sábado, 17 de dezembro de 2011
Gerard Butler é religioso polêmico no drama 'Redenção'
SÃO PAULO (Reuters) - Uma milícia mata indiscriminadamente os habitantes de um vilarejo localizado ao sul do Sudão. Em uma cena dantesca, um dos soldados exige a uma criança que mate a própria mãe, para sua vida ser poupada. A mulher, uma mártir, acena a cabeça afirmativamente para o filho pedindo que o faça.
Apesar da crueldade ímpar, a sequência inicial de "Redenção" não prepara o espectador para o que vem pela frente. O filme é baseado na vida do norte-americano Sam Childers, que largou as drogas e o crime quando se converteu a uma igreja pentecostal. A história seria apenas banal, se não fosse uma segunda conversão que o tornaria o "pregador-metralhadora" ("Machine Gun Preacher", título original da produção).
Longe das drogas, Childers (Gerard Butler, de "300") torna-se bem-sucedido como construtor e fiel praticante da igreja. Em uma das missas, no entanto, um pastor roga por ajuda às crianças africanas. Comovido, o novo Childers parte para o Sudão com o objetivo de construir casas para os desabrigados, vítimas da guerra civil - que nessa época já durava 20 anos. É o primeiro passo para sua segunda transformação.
Ao assistir de perto aos resultados dos massacres, ele acredita que Deus o guiou até lá, onde constroi uma igreja e um orfanato, apesar dos perigos dos grupos paramilitares. O local, no meio do nada, torna-se rapidamente um refúgio para as crianças da região, e Childers, um inimigo do perigoso grupo LRA, que oferece uma recompensa por sua cabeça.
Como tem alguma experiência com armas (graças a sua vida transgressora) o pastor torna-se uma espécie de Rambo para defender seus órfãos. Na pele do protagonista, o ator escocês Gerard Butler se dá bem no papel, ao conseguir caracterizar com grande acerto os difíceis níveis da psicologia de seu personagem.
Também é louvável o trabalho do diretor alemão radicado nos EUA Marc Forster, que mais uma vez comprova ser um dos mais talentosos de sua geração. Como visto no visceral "A Última Ceia" (2001), no sensível "Em Busca da Terra do Nunca" (2004) e no vigoroso "007 - Quantum of Solace" (2008), Forster conhece os gêneros e, aqui, maneja-os com muita propriedade.
Não é fácil o caminho de Childers, que se afasta de sua mulher Lynn (Michelle Monaghan), da filha Paige (Madeline Carroll) e, em determinado momento, do próprio Deus em sua empreitada. As nuances da personalidade do "pregador- metralhadora", inerentes a esse paradoxo, mostram como são duvidosas as linhas morais em situação de emergência.
A produção não fez muito sucesso nos Estados Unidos e chegou a receber críticas de organizações ecumênicas sobre a religião associada à guerra. Mas o fato é que, como mostra a história, só se chegou onde se chegou por uma total falta de apoio.
Marc Forster, como demonstrou em "O Caçador de Pipas" (2007), também não se esquece de que trabalha em Hollywood e, por isso, não deixa de adocicar a trama com recursos fáceis, muitas vezes inconsistentes. Um exemplo é o diálogo travado entre o herói e sua esposa, quando ele pensa em largar tudo: "Pare de choramingar, as crianças não desistiram."
Como o pastor continua seu trabalho no Sudão, o filme não tem um ponto final, recorrendo a fotos do verdadeiro Sam Childers e família, além de imagens aterradoras dos conflitos. Ao deixar aberto o desfecho, Forster delega ao espectador o difícil ônus do debate moral que a obra suscita.
(Por Rodrigo Zavala, do Cineweb)
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb
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