Em 27 de agosto de 1883, uma ilha foi para os ares: a ilha do Vulcão Krakatoa, na Indonésia. Foi enorme a violência da explosão e o mundo se tornou testemunha da catástrofe.
O estrondo causado pelo vulcão pôde ser ouvido a quase 5 mil quilômetros – a distância entre Nova Iorque e Berlim, por exemplo, não é muito maior do que isso. Marés imensas arrebentaram de encontro às costas de quatro continentes. Ainda, a uma distância de 13 mil quilômetros, puderam-se observar vagas levantadas pelo vulcão, ao explodir. A onda de pressão de ar pôde ser percebida até muito mais longe: circundou a Terra, por várias vezes.
O vulcão desapareceu. Onde antes havia um monte de 800 metros de altura, escancarava-se uma cratera de 300 metros de profundidade e vários quilômetros e largura. Após a explosão, blocos de rocha voaram pelo espaço com ímpeto extraordinário. Fragmentos de rocha caíram em um território igual em extensão a toda a França. Quando caiam sobre uma ilha, cobriam o terreno com uma camada que chegava a ter mais de 30 metros de altura. Uma grande parte do vulcão, porém, desfizera-se em pó sob a força da explosão. As massas de poeira foram lançadas a quase 50 quilômetros de altura e giraram durante quase um ano ao redor da Terra, na estratosfera.
Foram por demais comoventes a perda de vidas humanas: 36 mil homens, mulheres e crianças pereceram diante da fúria explosiva do Krakatoa.
Caldeirão dos Titãs Era bem simples a origem da incrível explosão. É perceptível para todo mundo como a tampa de um caldeirão começa a dançar quando se torna excessiva a pressão do vapor dentro dele. O Vulcão Krakatoa era, de certo modo, como um caldeirão – de dimensões gigantescas, é claro.
O fogão embaixo da panela era, nesse caso, uma escavação de centenas de quilômetros de comprimento, dentro da terra, cheia de lava fervente. Esta desenvolveu um calor tão grande que transformou em vapor quente 4 bilhões de litros de água. O vapor exerceu enorme pressão contra as paredes internas “do caldeirão”, até que, finalmente, a “tampa” terminou saltando pelos ares – e com ela todo o caldeirão.
Anak Krakatoa em novembro de 2007: um cronograma bastante regular de pequenas erupções
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Sinais de perigo O Krakatoa fica situado no Estreito de Sunda, entre Java e Samatra. Antes da catástrofe, a ilha tinha uma superfície de 450 quilômetros quadrados. O próprio monte anunciava a erupção iminente. Já meses antes, abria-se em seus flancos fendas das quais se desprendiam densas nuvens de fumaça e vapor. Do interior do monte, despejava-se uma torrente de lava que foi abrindo uma larga vereda queimada por meio do matagal, até a costa do mar.
Em Java e Samatra, os holandeses não perderam a calma, pois Krakatoa era um “velho conhecido”. Muitas vezes a montanha roncara, e nuvens de fumaça eram coisa de quase todos os dias. Um capitão de nome Ferzenaar aportou na Batávia com seu navio, com notícias alarmantes e, ainda assim, ninguém se abalou. “Há, agora, dois novos vulcões em KraKatoa”, informou o capitão. “Os dois estão em atividade.” As pessoas deram de ombros, até porque na Indonésia havia vulcões em grande quantidade e os dois “novos” estavam a 150 quilômetros de distância da Batávia.
“Na praia, o chão estava tão quente que queimei os pés”, relatou Ferzenaar. “Queimava através da sola do sapato.” Alguns argumentaram que, se na ilha, de fato, o chão estivesse tão quente como o capitão dizia, os poucos indígenas que ali viviam fariam melhor entrando em suas canoas e indo para outro lugar qualquer. Mais tarde, quando a praia estivesse esfriado, poderiam voltar. Foi um modo de zombar dos alertas do velho lobo do mar. Foi um erro!
Chuva de cinzas e ronco de trovão O capitão Ferzenaar certamente deve ter sido o último europeu a atracar em Krakatoa antes da grande erupção. A viagem através do Estreito de Sunda se tornara difícil. Alguns navios mudaram sua rota porque a água estava coberta de cinzas. Outros não se incomodaram com isso.
O capitão de um navio mercante americano, por exemplo, chegou a navegar calmamente através do mar coberto de cinzas; e ainda por cima carregava combustível. Por via das dúvidas, mandou fechar hermeticamente todas as escotilhas. Depois dele, ninguém mais teve coragem de arriscar a travessia.
De início, Krakatoa apenas roncara. A seguir, passaram a ecoar constantemente de suas profundezas ribombos ameaçadores, que, finalmente, tornaram- se tão altos que foram ouvidos em toda a costa oriental de Java. Na cidade de Buitenzorg, na Indonésia, distante 100 quilômetros de Krakatoa, todos trataram de se recolher em suas casas para fugir do terrível temporal que estava na iminência de se desencadear.
A outro capitão, R. Verbeek, a história credita outro relato preciso da erupção: “Na tarde de 26 de agosto, o roncar soturno foi interrompido por sucessivas e fortes explosões que se tornavam cada vez mais frequentes e mais violentas. Todos estavam apavorados. Anoiteceu, mas ninguém pensava em ir dormir. De manhã, nada mais se conseguia ouvir além dos estrondos. Pouco antes das 7 horas, houve, de repente, uma ensurdecedora explosão. As casas tremeram; largas rachaduras se abriram nas paredes; portas se escancararam, como que abertas à força por mãos invisíveis. Todos se precipitaram para a rua. Houve novo estrondo e, depois, de súbito, silêncio completo, como se nunca tivesse existido um vulcão.”
A explosãoEfetivamente, não existia mais o Vulcão krakatoa. Sob a pressão dos gases que se expandiam, a lava incandescente achara primeiro uma saída através de duas novas crateras, das quais já falara Fernezaar. Essas crateras eram, por assim dizer, válvulas de segurança. Mas, no interior do vulcão, a pressão se tornara excessiva. As válvulas não eram mais suficientes. Uma força inimaginável se firmara contra a crosta de rocha que se achava acima da caldeira de lava, contra a “tampa” que tinha centenas de metros de espessura.
De início, a rocha ainda ofereceu resistência. Depois, começou a abaular-se. A seguir, em 26 de agosto, arrebentou como a parede arqueada de uma caldeira de vapor.
Urrando, furiosa, a torrente de lava comprimida jorrou, então, do interior da terra, através da fenda, para o alto. Segundos mais tarde, o oceano se despejou no largo buraco aberto. A água se encontrou com a lava candente e, no mesmo instante, transformou-se em vapor superaquecido – e este arrebentou as paredes da cratera. Numa nuvem de fumaça, vapor e rocha despedaçada, gigantescos fragmentos de granito e obsidiana voaram pelos ares. Novamente o mar encontrou acesso e de novo a água fluiu sobre a lava. Formava-se cada vez mais vapor quente e uma barreira de rocha depois da outra ia pelos ares.
Onde estava a velha cratera submersa aflorou novamente um vulcão que, no intervalo de um ano, formou nova ilha mantendo seu cone central como uma “válvula de escape” para as intensas pressões vindas do subsolo marítimo
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A vitória da águaChiando, a água evaporou e a lava avançou. Nova água chegou e transformou- se em vapor. E veio ainda mais lava ardente... Ninguém sabe quantas vezes o oceano correu para dentro do vulcão e quantas vezes foi repelido. Finalmente, porém, a água triunfou sobre o fogo. Na manhã do dia 27 de agosto, o mar irrompeu até o centro da ilha vulcânica.
Todas as explosões anteriores foram apenas um pálido prelúdio comparadas à enorme erupção que aí despedaçou a Ilha Krakatoa em suas profundezas, de dentro para fora, lançando aos céus 60 bilhões de metros cúbicos de rocha. A explosão foi como um horripilante fogo de artifício. De uma distância de muitos quilômetros, os marinheiros do navio inglês Charles Bal viram uma ilha se elevar subitamente acima do horizonte. “Parecia uma gigantesca árvore de natal, com uma brilhante iluminação elétrica”, escreveu mais tarde um dos marinheiros no diário de bordo.
Primeiro, a explosão foi vista, depois, ouvida. Certamente o maior estrondo que atingira, até então, ouvidos humanos. Em Victoria Plains, na Austrália, todos acreditavam que canhões estavam sendo disparados nas vizinhanças – a cidade fica a 2700 quilômetros de Krakatoa. A 4800 quilômetros, na Ilha Rodrigues, perto de Madagascar, e, talvez, ainda mais longe, o estrondo foi ouvido.
Além disso, a explosão produziu ondas de ar de força extraordinária. A primeira, vinda do oeste, atingiu Londres um dia e meio após a erupção; a segunda chegou um segundo mais tarde do Oriente. A primeira onda passou quatro vezes sobre Berlim e Valência; na direção oposta, a onda de pressão retornou três vezes. O vaivém na estratosfera durou 10 dias, só, então, a pressão da explosão perdeu a força.
Ondas marinhas Em Anjer, na costa oriental de Java – a segunda maior e a principal ilha da Indonésia –, vivia um velho capitão de nome Samuel Janson. Todos os dias ele ficava sentado horas a fio junto à praia, observando os ventos e as ondas. No dia 27 de agosto, ele fez uma descoberta: uma nova ilha surgira no mar. Durante um segundo fitou, incrédulo, a ilha. Depois, levantou-se em um salto, fez meia volta e correu depressa: o que ele vira não era ilha nenhuma, mas uma onda, uma muralha de água com 15 metros de altura que se aproximava da costa com impetuosa velocidade.
A muralha d´água varreu instalações portuárias e continuou além, inundando toda Anjer. Rolou em direção à montanha, tudo devastando. Alcançou o capitão em poucos momentos e ele sentira apenas que fora atingido e derrubado por uma viga. Depois, perdeu os sentidos. Quando voltou a si, estava no alto de uma árvore. As roupas lhe tinham sido arrancadas do corpo e apresentava algumas escoriações – milagrosamente, nada mais.
Os outros habitantes da região, em sua maioria, não tinham sido tão felizes. Em alguns lugares, a vaga chegara a uma altura de 30 metros. Dezenas de aldeias foram simplesmente varridas e arrastadas para longe. Milhares de pessoas perderam a vida. A maré tivera tal ímpeto que, na costa de Samatra, arrancou o cruzador inglês Berour de seu ancoradouro, carregando-o terra adentro. O cruzador foi depositado num ponto distante 5 quilômetros da margem, dez metros acima do nível do mar.
A vaga correu, impetuosa, por todo o Oceano Índico. Na cidade do Cabo, a 8.200 quilômetros de Krakatoa, ainda tinha 30 centímetros de altura. Seus derradeiros prolongamentos foram observados no Atlântico, até o Canal da Mancha.
Crepúsculos verdesUma sufocante nuvem de cinza caiu sobre as matas e arrozais da Indonésia. O ar estava tão saturado de cinzas que, na Batávia, ainda durante muitos dias, era preciso manter as luzes acesas de manhã até à noite.
As pedras e cinzas caíram, ora no chão, ora no mar, mas a maior parte da ilha permaneceu por muito tempo no ar. As explosões trituraram as paredes rochosas, reduzindo-as a pó e lançando-as a cerca de 50 quilômetros de altura. Nuvens de pó vulcânicas se mantiveram por meses na estratosfera.
Por toda parte os raios do sol tinham que penetrar através do véu de fumo que lhes fora tecido sobre o Estreito de Sunda. Em Paris, Nova Iorque, Cairo e Londres viam-se, por isso, ocasos verdes, azuis, cor de chumbo ou de cobre. O espetáculo de cores magníficas persistiu durante meses e só começou a empalidecer na primavera de 1884.
O milagre em KrakatoaA ilha estava morta. Nada restara além de alguns quilômetros quadrados de rocha, sobre a qual jaziam montes de cinza. Não havia mais vida em Krakatoa. No momento da explosão, plantas e animais haviam sido transformados em pó e gás. Mas a natureza encontrou um caminho e, na ilha morta, a vida começou a voltar.
Apenas quatro semanas depois da explosão um naturalista, Joseph Costantin, arriscou a visitar a ilha e, em uma colina de entulho, encontrou uma minúscula aranha que fabricava sua teia. Mais tarde, chegou companhia para a aranha e, alguns anos depois, já havia em Krakatoa gramíneas e arbustos. Uma expedição científica encontrou vermes, formigas, cobras e pássaros. Como chegaram em Krakatoa? O vento e os pássaros trouxeram sementes. Répteis e larvas de mosquito foram trazidos pela água. Alguns besouros e borboletas certamente conseguiram voar até lá, vindos de ilhas vizinhas. Cobras e escorpiões chegaram em troncos apodrecidos. Uma vez ou outra também uma serpente píton ou um crocodilo podem ter alcançado a ilha e, com eles, numerosos parasitas.
Só em 1919 as primeiras árvores fixaram suas raízes. Em 1924, formara-se um pequeno bosque. Poucos anos mais tarde, viçosos cipós, inúmeros insetos e pássaros de toda espécie tinham transformado a mata em floresta tropical.
Krakatoa tornou-se o paraíso dos naturalistas. Os holandeses transformaram a ilha em um grande parque de proteção à natureza. Os cientistas, únicas pessoas cujo acesso era permitido, fizeram um levantamento completo de todos os seres vivos na ilha. Registravam meticulosamente os novos animais e as plantas que para ali imigraram. Observaram como os novos habitantes harmonizavam ou lutavam entre si. Não tardaram a encontrar subespécies de pássaros canoros e borboletas que não havia em nenhum outro lugar. Krakatoa criava suas próprias formas de vida, advindas das ilhas vizinhas.
O filho de KraKatoa O velho vulcão não morrera, apesar de tudo. Sob os penhascos devia haver algures uma escavação subterrânea na rocha. Ela se enchera de lava que, de insondáveis profundezas, havia fluído para cima. A lava exercia pressão, o leito do mar se abaulou e assim surgiu uma colina.
Em 26 de janeiro de 1928, a colina alcançara a superfície do mar: surgia uma nova ilha – de poucas centenas de metros, plana, sem vida. As ondas se arrebentavam contra ela, alagavam-na e a arrastavam de novo para dentro do mar. Passou-se mais um ano e, em um dos penhascos da antiga Krakatoa que havia ficado, apareceu um gêiser, um repuxo que expelia pequenas nuvens de vapor e cinza. Vapores de enxofre pairavam sobre a água.
Nesse meio tempo, várias dessas ilhas chatas, lodosas, apareceram e tornaram a desaparecer. O gêiser ainda está lá. Cresceu e desenvolveu-se em um pequeno vulcão. Sua cratera é a válvula de segurança para a pressão de vapor na lava. Não é perigoso atualmente. Os indígenas lhe deram um nome que é tudo, menos tranquilizador: Anak KraKatau – o filho de Cracatoa. Os cientistas não sabem afirmar quando ele vai entrar em erupção crítica, mas já disseram que vai acontecer.
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