sábado, 28 de fevereiro de 2015

Achados arqueológicos no Rio ajudam a desvendar mistérios do século 16

Prestes a completar 450 anos, neste domingo (1º),  a cidade do Rio de Janeiro não tem edifícios de seus primórdios ainda de pé. Nenhuma casa do século 16 sobreviveu às mudanças urbanísticas e à especulação imobiliária dos últimos quatro séculos. Por esse motivo, descobertas recentes no centro da capital fluminense prometem ajudar a revelar segredos ainda escondidos sobre hábitos e costumes desses primeiros habitantes "cariocas".
Em um terreno de 800 metros quadrados, na esquina da 1º de Março com a Rua do Rosário, no centro, arqueólogos encontraram estruturas remanescentes do final do século 16, sob edificações mais novas. Além de cachimbos nativos, louças, cerâmicas e outros materiais de uso cotidiano, arqueólogos encontraram estruturas das estacas que ergueram as casas mais antigas, possivelmente de 1580.
Uma das responsáveis pela pesquisa no local, Jeanne Cordeiro, do Laboratório de Arqueologia Brasileira, explicou que será possível, pelas marcações encontradas, traçar um desenho dessas casas ocupadas a partir de 1580. Naquela época, a 1º de março chamava-se Rua Direita.
"Temos cozinhas, um vaso turco que seria um banheiro precário, quintais fechados, pátios com poço para captação de água. Esse todo nos ajuda a entender esse Rio de Janeiro, o que ele significa e por que nós somos dessa maneira", disse ela, ao lembrar que a maioria das casas daquela época era feita com estuque e coberta com palha e sapê. Poucas tinham telhas. "Eram estruturas muito frágeis. Somente no fim do século 16, início do século 17, começam a construir casas em pedra e cal, mais duradouras."
Ali será construído um edifício do Banco Bradesco. Nos últimos dez anos, a lei determina que toda obra de grande porte deve ter uma equipe durante o processo de escavações para estudo de impacto arqueológico. Algumas das estruturas encontradas ficarão expostas no novo edifício. "O poço, por exemplo, será preservado e ficará no hall do banco, será um espaço de memória", informou.
Jeanne explicou que o sítio pesquisado era um lote só, que se estendia da Rua do Rosário até a da Alfândega. A partir do século 17, por volta de 1623, começou a ser dividido em lotes menores até chegar a sete. Era composto por casas térreas e sobrados com três andares.
Os arqueólogos constataram que uma das casas pertenceu ao nobre português Manuel de Brito, dono de terras, que chegou ao Brasil com Estácio de Sá, fundador da cidade. Documentos apontam que o atual Mosteiro de São Bento ocupa o terreno que ele doou aos beneditinos.  As pesquisas também revelaram que um nativo chamado Martinho índio morou no local. "Mas esperamos, com mais estudos, compreender que tipo de habitação ele possuía", ressaltou Jeanne.
Para a arqueóloga Angela Buarque, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), os achados têm grande relevância histórica, sobretudo, devido à falta de documentos e culturas materiais desse período de formação da cidade.
"A partir do século 18, 19, há muito registro, mas sobre o século 16, em particular para essa ocupação, os dados são precários. A maior parte se perdeu. O registro agora, como está sendo feito, pode trazer no futuro dados fundamentais sobre esse período," comentou. "Existem informações escassas sobre sítios do século 16, não conheço nem uma única publicação de arqueologia sobre o centro do Rio de Janeiro que abarque o século 16", informou ela.
A arqueóloga lembrou que um incêndio na antiga Câmara dos Vereadores em 1790 destruiu a maior parte do acervo daquela época. "Esses achados [na 1º de Março] acabam suprindo carências desses dados primários, desses documentos que foram destruídos."
Outro aspecto interessante sobre o sítio arqueológico da 1º de Março, segundo ela, é o fato de que no terreno há camadas de diferentes períodos históricos que revelam as diferentes ocupações e as transformações no espaço de viver.
Angela ressaltou que pouco se sabe sobre o episódio em que grupos indígenas Tupi ajudaram os portugueses a expulsar os franceses da região, na segunda metade do século 16. O cacique Arariboia, líder de uma dessas tribos, ganhou dos portugueses terras onde hoje se encontra Niterói, cidade na região metropolitana fundada por ele. "Antes, esses grupos viveram na região do centro do Rio. A cultura material tem ajudado a esclarecer esse momento histórico", completou.
Flavia Villela
Da Agência Brasi

Pastor de Igreja ganha 31 milhões na mega sena e desaparece com a família


Fiéis acusam pastor de jogar na Mega com o dinheiro da igreja


Membros da Igreja Assembléia de deus vão entrar na justiça contra o pastor que ganhou 31 milhões na mega sena. Segundo os irmãos ele fazia o jogo com o dinheiro dos fiéis e deveria reportar o valor ao grupo de congregado. 

A causa está sendo protocolada na justiça e pede a divisão do valor ou os 10% do valor que ele deveria deixar na igreja referente ao dízimo. Um a manifestação passiva foi feita em frente a igreja semana passada.


Em nota a liderança da igreja informou que esse assunto não tem relação com a igreja e orienta aos membros a continuarem firme no propósito da salvação e não focarem nisso e que cada um prestará conta a Deus.


Entenda o caso


Um Pastor evangélico, identificado como Bruno Monteiro Fortuna, da igreja Assembleia de Deus Monte Sião, é o dono do bilhete da aposta feita em Teresópolis (RJ), ele acertou as seis dezenas do concurso 1.480 da Mega-Sena, e levou o prêmio de R$ 31.618.202,79. Depois 80 dias ele sacou o dinheiro.

Segundo informou a caixa o Pastor fez o saque e afirma que nunca havia apostado, mas recebeu uma revelação em sonho, em que ele via os números que o fariam prosperar na terra.

Ao acordar, não pensou duas vezes, correu até uma casa lotérica, e fez sua aposta. Ao conferir o resultado do sorteio, a suposta "Revelação" se confirmou.

Os números sorteados foram os mesmos que ele havia apostado: 09 - 14 - 21 - 26 - 36 - 52. Portanto, ele ganhou sozinho o prêmio de mais de 31 Milhões e seiscentos mil Reais. 

A igreja em Teresópolis está sob os cuidados do segundo dirigente, uma vez que o pastor Bruno Monteiro fugiu com a família. A direção da Assembléia de Deus informou que está providenciando um novo ministro para assumir a direção da igreja e espera que o novo milionário congregue a igreja central da AD. 

Membros da igreja acreditam que essa informação de revelação foi um meio que ele usou pra não sujar a imagem diante dos fiéis e atribuir a Deus o prêmio do jogo.

Alguns acreditam que o pastor deveria retornar e abençoar os irmãos porque segundo os membros ele sempre cobrava o dízimo, mas ganhou e não deixou um real.

Fonte: SBT

Judô: Brasil conquista quatro medalhas nos Abertos Europeus

A seleção brasileira de judô chegou para cinco disputas por medalhas neste sábado, 28, nos Abertos Europeus de Praga (feminino) e Varsóvia (masculino). Alex Pombo (73kg), Eric Takabatake (60kg), Rochele Nunes (+78kg) e Samanta Soares (78kg) subiram no pódio, conquistando quatro medalhas para a seleção brasileira. Mais seis atletas entram no tatame neste domingo, 29, para o último dia de competições da disputa masculina na Polônia.
O primeiro a garantir medalha foi o ligeiro Eric Takabatake. Ele foi derrotado na semifinal contra Diyorbek Urozboev (UZB), mas se recuperou na disputa do bronze contra Ahmet Sahin Kaba (TUR), conseguindo pontuar com waza-ari para superar o adversário. "Fico feliz com o bronze. Me senti muito bem no dia de hoje e isso me ajudou muito. Apesar disso, ainda acredito que poderia ter ido até mais longe", afirmou Eric.
Em seguida, foi a vez de Alex Pombo (73kg) colocar o Brasil no pódio de novo. Ele também se recuperou de uma derrota na semifinal para o sul-coreano Changrim An e conseguiu um belo ippon sobre Artem Khomula (UKR) na luta pelo terceiro lugar.
Já o feminino levou três atletas para as disputas por medalhas e terminou a competição com um bronze e uma prata. O destaque ficou por conta da meio-pesado Samanta Soares, que encarou a vice-campeã olímpica Gemma Gibbons (GBR) na final da categoria, numa luta duríssima onde a brasileira acabou perdendo por waza-ari e ficando com a prata. Rochele Nunes (+78kg) foi a quarta atleta do dia a subir no pódio graças a um waza-ari na disputa pelo bronze com a alemã Carolin Weiss, .
“Samanta e Rochele estão de parabéns pelas medalhas, mas principalmente pelo caminho até chegar ao pódio.” Avaliou a técnica da seleção feminina, Rosicléia Campos, lembrando também do desempenho de outra pupila, a médio Bárbara Timo, que perdeu a disputa do bronze para Linda Bolder (ISR). “A medalha não chegou, mas a Bárbara fez excelentes lutas”, complementou Rosi que, junto com o técnico Mario Tsutsui acompanha as meninas na República Tcheca.   
Outros oito judocas brasileiros competiram neste sábado, mas não conseguiram chegar às finais. No domingo, entram no tatame Leandro Guilheiro (81kg), Felipe Costa (81kg), Eduardo Bettoni (90kg), Rafael Buzacarini (100kg), Luciano Corrêa (100kg) e Walter Santos (+100kg) para o segundo e último dia do Open de Varsóvia. Em Praga, as disputas se encerraram neste sábado. As equipes deixam a Europa rumo ao Brasil na próxima segunda-feira.

Linha erótica para evangélicos tem vibrador líquido e gel 'virgem de novo'

Conquistar o direito de sentir prazer sexual – dentro do casamento entre homem e mulher, é claro – é o novo desafio da vanguarda evangélica após o abandono do modelo coque/saia e a criação do funk gospel. Para João Ribeiro e Lídia Ribeiro, membros da Congregação Cristã, uma das mais tradicionais do País, isso significa mais: ter um espaço nas prateleiras dos sexshops para produtos evangélicos. Eles apostam suas fichas na criação de uma linha voltada exclusivamente para o público religioso.

A procura de itens eróticos para apimentar a relação não é novidade no meio gospel. O iG mostrou que óleos de massagens e vibradores líquidos estão entre os produtos mais procurados pelos fiéis em sexshops. Mas o uso ainda é debatido dentro das igrejas. Para superar o tradicionalismo, os empresários tratam a nova linha, batizada In Heaven, como “novo segredo de um casamento feliz”. Os produtos serão lançados na 22ª Erótika Fair, principal feira do mercado erótico, realizada em São Paulo, entre 6 e 8 de março.

Casal Lídia Ribeiro e João Ribeiro, membros da Congregação Cristã e criadores da linha In Heaven
Carolina Garcia/iG São Paulo
Casal Lídia Ribeiro e João Ribeiro, membros da Congregação Cristã e criadores da linha In Heaven

“O nosso stand [da feira] será dividido entre céu e inferno”, brinca Ribeiro, já que a linha dividirá espaço com produtos inspirados na trilogia "50 Tons de Cinza", que explora o sadomasoquismo e promete ser um dos temas mais explorados no evento.
O rótulo discreto em branco com uma pomba dourada, clássico símbolo cristão, dá certo tom divino aos quatro primeiros produtos da In Heaven (No céu, em inglês). São eles: Pure (adstringente, que promove a sensação "virgem de novo"), Vibe (vibrador líquido), Mais Prazer (excitante feminino) e Mais Tempo (prolongador de ereção).

Ribeiro conta que a inspiração do nome veio da música "Cheek to Cheek", versão cantada por Ella Fitzgerald, ícone do jazz nos EUA. Ele acredita que a linha terá a mesma função da canção, "resgatando o romantismo entre os casais apaixonados".
Com embalagem discreta, produtos da In Heaven leva ainda uma pomba dourada, clássico símbolo cristão. Foto: Carolina Garcia/iG São Paulo
Quatro produtos da linha serão lançados na Erótika Fair. O Viber é um vibrador líquido... Foto: Carolina Garcia/iG São Paulo
...o Pure (adstringente) promete efeito 'virgem de novo'. O preço sugerido é de R$ 15 cada. Foto: Carolina Garcia/iG São Paulo
O Mais Tempo é um prolongador de ereção. 'Muitos homens enfrentam esse problema na igreja e têm vergonha', diz Ribeiro. Foto: Carolina Garcia/iG São Paulo
Mais Prazer é um excitante feminino e deixa a região íntima mais sensível ao toque. Foto: Carolina Garcia/iG São Paulo
João Ribeiro e Lídia Ribeiro trabalham um ano para criar o conceito do Projeto Gospel para sexshops. Foto: Carolina Garcia/iG São Paulo
Alessandra Seitz, da INTT Cosméticos, acredita que In Heaven estimulará criação de novas linhas segmentadas. Foto: Carolina Garcia/iG São Paulo
“A ideia principal é que o casal se sinta à vontade para comprar e tenha a certeza de que não está sozinho. Não há motivo para vergonha. Somos 52 milhões de evangélicos no Brasil e não tínhamos uma linha específica”, explica Ribeiro, que ao lado da mulher comanda a sexshop Secret Toys, em Jandira (SP).

Produzidos e distribuídos pela INTT Cosméticos, a linha deve alcançar 20 itens nos próximos três meses. A diretora da marca, Alessandra Seitz, reconhece que apesar de fortes consumidores, os evangélicos não contavam com representação no mercado erótico. “Muitas vezes eles querem o produto, mas não compram porque tem uma algema no rótulo, por exemplo. Promover essas mudanças é uma forma de respeito com o consumidor evangélico”, defende.


Cada bisnaga tem o preço sugerido de R$ 15 e deve estar disponível aos clientes ainda em março. Além da nova roupagem, os produtos contam com cheiro, princípios ativos e gosto mais suaves se comparados aos outros produtos eróticos do mercado. Para Alessandra, que não é evangélica, a nova linha deve incentivar outras empresas a produzirem linhas segmentadas. "Não dá para ignorar a força deles", justifica.  

O lançamento faz parte do Projeto Gospel, uma força-tarefa evangélica realizada pelo casal em parceria com a Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual (Abeme). Na feira, o livro Guia Gospel para Sexshops será vendido aos lojistas para promover o surgimento de lojas eróticas especializadas, com atendimento especial a religiosos.

Já nas igrejas evangélicas, os autores do livro planejam percorrer encontros de casais, dar palestras e esclarecer o que a cosmética sensual pode fazer ao casamento. “Vamos discutir sexo e isso será feito de evangélico para evangélico. Não vamos mais ficar fora dessa”, conclui Ribeiro.

Rio, 450 anos: Cinco grandes desafios para o futuro

Foto: Thinkstock

BBC Brasil convidou cinco especialistas para comentar os atuais problemas e principais desafios da cidade

Ao completar 450 anos neste domingo, o Rio de Janeiro registra avanços e enfrenta desafios que se arrastam há décadas.
A ex-capital, considerada o cartão-postal do Brasil para o mundo, tem um mercado turístico que segue em crescimento, mas ainda enfrenta problemas de saneamento básico, violência, mobilidade urbana e infraestrutura turística.
A pouco mais de 500 dias da Olimpíada, o Rio é um grande canteiro de obras, com expansão do metrô, construção de BRTs (corredores de ônibus), VLTs (bondes de superfície), túneis e duplicação de estradas, além das instalações olímpicas.
A BBC Brasil selecionou cinco áreas e convidou especialistas para comentar os problemas atuais e desafios futuros da cidade.
Veja os principais trechos das entrevistas:

1) IMPACTOS E LEGADO DOS GRANDES EVENTOS



O geógrafo americano Christopher Gaffney viveu os últimos seis anos no Rio de Janeiro analisando os impactos dos grandes eventos sobre a cidade. Suas pesquisas e análises foram destacadas na mídia brasileira e internacional e seu trabalho de pós-doutorado na Universidade de Zurique tem como tema o legado e os problemas da Copa do Mundo e da Olimpíada para os cariocas.
BBC Brasil – Quais são os principais impactos e o legado que a Copa e as Olimpíadas deixarão para o Rio de Janeiro?
Christopher Gaffney – Na minha visão o legado principal é uma cidade mais cara, mais excludente, mais fragmentada e mais privatizada. É a consolidação da ordem de poder na cidade. Há obras de mobilidade, mas faltou entender o transporte associado à moradia e ao trabalho. A Zona Sul e o Centro ainda concentram 60% de todos os empregos no Rio, e poderia ter havido mais investimentos em moradias acessíveis na região central ou em trens para o subúrbio. Há uma ciclovia que ligará o Leblon à Barra, mas ao longo dos BRTs que levam à Zona Norte, não. Estamos pensando em projetos de turismo ou mobilidade urbana?
Teríamos tido um legado maior caso a Olimpíada tivesse sido concentrada na Ilha do Fundão, onde está a UFRJ, como previa o primeiro projeto. Teria havido alterações mais profundas, com impactos positivos para os mais pobres. Isso teria significado mais transportes na Baía de Guanabara, um modelo mais inclusivo de integração com os bairros do entorno e com a Zona Norte, como o Complexo do Alemão, Caju, Complexo da Maré, até mesmo a Baixada Fluminense, além de uma ligação de metrô com o centro da cidade. Focando na Barra, estamos reforçando a lógica vigente, a divisão entre periferia e bairros nobres.
BBC Brasil - O Rio tende a ganhar ou perder com os grandes eventos?
Gaffney – Eu diria que, para a maioria da população, a tendência é perder mais do que ganhar, por diversas razões. O carioca mais uma vez mostrou-se capaz de organizar grandes festas, mas a que preço?

Especialista acha que o Rio está mais 'fragmentado e privatizado'

A normalidade foi suspensa, com os feriados em dias de jogos, e reforçou-se a ideia de uma sociedade militarizada, que não entende as demandas dos mais pobres. Houve diversas polêmicas, remoções, dentre outros problemas. Os grandes eventos têm um lado festivo, que leva ao orgulho e ao patriotismo, mas têm também um lado perverso.
Nessa lógica perversa inclui-se a consolidação de medidas de exceção na segurança pública, por exemplo. E isso também aconteceu em Vancouver e Londres. Os grandes eventos não alteram de forma sustentável a lógica da segurança pública, com transformações de longo prazo. Ao contrário, estimulam a criação de soluções imediatistas e de exceção, cuja tendência é se tornarem permanentes, inclusive na legislação.
Além disso, a percepção de ganhar ou perder está atrelada à posição geográfica e à classe social de cada um.
BBC Brasil – O que o Rio pode tirar de lição para o futuro com a Copa e a Olimpíada?
Gaffney – Em grandes eventos, os benefícios são pagos por todos e distribuídos a poucos. Por isso, seria imprescindível atentar mais para a importância de haver consultas públicas. A população deveria ter uma influência muito maior sobre os planos olímpicos. Também é importante rastrear e monitorar o uso do dinheiro público, o que é muito difícil no Brasil. O cidadão deveria ser mais ativo, participar mais desses processos, porque não adianta reclamar só depois que já está tudo finalizado.__

2) SEGURANÇA PÚBLICA


Domínio de grupos criminosos sobre alguns territórios está entre os principais problemas de segurança pública

Pesquisador do Laboratório de Análise da Violência da UERJ, o sociólogo espanhol Ignacio Cano vive no Rio há mais de 15 anos e vem acompanhando o cenário de segurança pública na cidade, com diversos livros e artigos publicados, entre eles estudos sobre as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora).
BBC Brasil – Quais são os principais problemas atuais em questão de segurança pública no Rio de Janeiro?
Ignacio Cano – Os maiores problemas no momento são o elevado número de homicídios, os roubos também muito elevados e o domínio de grupos criminosos sobre alguns territórios.
BBC Brasil – Qual é o momento atual das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) e como o projeto de pacificação pode se desenvolver no futuro?
Cano – As UPPs enfrentaram uma grave crise e agora passam por reavaliação, mas a situação ainda é muito delicada. O programa de pacificação encontra-se num momento difícil, e o cenário não é muito favorável. Vamos ter que ver como evolui até 2016 e, se a trajetória até lá for negativa, a situação pós-Olimpíada pode ser complicada, com a já esperada diminuição do foco de atenção a essas iniciativas e, por consequência, dos recursos disponíveis.
No Complexo da Maré o Estado terá que assumir, e ainda não sabemos o que irá acontecer. Trata-se de um teste, uma grande oportunidade. Por um lado pode-se mostrar algo diferente, integrando mais a população. Por outro, pode-se reproduzir o desastre ocorrido no Complexo do Alemão, com tiroteios constantes, numa situação em que as pessoas praticamente não se beneficiaram da pacificação. Há o risco de a Maré se tornar um novo Alemão.
BBC Brasil – Quais devem ser os impactos dos grandes eventos sobre a segurança pública no Rio? E quais devem ser as preocupações para o futuro?
Cano – Os grandes eventos não alteraram fundamentalmente o panorama de segurança pública no Rio. O que mais trouxe alterações foi a UPP, no sentido de mudar as favelas da Zona Sul, mas nem Copa nem Olimpíadas vão alterar crucialmente as características da cidade. Não existe mais essa expectativa.
Quanto ao futuro, as preocupações deveriam ser tentar fazer uma cidade mais integrada e menos segregada, melhorando os índices de homicídios e tornando-se um território só, integrado. Os investimentos deveriam estar focados realmente na redução dos homicídios e na recuperação de territórios.
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3) MOBILIDADE URBANA


A mobilidade urbana é um dos principais temas em debate no Rio

Carioca, o arquiteto e urbanista Pedro Rivera é o diretor do Studio-X Rio, uma rede global da Universidade de Columbia, nos EUA, cujo objetivo é repensar o futuro das cidades, com unidades em Amã, Nova York, Mumbai, Pequim, Tóquio, Istambul e Johannesburgo, além do Rio de Janeiro.
BBC Brasil – No que o Rio ainda está errando em matéria de mobilidade urbana, mais recentemente?
Pedro Rivera – A principal questão em mobilidade urbana hoje em dia é como fazer a pessoa migrar do carro para o transporte público. A demolição do elevado da Perimetral, no centro do Rio, é um bom exemplo disso. Sou totalmente a favor, mas usaram milhões para construir um túnel subterrâneo, quando esse dinheiro deveria ter sido usado para desenvolver mais opções de transporte coletivo. Mais BRTs, mais barcas, mais VLTs. Esse deveria ter sido o recado, a prioridade, e não o carro, mais uma vez. Também precisamos investir mais em ciclovias, na bicicleta como meio de transporte.
Nós destruímos nossas cidades para acomodar o carro, visando o transporte individual como prioridade, abrindo estradas e grande avenidas. Agora o desafio é retomar este espaço para a coletividade.
BBC Brasil – Quais são suas principais sugestões para o futuro do Rio em termos de mobilidade urbana?
Rivera – Uma das questões mais importantes é o estacionamento no centro expandido da cidade. As pessoas acham que têm o direito de estacionar na rua, mas na verdade trata-se de um privilégio. Quando eu estaciono meu carro na rua, estou usando um espaço que é de todos, para o meu benefício individual.
A partir disso, defendo que estacionar na rua seja proibido em todo o centro expandido (incluindo Botafogo, Tijuca, Glória). A cidade precisa ter uma política de estacionamento em via pública. Quantas vagas existem? Qual nossa é a meta? Qual é a política tarifária? É preciso começar a pensar o estacionamento no centro das grandes cidades como forma de reduzir o número de carros.
BBC Brasil – Você ajudou a criar um projeto de ciclovias para o centro da cidade que foi aceito pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB). O que diz esse plano?
Rivera – As ciclovias do Rio são muito lineares. Na orla, na Lagoa, falta capilaridade, ruas do interior dos bairros também precisam ter as ciclovias. Nosso projeto prevê isso, a criação de uma malha cicloviária no centro da cidade. O custo está estimado em R$ 6 milhões, e o documento foi entregue ao prefeito na metade do ano passado. Recebemos o compromisso de que seria executado, e as obras já começaram.
A ideia é que as ciclovias se conectem às estações de metrô, barcas, à Central, e demais modais. A ciclovia precisa deixar de ser secundária, e tornar-se um investimento de prioridade, visto com importância. São no total 33 quilômetros de malha cicloviária no centro do Rio, que ajudarão a locomoção e a integração com os outros modais.
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4) SANEAMENTO BÁSICO/DESPOLUIÇÃO


Especialista diz que ausência de política pública favorece ocupação desordenada e lançamento de esgoto na Baía de Guanabara

Um dos mais respeitados estudiosos da Baía de Guanabara e do sistema de lagoas do Rio de Janeiro, o biólogo Mario Moscatelli acompanha há anos o panorama de saneamento básico e poluição na capital fluminense e mantém análises constantes do setor.
BBC Brasil – Quais são os maiores problemas do Rio de Janeiro em termos de saneamento básico e poluição atualmente?
Mario Moscatelli – Neste momento os principais problemas são a falta de políticas públicas para a habitação que sejam mais permanentes e constantes. Isso favorece uma ocupação desordenada do terreno da cidade, gerando o esgoto irregular, que acaba indo para as praias, lagoas, e para a Baía de Guanabara. E onde existe a ocupação ordenada, como na Barra, por exemplo, o poder público às vezes demora em instalar o saneamento básico. Do ponto de vista ambiental, rios, Baía de Guabanara e sistema de lagoas estão poluídos e pagam o preço de toda esta situação.
O Rio é uma cidade do século 21 com saneamento básico do século 18. E não são só as favelas que despejam esgoto no ambiente não. Na região metropolitana não há quase nenhum rio vivo, viraram todos valões de esgoto. Há despejo de esgoto no costão de São Conrado e na enseada de Botafogo, e Copacabana tem problemas quando chove. Flamengo tem influências da Marina da Glória e do rio Carioca, Ipanema e Leblon recebem esgoto do Jardim de Allah e o Leblon especificamente do canal da rua Visconde de Albuquerque. Na Barra, há problemas do Quebra Mar ao Pepê e ainda a contaminação pelas lagoas. Ou seja, todos bairros de classe média. São rompimentos de canos, conexões clandestinas e falta de saneamento mesmo.
BBC Brasil – Do que depende o futuro do saneamento básico no Rio?
Moscatelli – De forma geral as melhorias dependem de políticas permanentes e eficientes de habitação, controle da ocupação urbana em áreas ambientalmente sensíveis, programas de saneamento básico eficientes e a recuperação ambiental do que foi destruído. Ao longo das últimas décadas os recursos nunca faltaram e também não faltarão no futuro, o que falta para tudo isso se tornar realidade é vontade política.
Programas sérios de expansão do saneamento básico surtiriam efeito a longo prazo. São políticas de Estado, de 15 a 20 anos de duração. Mas o problema é que temos uma classe política desconectada da realidade e uma sociedade que quase não cobra nada.
BBC Brasil – Um dos grandes temas no momento é a despoluição da Baía de Guanabara antes da Olimpíada. Como você vê as ações na área?
Moscatelli – As Olimpíadas foram um motivo de esperança no que diz respeito a saneamento básico e despoluição da baía e das lagoas do Rio. Eu fui um dos que acreditou nisso. Mas agora, a pouco mais de 500 dias dos Jogos, eu já vejo que é um setor onde dificilmente haverá avanços, infelizmente.
Sobre o compromisso dos organizadores de limpar 80% da Baía de Guanabara, a solução a curto prazo teria sido a instalação de mais UTRs (Unidades de Tratamento de Rio), blindando, impedindo que estes rios levem esgoto e lixo para dentro da baía, e à medida em que a rede de saneamento básico fosse sendo instalada, num período de 15 a 20 anos, elas seriam desativadas. Mas agora, com tão pouco tempo, provavelmente instalarão ecobarreiras, que são como peneiras, nestes rios, para um efeito mais imediato. Quanto às lagoas da Barra, há dinheiro, projetos e empresas licitadas, mas há entraves agora por questionamentos às obras.
5) TURISMO

Professor da FGV sugere mais sinalização para turistas no Rio

Cesar Cunha Campos é diretor da FGV Projetos, unidade de extensão e pesquisa da Fundação Getúlio Vargas que, dentre outras coisas, produz estatísticas e estudos para o Ministério do Turismo.
BBC Brasil – Nas pesquisas desenvolvidas pela FGV, quais são as principais queixas e elogios dos turistas ao Rio de Janeiro?
Cesar Cunha Campos – Ao entrevistar os turistas, percebemos que as maiores reclamações são quanto à limpeza, violência e o idioma, já que quase ninguém fala inglês ou espanhol. Apesar de ter havido avanços em segurança, os assaltos e a violência ainda assustam muito, sobretudo quando acontece algo com estrangeiros, como o turista que foi morto no Carnaval. Quanto aos elogios, os principais são as praias, o Carnaval e o Cristo Redentor como o grande símbolo do Rio. O Cristo e a praia de Copacabana ainda são inigualáveis no imaginário do turista estrangeiro.
BBC Brasil – No que o Rio poderia avançar nos próximos anos como destino turístico internacional?
Cunha – Precisamos investir mais em sinalização, em placas que orientem os turistas no trânsito e dentro de aeroportos, por exemplo, em português, inglês e espanhol, no mínimo, além de treinar mais pessoas nestes idiomas. Falta explicar ao turista como fazer as coisas. Ônibus, metrô, bilhetes, máquinas, como comprar ingressos. Tudo isso precisa ser modernizado.
Também falta estacionamento, vagas subterrâneas como em grandes cidades, como Paris, por exemplo. Em termos de vagas de hotéis até acho que estamos crescendo num bom ritmo, mas faltam mais hostels para acomodar os turistas mais jovens. Sempre comparamos o Rio com Londres, Paris e Nova York, e temos muito a melhorar. Mas ao lado de lugares como Buenos Aires e Cidade do México estamos muito bem posicionados.
BBC Brasil – Quais devem ser os principais impactos da Olimpíada para o Rio?
Cunha – O impacto de um grande evento como esse para o Rio é maior do que para destinos como Londres e Paris, onde já há uma infraestrutura de turismo mais consolidada e muita credibilidade internacional. Contando que tudo dê certo e que seja um sucesso, teremos aproveitado a oportunidade de mostrar o Rio para todo o mundo, prospectando novos turistas. Neste ponto haverá um grande legado, atraindo mais feiras, eventos e atividades de negócios. Haverá um reflexo adicional para o Amazonas e o Nordeste, destinos para onde o estrangeiro que vem ao Rio costuma ir também.
Haverá um legado em termos de mobilidade urbana. Metrô, VLTs, BRTs, duplicação da estrada da Joatinga, temos uma série de obras em curso que beneficiarão o turismo na cidade. Espero que surjam mais hostels, já que o perfil do turista olímpico, de acordo com as nossas pesquisas, e muito mais jovem do que o da Copa do Mundo. Gastam menos, mas ficam mais tempo, têm perfil mais diversificado. Os próprios atletas tornam-se turistas ao fim dos Jogos.

Papa diz que dinheiro é 'esterco do diabo'


As críticas do papa aconteceram neste sábado em um discurso para a associação de movimentos cooperativos italianos  Foto: Max Rossi / Reuters
As críticas do papa aconteceram neste sábado em um discurso para a associação de movimentos cooperativos italianos 
Foto: Max Rossi / Reuters
O papa Francisco disse neste sábado,  durante audiência no Vaticano, que "o dinheiro é esterco do diabo", acrescentando que, quando o capital se torna um ídolo, ele "comanda as escolhas do homem".
Segundo o Papa, é preciso "lutar contra a prostituição das cooperativas que enganam a população, como um homem bom, por motivos de lucro" e pediu que seja promovidas a "economia da honestidade".Declaração foi feita ao receber em audiência a Confederação de Cooperativas italianas (Confcooperative). Ele recebeu representantes de cooperativas das áreas de agricultura, indústria, comércio, pesca, imobiliário, entre outras, que encheram a Sala Paulo VI.
"A economia cooperativa sim é autêntica, se quer levar adiante uma função social forte, deve perseguir finalidades transparentes e límpidas, promover uma economia de honestidade".
"Fé e identidade são a base de tudo isso", disse, em discurso improvisado. "Sigam adiante, caminhem juntos com todas as pessoas de boa vontade. Esta também é uma chamada cristã, uma chamada cristã a todos".
AnsaBoomerang