Cientistas que estudam o sono afirmam que muitas das visões angelicais e outros encontros religiosos descritos na Bíblia provavelmente são “produtos de sonhos lúcidos espontâneos”.
Em um estudo americano, 30 voluntários foram instruídos a realizar uma série de exercícios antes de acordar, ou exercícios de lucidez durante a noite, para que tivessem experiências extracorpóreas com anjos. Metade obteve sucesso.
Para ser mais específico, os voluntários tiveram que tentar recriar a história de Elias, o profeta que está no Tamuld, na Bíblia e no Alcorão. Em uma das histórias no Livro dos Reis, da Bíblia, Elias foge para o interior e dorme sob um junípero (uma árvore), exausto e pronto para morrer. Subitamente, um anjo o chacoalha e o manda comer. Ele olha em volta e, para sua surpresa, vê um pedaço de pão assado e uma jarra de água. Ele come e volta a dormir.
O líder da pesquisa, Michael Raduga, afirma que esse evento foi escolhido entre muitas outras passagens bíblicas que envolvem visões durante a noite porque “em termos de resultados verificáveis, anjos são a escolha ideal, já que a cultura ocidental oferece uma imagem bem estabelecida (asas, roupas brancas, auréolas)”.
A pesquisa, que ainda não foi publicada, oferece suporte para outros pesquisadores de visões religiosas. Mas vale lembrar que muitos encontros com anjos, descritos nos livros religiosos, aconteceram durante o dia, o que sugere que poderiam não ser sonhos.
Sonhando com Elias
Durante as quatro semanas do estudo, 24 dos participantes afirmaram ter pelo menos um sonho lúcido. Eles foram instruídos a tentar se “separar do corpo” toda vez que estavam semiacordados ou acordados durante a noite. Se eles conseguissem sonhar que haviam se separado do corpo, deveriam procurar por anjos em suas casas. Se não conseguiam ter a experiência, podiam voltar a dormir e tentar na outra noite.
15 dos 24 participantes que tiveram sonhos lúcidos afirmaram conseguir recriar a história do profeta durante suas experiências de sonho, em parte ou completa. 9 conseguiram sonhar com a comida e o anjo, enquanto 6 sonharam apenas com o anjo.
Raduga, que possui alguns livros práticos de como ter sonhos lúcidos, criou o experimento para testar sua teoria de que muitos dos encontros milagrosos são decorrentes desse estado de sonho real. Se ele conseguisse fazer com que as pessoas tivessem esse tipo de experiência religiosa realística, poderia provar que eles são apenas produtos da imaginação.
Encontros angelicais
Aqueles que tiveram sucesso em enxergar anjos descreveram os encontros para os pesquisadores. Um deles, identificado como Anton M., recorda uma das vezes em que conseguiu se separar do corpo: “Eu deixei meu corpo e chamei meu ‘guia’, e ele veio na forma de um anjo. Eu pedi para ele algumas bolachas e água. Ele logo me deu. Eu comi tudo, experimentando cada sensação do paladar com satisfação. Eu retornei para meu corpo e logo adormeci”.
Apesar do trabalho do grupo de Raduga não ter sido revisado ou publicado ainda, outros pesquisadores acham os resultados interessantes e sugestivos.
Hobson afirma que a ideia dos encontros religiosos como sonhos lúcidos não é nova. “Willian James, o grande e muito tolerante filósofo-psiquiatra, escreveu um livro em 1912 com o título ‘Variedades de Experiências Religiosas’, no qual ele afirma que muitas visões eram provavelmente aparições em sonhos”.
“E há também a história de Emmanuel Swedenborg, professor sueco, que ficou sem dormir, e não demorou muito para que anjos aparecessem e dissessem para que ele fundasse a Igreja da Nova Jerusalém”, comentou Hobson.
Já Ursula Voss, professora de psicologia dos sonhos e do sono na Universidade de Bonn, na Alemanha, concorda que alguns encontros religiosos são produtos da mente humana, “mas teorias diferentes também são possíveis”. Se as visões são fruto da imaginação, ela argumenta que eles não aconteceriam durante um sonho lúcido, mas seriam exemplos de “alucinações hipnagógicas”, que acontecem pouco antes da pessoa dormir, quando o cérebro está mais apto ao poder das alucinações.
Brigitte Holzinger, psicóloga que não esteve envolvida no estudo, afirma que muitas histórias bíblicas aconteceram durante o dia; assim, provavelmente não foram sonhos.
“O que podemos aprender com isso é que precisamos de uma definição melhor para sonhos lúcidos, e a partir daí distinguir eles de outras formas de transe, visões e até alucinações”, diz.[LiveScience]
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