"Ela me vê e diz: 'que linda'", conta a catarinense Daiana Pereira, mãe de Nicolly – a menina que era cega e começou a enxergar aos 2 anos, após passar por uma cirurgia nos Estados Unidos. O procedimento ocorreu no dia 17 de março, em um hospital de Miami, graças à ajuda de pessoas que souberam do caso pelas redes sociais.
O momento em que os tampões são retirados e Nicolly vê o mundo – e a mãe – pela primeira vez, no dia seguinte à cirurgia, foi registrado em vídeo (assista acima). "Filha, você tá vendo!", disse a mãe, entre lágrimas, naquele momento.
A mãe recorda das primeiras palavras da médica: “My god”. “Quando ela viu Nicolly, assim que chegamos do Brasil, achou que tinha cometido um erro de levá-la para os Estados Unidos, o caso de Nicolly era muito grave. Mas não contou pra gente na hora”."Ela chorava um pouco na hora de tirar os tampões dos olhos, mas assim que tirou foi visível que ela estava enxergando”, conta a mãe. “Ela olhou tudo ao redor, na sala do hospital. A gente colocou um brinquedo e ela pegou, depois um pacote de lenços”, lembra Daiana, emocionada.
Risco de perder os olhos
Nicolly nasceu com uma forma agressiva de glaucoma congênito. Por causa da elevada pressão intraocular, corria o risco, além da cegueira, de precisar ter os olhos retirados. “O glaucoma dela não tinha controle.” Além disso, descobriu-se depois que Nicolly também não ouvia. Ela também enfrentava problemas renais.
Nicolly nasceu com uma forma agressiva de glaucoma congênito. Por causa da elevada pressão intraocular, corria o risco, além da cegueira, de precisar ter os olhos retirados. “O glaucoma dela não tinha controle.” Além disso, descobriu-se depois que Nicolly também não ouvia. Ela também enfrentava problemas renais.
Vida nova, agora de óculos
De volta a Piçarras, no litoral norte catarinense, Nicolly aos poucos retoma a rotina, e vem evoluindo. "Está escutando, antes da cirurgia falava meio embaralhado, agora repete tudo, até canta em inglês com as musiquinhas dos brinquedos que ganhou nos Estados Unidos”, diz Daiana.
De volta a Piçarras, no litoral norte catarinense, Nicolly aos poucos retoma a rotina, e vem evoluindo. "Está escutando, antes da cirurgia falava meio embaralhado, agora repete tudo, até canta em inglês com as musiquinhas dos brinquedos que ganhou nos Estados Unidos”, diz Daiana.
Ela olhou tudo ao redor, na sala do hospital. A gente colocou um brinquedo e ela pegou"
Daiana Pereira, mãe de Nicolly
A visão da criança está longe de ser 100%, mas a família considera que o que aconteceu foi um “milagre”. “Ela está usando óculos com 5 graus cada”.
Para Daiana, a filha é um caso a ser estudado: "A Ni tem comportamentos diferentes, tem seu mundinho, se concentra, bate palmas com mãos e com os pés, é muito flexível. E cativa todo mundo, digo que ela não é sinônimo de um anjo, ela é um anjo".
Nos últimos dias, por causa do frio, Nicolly tem ficado em casa. "É por causa da imunidade. Mas ela está bem, vai se adaptando. À noite fica meio chorosa, porque nos Estados Unidos ela dormiu seis semanas comigo, e aqui ela tem o quartinho dela, dorme sozinha. Só que agora ela enxerga!", diverte-se a mãe.
Sete cirurgias no Brasil
Com nove dias de vida, a menina passou por uma cirurgia. Foi a primeira de sete operações que fez no Brasil, das quais saía sem qualquer esperança de melhora.
Com nove dias de vida, a menina passou por uma cirurgia. Foi a primeira de sete operações que fez no Brasil, das quais saía sem qualquer esperança de melhora.
Quando Nicolly nasceu, Daiana e o marido, Alexandre, levavam uma vida de classe média relativamente tranquila. Ela trabalhava como operadora de máquinas e ele, como motorista. Com a chegada de Nicolly, a família começou a gastar o que tinha e o que não tinha com os tratamentos da menina.
Campanha na internet
Sem coragem para dizer às pessoas a sentença dos médicos, de que era quase impossível Nicolly enxergar, aos três meses de vida da menina a mãe postou uma foto em uma página criada para ajudar outra criança doente, que tinha muitos seguidores. “Uma menina do Rio de Janeiro, Luciana, viu a foto e sugeriu criar também uma página de ajuda”.
Sem coragem para dizer às pessoas a sentença dos médicos, de que era quase impossível Nicolly enxergar, aos três meses de vida da menina a mãe postou uma foto em uma página criada para ajudar outra criança doente, que tinha muitos seguidores. “Uma menina do Rio de Janeiro, Luciana, viu a foto e sugeriu criar também uma página de ajuda”.
Com os recursos arrecadados, a família se mudou para Sorocaba, no interior de São Paulo, para buscar outras opções de tratamento. “Eu e meu marido fomos trabalhar no lava-jato de uma amiga, quando não estávamos com a Nicolly nos hospitais”. Em uma das viagens, acabaram batendo o carro, que foi vendido para custear o tratamento.
“Muita gente achava que ela nunca enxergaria, mas nunca duvidei. Ficava até sem o que comer para pagar um exame que ela precisava. Às vezes eu entrava confiante no consultório e saía arrasada, mas ela dava um sorriso e toda decepção acabava naquele sorriso dela”.
A mobilização na internet cresceu e despertou o interesse de uma internauta que vive nos Estados Unidos, fala português e cuja mãe também tem glaucoma. A jovem decidiu pesquisar hospitais que pudessem fazer a cirurgia para tentar salvar a visão de Nicolly.
Viagem para os EUA
“Uma fundação se interessou pelo caso dela e decidiu ajudar. Ganhamos a hospedagem, a comida e a cirurgia”, conta Daiana.
“Uma fundação se interessou pelo caso dela e decidiu ajudar. Ganhamos a hospedagem, a comida e a cirurgia”, conta Daiana.
Mas ainda eram necessários US$ 17,5 mil para cobrir outros custos hospitalares. Mais uma vez, uma campanha foi lançada. Um casal fundador de uma ONG nos EUA doou US$ 15 mil, e um corredor de kart de 10 anos deu as passagens, diz a mãe de Nicolly.
Em pouco tempo, Daiana e a filha embarcavam para os Estados Unidos para uma temporada de seis semanas. A cirurgia a qual Nicolly foi submetida durou três horas e, além da visão, devolveria à menina também a audição.
No início desta semana, a família voltou para Santa Catarina. Nicolly, que não enxergava nada, apenas pontos de luz com o olho direito, agora enxerga melhor até com o esquerdo, que era considerado praticamente perdido, conta Daiana.
Futuro
Daiana ainda não sabe como será o futuro. Talvez voltem para Sorocaba, onde há mais recursos do que na cidade onde vivem. Nicolly ainda não anda, e a fisioterapia poderá ajudar nos movimentos. Um médico de lá, escolhido pela família, terá a oportunidade de receber treinamento especializado nos Estados Unidos, para, quem sabe, trazer ao Brasil a técnica que salvou a visão de Nicolly e ajudar outras crianças.
Daiana ainda não sabe como será o futuro. Talvez voltem para Sorocaba, onde há mais recursos do que na cidade onde vivem. Nicolly ainda não anda, e a fisioterapia poderá ajudar nos movimentos. Um médico de lá, escolhido pela família, terá a oportunidade de receber treinamento especializado nos Estados Unidos, para, quem sabe, trazer ao Brasil a técnica que salvou a visão de Nicolly e ajudar outras crianças.
“Antes de a Ni nascer eu não sabia o que era glaucoma. Fui pesquisar e as pessaos dizem que as dores são muito fortes. Mas eu nunca vi ela reclamar. Quando chegamos a pressão no olho estava a 50 e ela sorria”, diz a mãe, antes de resumir: “A guerreira é ela”.
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