de Estado. São Crimes que só nos últimos anos estão sendo esclarecidos e punidos de forma exemplar.
A dos EUA fez recrudescer sua vocação intervencionista
Já a tragédia americana teve as piores consequências com a invasão do Afeganistao e do Iraque, ocupações que os EUA tentaram justificar na esteira daquele 11 de setembro. Pior, a tragédia americana abriu uma época de violação sistemática dos direitos humanos nos Estados Unidos e no mundo, e de implantação de doutrinas militaristas e unilaterais por parte de Tio Sam.
Em muitos casos - e até certo ponto - essas doutrinas fracassaram. Mesmo assim abriram espaço para uma hegemonia neoliberal em políticas econômicas e sociais que levaram os próprios Estados Unidos à crise de 2008-2009 e depois a Europa à crise atual.
Nessas crises, o fato novo foi o surgimento de outros atores no mundo - a China, primeiro, depois os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), e os países emergentes - tentando e até certo ponto conseguindo deter as políticas militaristas, unilaterais e neoliberais.
A resposta a um companheiro
Dessa forma, com o comentário acima - um misto de recordação e de reflexão sobre dois 11 de setembro - eu espero ter respondido ao pedido do leitor Lao-Tsen de Araújo Dias que - muito atento e apropriadamente - me cobrou uma manifestação sobre a data.
Eu a faço agora, Lao-Tsen, e queria explicar a você que sempre faço. Ainda que às vezes, por absoluta impossibilidade, não faça na data. Mas me manifesto sempre: no dia ou nos dias seguintes. E, aproveito para encerrar minha avaliação com tuas palavras: "Viva SALVADOR ALLENDE!. Viva PABLO NERUDA! Viva os Proletários chilenos que foram vitímas do golpe! Viva a Democracia!".
(Foto: Fundação Salvador Allende)
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