quinta-feira, 3 de maio de 2012

G1 – Thais Herédia – Os caminhos da economia

A  mudança nas regras da poupança, anunciada nesta quinta-feira pelo governo, representa um avanço institucional tão ou mais importante do que a liberação dos caminhos para termos juros mais baixos.
O Brasil já pode ter, de forma sustentável, um patamar de juros mais parecido com os praticados no resto do mundo, isto é fato. A poupança, hoje, se colocava como um obstáculo para continuidade da queda da taxa Selic, atualmente em 9% ao ano. Mas ela era também uma distorção da economia brasileira, uma jabuticaba financeira.
Nos últimos 15 anos, pelo menos, os brasileiros aprenderam a modernizar seus investimentos e buscar mais rentabilidade, num ambiente com menor risco, mas algum risco. A caderneta de poupança, apesar de segura, jamais poderia atender a uma demanda por mais rentabilidade num país com taxa de juros tão alta.
A solução encontrada pelo governo surpreendeu por, basicamente, dois motivos: ela preserva os atuais poupadores e evita mais uma indexação da economia brasileira.
Ao atrelar a nova remuneração a uma condição específica, juros menores que 8,5% ao ano, o governo mantem uma flexibilidade necessária para a gestão dos investimentos e um equilíbrio do sistema financeiro.
As especulações sobre a mudança nas regras da caderneta começaram há meses, mas nenhuma das alternativas, antecipadas como possíveis medidas, contemplava a solução apresentada agora pelo governo.
Mexer na poupança já esteve na pauta de governos anteriores, mas mesmo que dependesse da vontade e coragem política dos governantes, o Brasil nunca esteve com a economia em condições, ou necessidade efetiva, de bancar uma mudança.
Dilma Rousseff uniu, como avaliou o comentarista político da Globo News, Gerson Camarotti, um tema delicado a um desejo unânime dos brasileiros: “eu mexo na poupança, mas derrubo os juros para o patamar mais baixo da história brasileira”, diz a presidente à população, que dá a ela altíssimos níveis de aprovação.
A combinação do “timing” com o ambiente atual da economia resulta num corredor de oportunidades para que o Banco Central continue baixando a taxa Selic. O mercado financeiro já dá como certa um queda para 8,5% na próxima reunião do Copom, agora em maio. E considera muito provável que o BC mexa novamente em julho, levando a Selic para históricos 8% ao ano. Não será fácil crescer mais de 3% em 2012 e, reduzir o custo do dinheiro para que os brasileiros gastem mais e as empresas invistam mais, é um instrumento importante e eficiente neste momento.
E a inflação não fica em segundo plano, mas também não se apresenta como o maior obstáculo agora. Se as coisas continuarem no ritmo que estão, com baixa produção industrial, queda nas exportações, por exemplo, a pressão inflacionária pode diminuir.
O mérito da mudança nas regras da poupança não substitui a responsabilidade na gestão da economia brasileira, muito menos no controle da inflação. Mesmo que agora, o dragão pareça adormecido.

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