Escola será a quarta a se apresenta no domingo (19), na Sapucaí.
No lugar de sprays e silk, pincéis e giz de cera. A escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel, do Grupo Especial do Rio de Janeiro, promete inovar no carnaval deste ano levando fantasias coloridas a mão para contar o enredo 'Por Ti, Portinari. Rompendo a tela, a realidade', do carnavalesco Alexandre Louzada. As inspiração veio das obras do artista.
Em busca do sexto título do carnaval carioca, o último foi em 1996, com o enredo “Criador e Criatura”, do então carnavalesco Renato Lage, a verde e branca vai apostar num desfile luxuoso e com alegorias grandiosas, como o abre-alas, que vai trazer várias estrelas e será todo iluminado, com efeitos especiais, resgatando a tradição hightech da escola.
A alegoria, aliás, promete chamar a atenção não só pelo seu estilo futurista. Apesar das lâmpadas LED e do prata predominante, Louzada explicou que o carro terá um toque poético. Segundo ele, é como se Portinari descesse com um cometa, trazendo várias estrelas para se unir à estrela da Mocidade. Na Sapucaí, será possível ver o carro se iluminar de verde no meio do desfile.
As pinturas em lápis de cera se misturam a cristais, plumas e paetês, dando um efeito artesanal e detalhista ao carnaval da Mocidade. Alexandre Louzada explicou que muitas telas do pintor Cândido Portinari foram feitas com giz de cera, menos tóxico do que as tintas, por isso ele quis fazer essa referência nas roupas dos 3,5 mil componentes e na bateria dos mestres Bereco e Dudu.
“Tem esculturas que eu utilizo o pincel mesmo para dar aquela coisa de Portinari, pincelada sobre pincelada, a cor que não existe, a cor fabricada. Eu tenho um setor inteiro com fantasias com detalhes pintados a lápis, os carros também vão utilizar essa técnica, como as pinceladas no setor dos retirantes, para dar aquela dramaticidade que ele exagerava na obra”, explicou Louzada.
Para Louzada, o maior desafio é trazer o verde, uma das cores do Mocidade, ao enredo. Segundo ele, o azul era característico nas pinturas de Portinari, e a saída foi criar novas texturas com diferentes quadros. Conhecido por seus carnavais luxuosos e detalhistas, Alexandre Louzada disse que vai investir num carnaval mais clean, para respeitar cada momento da vida do homenageado.
Espantalho como autorretrato
Os medos e sonhos de Portinari serão representados no início do desfile, que vai contar a infância rural do pintor. De acordo com Alexandre Louzada, o destaque deste setor ficará por conta da presença do espantalho, considerado pelo pintor o seu autorretrato. No entanto, ao mesmo tempo, o menino Portinari se espantava com o boneco, revelando os seus medos e pesadelos. Um contraste desconhecido e que promete emocionar o público na Avenida.
“Eu já entro direto na infância rural de Portinari, as plantações e o gado. O espantalho é uma figura muito representativa das obras dele. Ele até dizia em alguns momentos que o espantalho era o seu autorretrato. Ele se via talvez ali no meio do nada, solitário, esperando alguma coisa, ou deslumbrando alguma coisa, olhando para o horizonte”, disse o carnavalesco.
Após passar uma temporada em Paris, na França, onde estudou, Portinari volta ao Brasil e começa a retratar a sua infância sofrida, segundo Louzada, refletindo a sua alma e sentimentos. Com isso, a Mocidade pretende citar referências do pintor, como a vida rural no milharal, o circo e as pipas no céu da cidade de Brodowski, em São Paulo, onde viveu.
Pinturas vivas na Avenida
Num passeio pelo barracão da Mocidade, na Cidade do Samba, na Zona Portuária, é possível identificar obras como “O lavrador de café”, “Cena rural” e “A saga dos retirantes” nas alegorias e fantasias. Aliás, o público vai poder interagir com algumas delas, como se os principais personagens de Portinari saíssem das telas e ganhassem vida na Sapucaí.
Um grande mosaico das obras de Portinari. É assim que a Mocidade quer apresentar o seu carnaval. O "grand finale" fica com o painel "Guerra e Paz", considerado a obra-prima do artista, que será representada na última alegoria. De acordo com Louzada, esculturas vão representar o sofrimento da guerra e o bem-estar causado pela paz.
"É sua grande obra, que fica na ONU, nos EUA, e reflete uma realidade do nosso povo e do nosso carnaval, essa guerra bonita da folia e a paz, que é a vitória da Mocidade Independente de Padre Miguel", completou Louzada.
O carnavalesco preferiu manter segredo sobre as fantasias do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira Robson e Ana Paula e da rainha de bateria Antônia Fontenelle. Quarta escola a desfilar no domingo (19), com previsão de entrada na avienida entre 0h15 e 1h06, a Mocidade vai levar ainda oito alegorias, três tripés e 30 alas. O samba ficará sob responsabilidade do intérprete oficial Luizinho Andanças.
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