A gente ouve falar que tudo que é russo tá meioruço. Traduzindo, em baixa. Quer dizer, excetuando a literatura, a vodca e a matrioshka. A literatura russa tem seus gigantes: Dostoiévski, Tolstoi, Gorki, Tchekhov, Maiakovski, Marina Tsvetaeva. A vodca dispensa apresentação.
Já a matrioshka, também conhecida como babushka, é aquela boneca de madeira que traz dentro outras bonequinhas menores. Sendo que a menorzinha de todas é a única que não é oca. A maioria delas contam com cinco peças. Mas tem matrioshka com até 75 matrioshkinhas.
Estudiosos afirmam que foram os japoneses que inventaram essa boneca que contém outras menores. Mas, no Brasil, foram as russas que ficaram famosas. Não com o nome de matrioshka, mas com o nome sérvio de babushka. Que por sinal, quer dizer avozinha.
Sempre observei com curiosidade as babushkas. Elas ensinam muito sobre a arte de escrever, mais específico, sobre a habilidade de contar histórias. Pois repare, qualquer história traz outras historietas dentro dela. Qualquer fato carrega, no profundo, outros fatos.
Vamos ao exemplo de uma telenovela. Há sempre uma trama central, personificada pelas personagens principais. Essa seria a babushka maior. E existem as subtramas, ou histórias paralelas, caracterizadas pelos núcleos pobre, rico, humorístico, jovem, entre outros.
Para a telenovela funcionar, e para a gente não mudar de canal, as tais histórias paralelas precisam estar ligadas à trama central. De alguma forma, as personagens ora são parentes, patrão e empregado, porteiro e condômino, polícia e bandido.
Amadurecendo o pensamento, babushkas também têm a ver com a vida da gente. Aquela dinâmica de uma coisa que leva a outra que traz outra que leva a outra. Ou algo que contém algo que contém algo que contém algo.
De repente, você conheceu seu grande amor porque sua prima morava no mesmo prédio que a mãe dele. Ou conseguiu aquela oportunidade de negócio porque prestou atenção em alguma situação, quando todos desviavam o rosto. É o poder babushka.
Imagem: Régine Ferrandis.
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