sexta-feira, 27 de maio de 2016

Jogador de futebol é suspeito de incitar estupro coletivo

O que dizer de um país que não consegue conter o ímpeto violento de 30 homens selvagens, que estupraram coletivamente uma jovem de 16 anos? O que dizer desse mesmo estado e país que, sim, deseja realizar os Jogos Olímpicos?  A imagem do Cristo Redentor e seu simbolismo de braços abertos para a humanidade nunca foi tão desacreditada como nesta semana. Em vez de amor, o Rio olímpico tornou-se a capital do ódio e da agressão torpe.  
O episódio ocorrido no fim de semana passado, no morro São José Operário, em Jacarepaguá, zona oeste do Rio, traz à tona as misérias da segurança jurídica, pública e social do sistema. Sem resultados práticos para a barbárie resta o desabafo da adolescente estuprada. Nas redes sociais, ela disse que o que mais dói não é o útero.  Mas a alma: “Todas podemos um dia passar por isso. Não, não dói o útero e sim a alma por existirem pessoas cruéis sendo impunes”.
A Polícia Civil do Rio de Janeiro divulgou a imagem de alguns suspeitos da prática de estupro coletivo. Mas ainda não conseguiu prender nenhum deles. Existe o temor de que a detenção dos suspeitos possa provocar comoção social e produzir mais violência: caso do linchamento dos envolvidos e suspeitos.
Novo ‘estupro’: vítima tornou-se assunto polêmico nas redes sociais. Imensa maioria defende jovem, mas aumentam compartilhamentos de cenas em que supostamente aparece ao lado de armas
Novo ‘estupro’: vítima tornou-se assunto polêmico nas redes sociais. Imensa maioria defende jovem, mas aumentam compartilhamentos de cenas em que supostamente aparece ao lado de armas
Qualquer informação sobre os envolvidos no crime  podem acionar a Polícia Civil através da Central de Atendimento ao Cidadão (CAC) pelos telefones (21) 2334-8823, (21) 2334-8835, pelo chat online ou pelo Disque Denúncia 2253-1177.
Ontem, o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, afirmou que as Polícias Militar e Civil “não vão descansar até identificar e prender” todos os envolvidos no estupro coletivo.
O secretário destacou duas delegacias para investigar o crime. “Esse episódio mostra como operam as punições das facções criminosas, que ainda tentam impor o silêncio às vítimas e testemunhas. Não vão conseguir. Não vamos descansar até identificar e prender todos”, disse Beltrame no Twitter da secretaria.
Adolescente segue para realizar exames: “Todas podemos um dia passar por isso. Não, não dói o útero e sim a alma por existirem pessoas cruéis sendo impunes”
Adolescente segue para realizar exames: “Todas podemos um dia passar por isso. Não, não dói o útero e sim a alma por existirem pessoas cruéis sendo impunes” (FOTO: Extra)
Conforme a Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro, quatro suspeitos já foram identificados. O homem que manteve namoro com a adolescente e o  que aparecem no vídeo ao lado da garota – a imagem que provocou revolta e comoção social – já estão na lista da polícia.
Beltrame diz que a Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) e a Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV) trabalham de forma integrada na investigação do crime.

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Vídeo sintetiza barbárie para redes sociais: “Olha como que tá (sic). Sangrando. Olha onde o trem passou. Onde o trem bala passou de marreta”

De acordo com o Ministério Público do Rio (MPRJ), a Ouvidoria da instituição recebeu cerca de 800 denúncias sobre o paradeiro dos estupradores.  O MP também ajuda nas investigações
SUSPEITOS
Dentre os suspeitos de praticarem o ato, está o foragido Lucas Perdomo Duarte Santos, 20. O detalhe é que ele é jogador do Boavista, time da primeira divisão do Campeonato Carioca.
Ele é quem teria mantido um relacionamento com a adolescente e provocado a barbárie.  De acordo com o jornal Extra, a equipe está surpresa com o episódio: o gestor do clube, João Paulo Magalhães, diz que “ninguém podia esperar isso dele”. Conhecido no time por Luquinhas, ele não tem apoio no clube, caso esteja envolvido: “Queremos a condenação com a penalidade máxima”.
Em entrevista coletiva, os delegados que investigam o crime informaram que aguardam o resultado do exame de corpo de delito para a confirmação do estupro e posterior prisão preventiva dos suspeitos. A Polícia Civil age com cautela. O delegado Fernando Veloso afirma que não trabalha com o “ouvi dizer”, mas com a investigação técnica: “Não podemos dizer que participaram do fato 33, 36 ou 40 pessoas. Essas questões vão evoluir a cada momento. Quando as pessoas forem capturadas e quando confrontarmos seus depoimentos. Da mesma forma, não se pode dizer que as pessoas estavam todas armadas ou não. A policia tem que ter alguns elementos para a investigação avançar”.
O QUE ACONTECEU
A adolescente relatou que foi violentada por 33 homens. A história teria sido comprovada por meio de imagens: dois homens exibem a jovem numa rede social. Um deles diz na filmagem: “Essa aqui, mais de 30 engravidou. Entendeu ou não entendeu?”.
Outra cena mostra o órgão genital da adolescente sagrando. “Olha como que tá (sic). Sangrando. Olha onde o trem passou. Onde o trem bala passou de marreta”.
A adolescente relatou que foi visitar o namorado em uma casa no alto da comunidade. O fato provocou a sociedade quando um dos envolvidos teria publicado no Twitter as imagens da menina desacordada com órgãos genitais expostos.
O paraíso dos Jogos tornou-se notícia internacional e conseguiu reunir adversários como a presidente afastada Dilma Rousseff e o presidente interino Michel Temer no mesmo lado. Eles se solidarizaram com a adolescente.    
A jovem  começou a sofrer outra espécie de violência – agora moral.  No mesmo Twitter, uma conta tenta justificar o crime a partir da postagem de fotos de uma garota segurando armas.  A Polícia Civil não confirmou a veracidade das imagens e as informações são nitidamente destinadas a criar uma cortina de fumaça no caso e levantar dúvidas sobre o fato.
“Na cultura do estupro não se espera outra ação: a de culpas as vítimas. É assim sempre. Parece até ensaiado”, diz a psicóloga Lucilene Dantas e militante da ONG goiana “A paz que eu quero”.

No Piauí, a Polícia Civil também investiga caso de estupro coletivo, com a participação de pelo menos cinco pessoas que teriam violentado uma adolescente de 17 anos no município de Bom Jesus na última sexta-feira (20). Até o momento, quatro menores de idade e um rapaz foram presos suspeitos de participação no crime.
De acordo com a corporação, a jovem foi encontrada amarrada em uma obra abandonada. A vítima precisou receber atendimento médico, mas já recebeu alta. Após uma briga com o namorado, ela teria ingerido bebida alcoólica e os suspeitos se aproveitaram do momento para cometer o crime.
A Polícia Civil ainda aguarda o resultado de exames periciais. Em nota divulgada ontem (26), a ONU Mulheres Brasil se solidarizou com a jovem e com a adolescente de 16 anos também vítima de estupro coletivo no Rio de Janeiro. No comunicado, a entidade pede ao Poder Público dos dois estados que seja incorporada a perspectiva de gênero na investigação, no processo e no julgamento dos casos. A organização também pede à sociedade brasileira “tolerância zero” a todas as formas de violência contra as mulheres e a sua banalização.

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