O fogo foi a maior conquista da Humanidade. Desde conseguir manter acesa a chama capturada num incêndio provocado por uma tempestade eléctrica, a conseguir reproduzi-la por fricção e combustão, o fogo sempre exerceu um imprudente fascínio sobre os homens.
A palavra Lar, está associada ao fogo doméstico à volta do qual a família se reunia, e cuja preservação passava de pai para filho, durante várias gerações.
Um dos mais famosos relatos de fogo e destruição premeditada, é o do Grande Incêndio de Roma. Segundo a mais conhecida versão histórica, foi posto a mandado de Nero, que pretendia tornar a sua música tão imortal como a Ilíada deHomero, e aspirou recriar o incêndio de Troia, para que a sua musa inspiradora dançasse por entre as chamas e deificasse a sua obra.
Era comum em tempos medievais exorcizarem-se os “demónios” pelo fogo, pelo que as penas capitais eram assim aplicadas, e sendo acções que se entendiam purificadoras, foram incontavelmente praticadas durante os negros tempos da Inquisição… São muitas, demasiadas talvez, as atrocidades que se cometeram e ainda cometem em nome da fé.
Também pontificou nos anais da história, oGrande Incêndio de Londres, que em 1666 começou numa padaria e destruiu mais de metade da cidade.
Escritores maiores, como Camões escreveram sobre o fogo, mas outro tipo de fogo, aquele fogo que arde no peito, mais fácil de atear e muito mais complicado de extinguir.
O fogo da inteligência acendeu a criatividade do espírito humano e deu-nos a capacidade de produzir facas de pederneira, rodas, fogões, máquinas a vapor, energia eléctrica, telefones sem fios… um sem número de pequenas e grandes coisas que são tão banalizadas nos dias de hoje. A criação que nos eleva á condição de seres superiores, é a mesma criação que nos faz enveredar tantas e tantas vezes nos trilhos da destruição.
A guerra faz parte da condição humana há milénios, como nos relatou Jean-Jacques Annaud, e vem evoluindo assustadoramente nos últimos séculos – a célebre e famigerada “I become death” de Oppenheimer deveria ser uma incontornável chamada de atenção.
O nosso País, á semelhança de tantos outros verões, está a arder; pode ser descuido, pode ser fatalidade, pode ser qualquer coisa que lhe queiram chamar. Para mim é sempre crime. Voluntário, involuntário, por omissão, é criminoso para a fauna, a flora, o País ,a humanidade e principalmente o planeta. PobreGaia, que tem surpreendentemente sobrevivido a tantas e tantas investidas assassinas.
O Homem é o único ser vivo que mata sem razão. Mata porque quer e não para satisfazer qualquer necessidade fisiológica. Temos que parar para pensar. É da criação duma consciência colectiva que depende a sobrevivência das gerações vindouras.
Aproveito para deixar uma palavra de apoio e solidariedade para todos os homens e mulheres que combatem incansavelmente a progressão assassina do fogo, por vezes pagando o derradeiro preço. Obrigada e bem hajam !!!
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