sábado, 21 de janeiro de 2017

Cremerj flagra remédios vencidos e outras irregularidades em UPAs do RJ

Vice-presidente do Cremerj fala sobre as condições de UPAs da Baixada Fluminense
Um relatório do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro
 (Cremerj), com dados sobre vistorias de 16 UPAs no Grande Rio - 
sendo 8 na Baixada Fluminense - indica uma série de problemas nas
 unidades. O G1 teve acesso ao documento, que indica a presença de irregularidades como médicos e profissionais de enfermagem 
sobrecarregados, falta de medicamentos e equipamentos 
quebrados.
As vistorias começaram em setembro de 2016, com o objetivo de
 saber quais são as condições de trabalho dos profissionais de
 saúde e de atendimento aos pacientes. Desde então, 16 UPAs
 foram vistoriadas no Grande Rio, sendo 8 delas na Baixada 
Fluminense.
De acordo com o vice-presidente do Cremerj, os problemas 
acontecem tanto nas UPAs municipais quanto estaduais. A crise 
no Estado do Rio de Janeiro influenciaria a crise nas duas esferas 
de governo, já que as unidades municipais também dependem de 
repasses do poder estadual.
“A situação das UPAs na Baixada Fluminense é extremamente 
preocupante. Temos três UPAs fechadas. Em Jardim Íris, em São
 João de Meriti; a de Comendador Soares [em Nova Iguaçu] e de 
Nilópolis. As que estão abertas estão com deficiência de médicos, 
enfermeiros, falta de segurança, de insumos, de medicamentos, 
de reposição do material. As condições são extremamente 
precárias. A população da Baixada não tem muito para onde correr
 hoje em relação a essas UPAs”, explicou Nelson Nahom, vice-
presidente do Cremerj.
A Prefeitura de Nilópolis também se pronunciou e afirmou que a
 UPA do município não foi fechada. Segundo o órgão, ela foi
 transferida para o primeiro andar do novo hospital Juscelino Kubitsheck 
e está funcionando normalmente, 24h. De acordo com a prefeitura, 
a gestão anterior fechou a UPA pediátrica.
Medicamento com data de validade vencida encontrado na UPA de Queimados, na Baixada Fluminense (Foto: Divulgação/ Cremerj)Medicamento com data de validade vencida encontrado na UPA de Queimados, na Baixada Fluminense (Foto: Divulgação/ Cremerj)
Medicamento com data de validade vencida encontrado na UPA de Queimados, na Baixada Fluminense (Foto: Divulgação/ Cremerj)
Nahom também destaca que não apenas as UPAs, mas também
 outras unidades de saúde básica também estariam com problemas
 no atendimento à população. Ele destaca o fechamento de unidades
 básicas de saúde em Japeri e em Nova Iguaçu. De acordo com o 
Cremerj, o problema pode fazer com que aconteça uma procura ainda
 maior das emergências dos hospitais.
“O que acontece é que eles [os pacientes] vão acabar procurando e sobrecarregando de forma gigantesca o Hospital da Posse ou vão vir 
ao Rio de Janeiro atrás de socorro”, explicou o vice-presidente do 
Cremerj.
No dia 10 de janeiro, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, já tinha 
 com a crise no Estado do Rio de Janeiro, mas que estava conversando
 com o governador Luiz Fernando Pezão e seus secretários para que a 
atuação dos dois poderes seja unida, principalmente no verão, com a possibilidade de aumento no número de casos de doenças causadas 
pelo Aedes Aegypti.
Prateleiras vazias na UPA de Queimados, na Baixada Fluminense (Foto: Divulgação/ Cremerj)Prateleiras vazias na UPA de Queimados, na Baixada Fluminense (Foto: Divulgação/ Cremerj)
Prateleiras vazias na UPA de Queimados, na Baixada Fluminense (Foto: Divulgação/ Cremerj)
Dificuldades no atendimento
Na UPA do Cabuçu, em Nova Iguaçu, a vistoria verificou que não havia 
médico de rotina. Assim, todos os pacientes eram atendidos pelos 
médicos plantonistas, aumentando o volume de atendimento e fazendo
 com que o tempo de espera dos pacientes fosse maior.
O número de enfermeiros e técnicos de enfermagem também era 
menor do que o necessário, também prejudicando a qualidade do
 atendimento.
O mesmo problema se repete em outra UPA em Nova Iguaçu, na
 Estrada de Adrianópolis. Lá, os médicos também atendem mais 
pacientes por hora do que o recomendado pela portaria 2079/2014 
do 
Conselho Federal de Medicina, que determina que o volume de 
atendimento não ultrapasse 3 pacientes para cada médico.
Tanto na UPA do Cabuçu quanto na de Adrianópolis, o Cremerj 
afirma ter constatado a permanência de pacientes internados por 
mais de 24 horas nas unidades - elas deveriam cuidar somente de 
atendimentos imediatos. O motivo das internações seria a falta de 
leitos disponíveis nos hospitais da região.
“Você vai encontrar pacientes por sete ou oito dias na sala vermelha 
e por 20, 30 dias na sala amarela”, destacou Nahom.
Os problemas se repetem em outra UPA, na Praça Camarim, em
 Queimados. De acordo com o relatório do Cremerj, os pacientes 
que estão internados no local permanecem sem avaliação aos 
domingos, já que há déficit em plantonistas.
Outro problema encontrado na vistoria foi o que o laboratório
 credenciado para exames laboratoriais opera somente 12 horas 
por dia, no período diurno e, ainda assim, de maneira parcial. Na 
prática, os médicos são obrigados a realizar boa parte dos 
diagnósticos sem nenhum exame complementar. Os pacientes mais 
graves têm exames feitos no Hospital da Posse.
Maca rasgada em UPA de Nova Iguaçu (Foto: Cremerj/Divulgação)Maca rasgada em UPA de Nova Iguaçu (Foto: Cremerj/Divulgação)
Maca rasgada em UPA de Nova Iguaçu (Foto: Cremerj/Divulgação)
Ainda segundo o Cremerj, as UPAs vistoriadas não contam com 
ambulâncias, o que dificulta remoções de emergência já que ficam
 estacionadas em outras unidades e, quando solicitadas, chamadas
 até a unidade que precisa delas. O médico que realiza as remoções
 com a ambulância é das próprias unidades, o que aumenta ainda
 mais o problema de falta de médicos até o seu retorno.
Em todas as unidades vistoriadas foram encontradas alguma forma
 de desabastecimento de medicamentos. Em alguns casos os
 médicos dispunham de medicamento para uso interno, mas caso prescrevessem para os pacientes, eles não poderiam retirá-los nas
 farmácias das unidades.
Na UPA de Comandador Soares, em Nova Iguaçu, fechada na
 última sexta-feira (13), o caso também é grave, como informou o 
vice-presidente do Cremerj na data.
“Verificamos que a UPA, que tinha 15 mil atendimentos por mês em
setembro, estava fechada agora. Tinha só um clínico pediatra e desde 
outubro ela não está recebendo nenhum medicamento. O estoque
 estava completamente zerado e não tinha como atender. Só em 
casos extremamente grave, mas ainda assim sem como atender", 
explicou Nelson Nahom.
Nas unidades de Adrianópolis e de Cabuçu, os fiscais do Cremerj 
encontraram falta de monitores cardíacos, ventiladores mecânicos
 e respiradores que estavam em manutenção.
Na UPA de Queimados, os aparelhos de ar condicionado não 
funcionavam ou estavam quebrados. A sala de sutura funciona sem
 material de higienização. O armário onde os materiais deveriam ser armazenados estava quebrado. Há falta de fios cirúrgicos, principalmente 
para crianças.
A situação se repete nas imagens da UPA do Parque Lafaiete, em 
Duque de Caxias (veja vídeo). É possível ver prateleiras e geladeira
 de medicamentos vazias e consultórios desativados.
O Cremerj também questiona a portaria do Ministério da Saúde que
 permite aos gestores municipais definir e escolher a capacidade de 
atendimento das unidades a partir de oito opções de funcionamento 
operacional, vinculando os repasses de custeio à quantidade de 
profissionais em atendimento, e não por porte da unidade. O conselho
 acredita que isso faria com que a população fosse pior atendida, pois 
menos profissionais estariam disponíveis nas unidades.
Procurado pelo G1, a Prefeitura de São João de Meriti, que administra 
a UPA de Parque Íris, informou que a UPA da cidade está fechada 
desde novembro de 2014. Eles afirmaram que sendo feito um esforço 
para reabrir. O local vai ser limpo e receberá equipamentos. O local vai
 reaberto como UPA infantil.
A Prefeitura de Duque de Caxias, responsável pela UPA de Parque
 Lafaiete, informou que pretende melhorar o sistema de saúde do
 município e que a cidade conta com R$ 400 milhões de dívidas
 herdadas de gestões passadas e mais de três meses de salários 
atrasados dos servidores do município. A gestão informou ainda que 
encontrou a cidade desabastecida de medicamentos e com uma 
dívida de R$ 14 milhões com a empresa terceirizada responsável 
por retirar o lixo da cidade. Eles informaram também que já pagaram
 os salários de janeiro e pretendem amortizar as dívidas e regularizar
 a situação da rede de saúde do município.
Consultório desativado em UPA de Nova Iguaçu (Foto: Divulgação/ Cremerj)Consultório desativado em UPA de Nova Iguaçu (Foto: Divulgação/ Cremerj)
Consultório desativado em UPA de Nova Iguaçu (Foto: Divulgação/ Cremerj)
Governo do Estado responde
G1 questionou o governo do Estado sobre os problemas apontados
 pelo Cremerj em UPAs sobre sua responsabilidade. A coordenação da
 Unidade de Pronto Atendimento de Cabuçu informou que não há falta de medicamentos para atendimento aos pacientes dentro da unidade e
 também não procede a alegação de número de enfermeiros e técnicos
 de enfermagem abaixo do necessário - segundo a secretaria, o 
quantitativo de pessoal de enfermagem (quatro enfermeiros e sete
 técnicos) atende a previsão contratual referente à unidade. 
A coordenação acrescenta que não há previsão contratual para 
médico de rotina nas Unidades de Pronto Atendimento. A pasta ainda 
alegou que todos os pacientes que necessitam de remoção são 
regulados e transferidos de acordo com suas condições clínicas e 
liberação de vagas.
A coordenação da UPA de Nova Iguaçu II informou que todos os
 pacientes que necessitam de remoção são regulados e transferidos
 de acordo com suas condições clínicas e liberação de vagas, e 
acrescenta que não há falta de medicamentos para atendimento aos
 pacientes dentro da unidade. A coordenação negou também a 
denúncia de descumprimento da portaria 2079/2014. "No mês de 
dezembro do ano passado, por exemplo, foi realizada uma média de 
12 atendimentos por hora, por um corpo clínico formado por oito 
plantonistas", disse a nota.
A coordenação da UPA de Queimados afirmou que não procede a 
denúncia de medicamentos vencidos. Os materiais de higienização 
e fios cirúrgicos são recebidos semanalmente. A coordenação 
acrescenta que já foi providenciado o reparo para a gaveta do armário 
e informa que o quantitativo médico está de acordo com o previsto em 
contrato.
O município de Nova Iguaçu informou que a A UPA de Comendador 
Soares está fechada desde dezembro, na gestão anterior, devido à
 falta de pagamento dos funcionários contratados da Saúde ( novembro, dezembro e 13° salários) e de medicamentos e insumos. Ainda de
 acordo com a nota, a antiga gestão não deixou processos que
 possibilitassem a compra dos insumos, que estão sendo adquiridos
 agora, em caráter emergencial.
A prefeitura de Queimados foi procurada e informou que a UPA do
 município é de responsabilidade do governo do Estado.

Nenhum comentário: