Sim, os EUA têm um presidente negro, sim, temos cotas para negros nas universidades brasileiras, sim, racismo hoje pode levar as pessoas para a cadeia.
Mas isso tudo nos deixou menos racistas? Aparentemente, nenhum pouco. Os estudos abaixo mostram que ainda temos preconceito, mesmo que estejamos menos conscientes disso.
5. Em uma simulação, somos muito mais rápidos para atirar em negros
Segundo estudos, negros têm mais chances de serem presos e condenados, bem como mortos por policiais. No geral, a ciência diz que todos nós temos mais medo de negros do que de brancos, principalmente em um nível subconsciente.
Uma pesquisa descobriu que empregadores hesitavam em escolher candidatos com nomes que sugeriam que eles eram negros. Outra mostrou que as pessoas ficam visivelmente nervosas durante conversas inter-raciais, mesmo as mais amigáveis. Outro estudo bizarro concluiu que impulsos racistas aparecem assim que a inibição de uma pessoa diminui mesmo que só um pouquinho (nesse caso, apenas com a sugestão de beber álcool).
Um dos mais impressionantes estudos feitos, no entanto, foi o de Joshua Correll, da Universidade de Colorado Boulder (EUA), que desenvolveu um jogo para colocar o jogador no papel de um policial que encontra aleatoriamente uma série de homens negros e brancos – alguns armados e alguns com objetos como carteiras e celulares na mão. O jogador tem, então, um curto espaço de tempo para decidir se deve ou não atirar.
Você já pode imaginar o resultado. Quando viam um sujeito negro, os jogadores tinham mais pressa em atirar, mesmo se ele carregasse um objeto não letal. Em contrapartida, levaram muito mais tempo para decidir se os brancos apresentavam um perigo imediato, mesmo quando estavam obviamente segurando um revólver. Os resultados foram semelhantes independentemente de o jogador ser branco, negro, jovem ou velho. Estranho? Muito.
4. Pensamos que os negros são incapazes de sentir dor
Só achar que os negros são mais perigosos que os brancos não é suficiente: também temos que achar que, como zumbis e ursos, eles são impossíveis de se machucar e não sentem dor.
Pesquisadores decidiram testar a empatia racial para ver se pessoas eram capazes de ter empatia com a dor de participantes de raças diferentes. Uma série de experimentos mostrou que as palmas das mãos dos participantes brancos começaram a suar incontrolavelmente quando eles foram forçados a assistir a pele de uma pessoa branca ser cutucada com uma agulha. Por outro lado, quando assistiram a agulha entrar em contato com a pele negra, suaram menos – o que significa que não “sentiram a dor” ao vê-la ser infligida a uma pessoa negra.
Outro estudo pediu aos participantes para avaliar quanta dor eles experimentavam a partir de ocorrências diárias, tais como bater um dedo do pé na quina ou entrar shampoo em seus olhos, em comparação com um outro sujeito negro ou branco selecionado aleatoriamente. Os participantes avaliaram as mesmas lesões como sendo mais dolorosas para as pessoas brancas (mesmo se as pessoas avaliando fossem negras). Até enfermeiros assumiram que lesões comuns causavam mais dor em pessoas brancas (mais uma vez, independentemente da raça do enfermeiro). Esse viés se estende para classes sociais: as pessoas tendem a pensar que uma perna quebrada dói muito menos para um menino de rua em um bairro devastado pela droga do que para um menino dos subúrbios, cuja dificuldade maior é esperar um iPhone 6 por uma semana após o dia do lançamento.
É tentador dizer que este é, na verdade, um viés positivo (que os negros são vistos como pessoas mais resistentes enquanto os brancos são fracotes), mas lembre-se que nem mesmo os médicos são imunes a essa suposição inconsciente. Não é legal que um médico não acredite em quanta dor uma pessoa negra está sentindo. Eles prescrevem muito menos medicação para a dor para pessoas negras, e são duas vezes mais propensos a marginalizar e diagnosticar erroneamente sintomas dolorosos em pacientes negros do que em qualquer outra etnia.
3. Professores universitários favorecem homens brancos
Universidades estão cheias de professores de bom coração dedicados a ensinar jovens brilhantes para o caminho da sabedoria e da fortuna – sempre que os jovens forem homens brancos.
Um grupo de pesquisadores da Universidade da Pensilvânia (EUA) queria ver se os professores respondiam de forma diferente a e-mails não solicitados pedindo tutoria, dependendo se o pedido vinha de Todd Stevenson, Jenny Bluth ou Lamar McPersonofcolorston (nomes que representam homens, mulheres e pessoas com sobrenomes estrangeiros). Depois de mandar e-mails idênticos para mais de 6.500 professores nas 250 melhores universidades do país, eles descobriram que os nomes que soavam como pertencentes a minorias e mulheres tinham até 25% menos probabilidade de obter uma resposta positiva do que nomes masculinos que pareciam vir de brancos, como Channing Butterworth.
Alguns dos resultados, enquanto que totalmente deprimentes, não eram exatamente surpreendentes: as maiores disparidades aconteceram entre os professores em universidades privadas e em áreas que são muito lucrativas, como engenharia e ciências. As estatísticas nas escolas de negócios foram as piores, o que praticamente coincide com a ideia de um clube dos meninos ricos e brancos que todos nós imaginamos que um grande negócio é.
O que foi surpreendente foi que, mais uma vez, raça, sexo e o departamento do professor não tiveram qualquer influência sobre os preconceitos – todo mundo preferiu o nome de homem branco ficcional.
2. Estamos menos dispostos a pagar pessoas negras pelos mesmos serviços que brancas oferecem
O site Airbnb permite aos indivíduos alugar toda ou parte de sua própria casa, como uma forma de acomodação extra. Certamente, é um negócio que opera com base na confiança. Cada proprietário tem um perfil detalhado que inclui uma fotografia, comentários de clientes ou convidados e recomendações de amigos.
Uma pesquisa mostrou que as pessoas, independentemente da cor da pele, tendem a achar os rostos brancos mais confiáveis do que os negros. Isto é especialmente verdadeiro quando há dinheiro envolvido: as pessoas estão dispostas a assumir riscos financeiros maiores com um estranho se o estranho for branco.
Isso ajuda a explicar os resultados de um estudo recente realizado por dois professores da Universidade Harvard (EUA) que examinou as diferenças entre o que anfitriões brancos e negros cobram por quartos no Airbnb. Os brancos eram capazes de cobrar 12% mais do que os negros por lugares quase idênticos praticamente na mesma região de uma cidade.
A diferença de preço é maior em bairros que as pessoas pensam serem inseguros – sugerindo que os locais em áreas menos desejáveis oferecidos para aluguel por brancos são vistos como áreas protegidas em bairros perigosos, enquanto os de anfitriões negros são percebidos como um convite a ser assaltado, morto, torturado, sequestrado…
E a coisa não para por aí. O próximo item é ainda pior.
1. Agentes imobiliários criam todo o tipo de truque para não vender casas para minorias
Se você for negro, antes de não conseguir alugar seu apartamento, você primeiro não vai nem conseguir ter um apartamento.
A cada 10 anos, o Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos EUA testa o mercado imobiliário para a discriminação. O primeiro teste, em 1977, mostrou que os agentes imobiliários essencialmente se comportavam como seguranças de boate racistas, dizendo a compradores negros que não haviam casas disponíveis, e mostrando todas essas propriedades “indisponíveis” para compradores brancos.
Não é muito diferente do que acontece nos dias de hoje. Agentes mostram menos de suas unidades disponíveis para os negros, ou mostram-lhes casas em bairros menos desejáveis. Além disso, agentes imobiliários e proprietários tendem a importunar mais as minorias sobre suas finanças: em um exemplo do último teste feito pelo governo americano, um agente se recusou a se encontrar com um potencial comprador negro que não tinha se pré-qualificado para um empréstimo, mas o mesmo agente encontrou-se com um potencial comprador branco nem sem perguntar se ele tinha ou não se pré-qualificado.
Por falar em empréstimos, os agentes ficam mais do que felizes em ajudar os candidatos brancos a fazer um financiamento, mas qualquer minoritário tem que se virar sozinho.
Finalmente, no que é sem dúvida a tática mais insana do mercado imobiliário moderno, agentes muitas vezes passam preços mais caros para potenciais compradores negros do que para os brancos. Além disso, os brancos são informados de que determinados custos, tais como depósitos, são negociáveis, enquanto os potenciais compradores de minorias não conseguem nenhuma negociação. Isso significa que, se uma pessoa negra realmente conseguir encontrar um lugar para morar, muitas vezes vai pagar mais por esse lugar do que um inquilino branco pagaria.
Por que dizer não a um cliente que paga, independentemente de raça? Pense em tudo o que você leu até agora: em um mundo onde as pessoas têm medo de (ou, pelo menos, não têm empatia por) pessoas negras, nada mais normal que pensar que é um mau negócio alugar ou vender uma casa para eles.
Depois de ler tudo isso, você ainda acha que o preconceito é coisa do passado? Só se for coisa de cinco minutos atrás. Racismo está mais para algo do futuro: provavelmente vai acontecer de novo daqui cinco minutos.
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