RIO - O Secretário estadual de Saúde, Sérgio Côrtes, instalou um gabinete de crise no Hospital Estadual Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. De acordo com informações da assessoria de imprensa da secretaria, a ação faz parte do gerenciamento que investiga os três recentes casos de mau atendimento na unidade, entre eles a morte de um idoso na porta da unidade por falta de macas . Côrtes, esteve nesta segunda no hospital para acompanhar o trabalho do gabinete, que vai dar suporte ao trabalho da direção da unidade, revisar todos os procedimentos, acompanhar as reclamações dos usuários e seguir de perto a sindicância instalada. O secretário solicitou ainda que a Secretaria de Segurança (Seseg) acompanhe de perto o trabalho de investigação do atendimento ao idoso e de Rosa Celestino de Assis, dada como morta por médicos na última sexta-feira, até que a filha foi reconhecer o corpo do necrotério e viu que a mãe respirava .
- Determinei a instalação do gabinete no hospital porque queremos o máximo de transparência nas investigações. O meu objetivo não é só punir os profissionais envolvidos, mas assegurar que os erros no processo de trabalho sejam solucionados e não voltem a acontecer. A minha tolerância a erros no atendimento de pacientes é zero - afirmou Sérgio Côrtes.
No domingo, o aposentado Calistrato Martins, de 87 anos, morreu dentro do carro, parado em frente ao hospital porque que não havia macas para transportá-lo para dentro da unidade. As imagens do circuito interno de TV do hospital serão enviadas para perícia do Instituto de Criminalística Carlos Eboli para análise. Estas imagens mostram que entre a chegada de Calistrato à unidade, vinda de carro particular, até a chegada do primeiro técnico de enfermagem para fazer o atendimento levou menos de três minutos.Em depoimento à equipe do Gabinete de Crise, os profissionais de saúde do hospital informaram que os próprios acompanhantes do idosoe informaram que ele já estava morto e não permitiram que o corpo fosse retirado do carro.
FOTOGALERIA: O enterro do aposentado Calistrato Martins, que morreu à espera de atendimento em frente a hospital
- A gente não sabe se o senhor já chegou em óbito ou faleceu logo depois, mas as imagens demonstram que não houve demora no atendimento, mas quem vai atestar isso é a perícia - disse o secretário Sérgio Côrtes.
Durante o enterro do aposentado,nesta segunda-feira no Cemitério de Xerém, a família dele disse que vai processar o Estado. De acordo com familiares do aposentado, houve omissão de socorro por parte do hospital. Durante o sepultamento, um familar de Calistrato lembrou ainda que tentou entrar com ele nos braços no hospital, mas foi impedido pelos seguranças da unidade.
O diretor da unidade, Manoel Moreira, reclamou da superlotação no hospital:
- Houve um aumento de 20% nos atendimentos devido a problemas em outras unidades da Baixada. Estamos atendendo ao dobro da capacidade diária que é de cem pacientes.
A equipe da Ouvidoria do hospital também foi reforçada por mais quatro funcionários. No entanto, parentes de pacientes - que reclamavam na segunda-feira do atendimento no hospital - relataram desconhecer o serviço.
Na sexta-feira, Rosa Celestrino de Assis, de 60 anos, foi dada como morta por médicos até que a filha foi reconhecer o corpo do necrotério e viu que a mãe respirava.
- É claro que uma coisa não anula a outra, e os culpados serão punidos. O que existe também é uma falta de estrutura crônica nos municípios da Baixada Fluminense e por isso há uma superlotação desse hospital na região - defendeu Cabral.
Nesta segunda-feira, governador Sérgio Cabral disse que não se pode generalizar o mau atendimento no hospital, que segundo ele já foi melhorado. Ele afirmou ainda que lá houve bons atendimentos de casos graves, como um homem que chegou ao hospital com um arpão na cabeça e uma garota que estava com o braço dilacerado.
Segundo o coordenador da Comissão de Saúde Pública do Conselho Regional de Medicina, Pablo Queimadelos, a Baixada Fluminense passa por um momento complicado na saúde pública. A instituição deve abrir nesta segunda uma sindicância para apurar o caso.
- É um conjunto de problemas: falta de investimentos, má gestão, condições precárias de equipamentos e um efetivo que não é fixo - disse.
Na última quarta-feira, o chefe da equipe de plantão do hospital foi exonerado. Dois dias antes, Gabriel Paulino dos Santos de Sales, de 21 anos, que havia sofrido uma queda, não conseguira ser atendido na unidade. O jovem, morador de Caxias, sofreu politraumatismo e passou por cinco hospitais até ser internado no Hospital Salgado Filho, no Méier . Ele já respira sem aparelhos, mas seu estado de saúde é grave.
Presidente da Comissão de Saúde da Alerj, o deputado Bruno Correia (PDT) solicitou uma reunião extraordinária do grupo na terça-feira. A comissão, que ainda aguarda documentos da Secretaria estadual de Saúde sobre o episódio de Gabriel, investigará todos os casos recentes ocorridos no Hospital de Saracuruna.
Inaugurado em 1998, o hospital é a maior emergência da Baixada, com 330 leitos.
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