Jornalista Silvia Pilz "diz o que pensa" sobre os pobres que frequentam consultórios médicos; "Normalmente, [o pobre] se arruma para ir a consultas médicas e aos laboratórios", onde "provavelmente se sente em um cenário de novela"; tentando ser engraçada, ela afirma que
pobre "faz drama, fica de cama" para não ir trabalhar quando tira sangue e que muitos sonham
em "ter nódulos"; para arrematar seu desprezo, ela diz que "a grande preocupação do pobre é procriar".
pobre "faz drama, fica de cama" para não ir trabalhar quando tira sangue e que muitos sonham
em "ter nódulos"; para arrematar seu desprezo, ela diz que "a grande preocupação do pobre é procriar".
Em um artigo espantoso publicado em seu blog no Globo, a jornalista Silvia Pilz desfere todo
seu asco contra os pobres. Especialmente o pobre que frequenta consultórios médicos, para
onde
"se arruma" para ir, segundo ela, por "provavelmente" se sentir "em um cenário de novela".
Segundo ela, "o pobre quer ter uma doença" – como tireoide, "é quase chique" – e tem como principal preocupação na vida "procriar". Leia:
seu asco contra os pobres. Especialmente o pobre que frequenta consultórios médicos, para
onde
"se arruma" para ir, segundo ela, por "provavelmente" se sentir "em um cenário de novela".
Segundo ela, "o pobre quer ter uma doença" – como tireoide, "é quase chique" – e tem como principal preocupação na vida "procriar". Leia:
O plano cobre
Todo pobre tem problema de pressão. Seja real ou imaginário. É uma coisa impressionante.
E todos têm fascinação por aferir [verificar] a pressão constantemente. Pobre desmaia em
velório, tem queda ou pico de pressão. Em churrascos, não. Atualmente, com as facilidades
que os planos de saúde oferecem, fazer exames tornou-se um programa sofisticado.
Hemograma completo, chapa do pulmão, ressonância magnética e etc. Acontece que o
pobre - normalmente - alega que se não tomar café da manhã tem queda de pressão.
E todos têm fascinação por aferir [verificar] a pressão constantemente. Pobre desmaia em
velório, tem queda ou pico de pressão. Em churrascos, não. Atualmente, com as facilidades
que os planos de saúde oferecem, fazer exames tornou-se um programa sofisticado.
Hemograma completo, chapa do pulmão, ressonância magnética e etc. Acontece que o
pobre - normalmente - alega que se não tomar café da manhã tem queda de pressão.
Como o hemograma completo exige jejum de 8 ou 12 horas, o pobre, sempre bem arrumado,
chega bem cedo no laboratório, pega sua senha, já suando de emoção [uma mistura de medo
e prazer, como se estivesse entrando pela primeira vez em um avião] e fica obcecado pelo
lanchinho que o laboratório oferece gratuitamente depois da coleta. Deve ser o ambiente.
Piso brilhante de porcelanato, ar condicionado, TV ligada na Globo, pessoas uniformizadas.
O pobre provavelmente se sente em um cenário de novela.
chega bem cedo no laboratório, pega sua senha, já suando de emoção [uma mistura de medo
e prazer, como se estivesse entrando pela primeira vez em um avião] e fica obcecado pelo
lanchinho que o laboratório oferece gratuitamente depois da coleta. Deve ser o ambiente.
Piso brilhante de porcelanato, ar condicionado, TV ligada na Globo, pessoas uniformizadas.
O pobre provavelmente se sente em um cenário de novela.
Normalmente, se arruma para ir a consultas médicas e aos laboratórios. É comum ver
crianças e bebês com laçarotes enormes na cabeça e tênis da GAP sentados no colo de
suas mães de cabelos lisos [porque atualmente, no Brasil, não existem mais pessoas de
cabelos cacheados] e barriga marcada na camiseta agarrada.
crianças e bebês com laçarotes enormes na cabeça e tênis da GAP sentados no colo de
suas mães de cabelos lisos [porque atualmente, no Brasil, não existem mais pessoas de
cabelos cacheados] e barriga marcada na camiseta agarrada.
O pobre quer ter uma doença. Problema na tireoide, por exemplo, está na moda. É quase
chique. Outro dia assisti um programa da Globo, chamado Bem-Estar. Interessantíssimo.
Parece um programa infantil. A apresentadora cola coisas em um painel, separando o que
faz bem e o que faz mal dependendo do caso que esteja sendo discutido. O caso
normalmente é a dúvida de algum pobre. Coisas do tipo "tenho cisto no ovário e quero
saber se posso engravidar". Porque a grande preocupação do pobre é procriar. O programa é educativo, chega a ser divertido.
chique. Outro dia assisti um programa da Globo, chamado Bem-Estar. Interessantíssimo.
Parece um programa infantil. A apresentadora cola coisas em um painel, separando o que
faz bem e o que faz mal dependendo do caso que esteja sendo discutido. O caso
normalmente é a dúvida de algum pobre. Coisas do tipo "tenho cisto no ovário e quero
saber se posso engravidar". Porque a grande preocupação do pobre é procriar. O programa é educativo, chega a ser divertido.
Voltando ao exame de sangue, vale lembrar que todo pobre fica tonto depois de tirar
o sangue. Evita trabalhar naquele dia. Faz drama, fica de cama.
o sangue. Evita trabalhar naquele dia. Faz drama, fica de cama.
Eu acho que o sonho de muitos pobres é ter nódulos. O avanço da medicina - que me
amedronta a cada dia porque eu não quero viver 120 anos - conquistou o coração dos financeiramente prejudicados. É uma espécie de glamourização da doença. Faz o exame,
espera o resultado, reza para que o nódulo não seja cancerígeno. Conta para a família inteira,
mostra a cicatriz da cirurgia.
amedronta a cada dia porque eu não quero viver 120 anos - conquistou o coração dos financeiramente prejudicados. É uma espécie de glamourização da doença. Faz o exame,
espera o resultado, reza para que o nódulo não seja cancerígeno. Conta para a família inteira,
mostra a cicatriz da cirurgia.
Acho que não conheço nenhuma empregada doméstica que esteja sempre com atacada da
ciática [leia-se nervo ciático inflamado]. Ah! Eles também têm colesterol
[leia-se colesterol alto] e alegam "estar com o sistema nervoso" quando o médico
se atreve a dizer que o problema pode ser emocional.
ciática [leia-se nervo ciático inflamado]. Ah! Eles também têm colesterol
[leia-se colesterol alto] e alegam "estar com o sistema nervoso" quando o médico
se atreve a dizer que o problema pode ser emocional.
O que me fascina é que o interesse deles é o diagnóstico.
O tratamento é secundário, apesar deles também apresentarem certo fascínio pelos
genéricos.
genéricos.
Mesmo "com colesterol" continuam comendo pastel de camarão com catupiry [não
existe um pobre na face da terra que não seja fascinado por camarão] e, no final de
semana, todo mundo enche a cara no churrasco ao som de "deixar a vida me levar,
vida leva eu" debaixo de um calor de 48 graus.
existe um pobre na face da terra que não seja fascinado por camarão] e, no final de
semana, todo mundo enche a cara no churrasco ao som de "deixar a vida me levar,
vida leva eu" debaixo de um calor de 48 graus.
Pressão: 12 por 8
Como são felizes. Babo de inveja.
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