segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Cólera devasta favelas da África Ocidental


NYT
Uma epidemia de cólera está se espalhando pelas favelas da costa da África Ocidental, matando centenas e deixando milhares de doentes em um dos piores surtos regionais em anos, de acordo com especialistas.
A cólera, que é transmitida através do contato com fezes contaminadas, foi agravada neste ano por uma temporada de chuvas em excesso que inundou as favelas em Freetown e Conacri, as capitais de Serra Leoa e Guiné.
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Pacientes com cólera são tratados em Conacri, Guiné (16/8)
Em ambos os países, cerca de dois terços da população não possuem banheiros e defecam ao ar livre, uma ameaça potencialmente letal na época das chuvas por causa da contaminação do abastecimento de água. O grupo Médicos Sem Fronteiras disse que houve quase o dobro de casos de cólera até agora neste ano, em comparação com o mesmo período em 2007, na Serra Leoa e Guiné.
Até agora, cerca de 13 mil que sofrem dos sintomas da doença, muitas vezes fatais - diarreia, vômitos e desidratação severa - têm sido tratados nos dois países. Desses, entre 250 e 300 morreram, de acordo com o Médicos Sem Fronteiras.
Na Serra Leoa, o governo declarou o surto de cólera uma emergência nacional na semana retrasada, enquanto trabalhadores humanitários na Guiné disseram que o surto ainda não havia atingido seu auge. Ambos os países têm sido afetados há anos por conflitos civis, com a Serra Leoa ainda se recuperando de uma década de guerra que fez com que milhares de moradores das regiões rurais se mudassem para as favelas das cidades; já a Guiné acaba de emergir de quase meio século de uma ditadura brutal.
As autoridades de saúde disseram que chuvas também já contribuíram com mortes de vítimas da cólera em nações sem litoral como Mali e Níger.
Número de casos
Trabalhadores de ajuda humanitária disseram que o número de casos dessa doença altamente contagiosa continua a aumentar, particularmente em Freetown, onde a maioria vive em favelas e as crianças nadam em águas poluídas. Muitas vezes, os pacientes chegam aos centros de tratamento já em um estado avançado da doença, quando não morrendo.
Houve mais de 11,6 mil casos de cólera em Serra Leoa desde janeiro, sendo 216 deles fatais, de acordo com o ministro da saúde, Zainab Bangura. Na Guiné, houve 80 mortes de um total de 2,7 mil casos até o momento. Mais de 1 mil novos casos por semana estão sendo registrados em Freetown, disseram autoridades de saúde."Eles chegam quase inconscientes, porque estão severamente desidratados", disse Natasha Reyes Ticzon, uma coordenadora de campo de cólera para o Médicos Sem Fronteiras, em Freetown. "Nós tivemos algumas situações aonde a morte foi inevitável pois as vítimas já estavam em um estágio avançado da doença."
"Tivemos chuva forte durante todo o mês passado, e isso não está ajudando", disse Daniel Mouque do Médicos Sem Fronteiras em Conacri.
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Área com lixo em favela de Freetown, Serra Leoa (13/8)
As casas dos doentes de cólera estão sendo pulverizadas com cloro para conter a propagação da doença, disse Mouque.
Nos 14 países da África Ocidental e Central, houve até agora 40.799 casos de cólera, e 846 mortes, com mais da metade desses casos com origem na República Democrática do Congo.
2011
A Unicef disse que esses números são comparáveis aos totais regionais de 2011, quando houve mais de 105 mil casos e cerca de 3 mil mortes na que foi considerada uma das piores epidemias de cólera da região.
A epidemia do ano passado ficou concentrada mais na região do lago Chade, no Camarões, Nigéria, Chade e Níger, mas neste ano está concentrada no litoral.
Assim como em Freetown, as condições sanitárias em Conacri são miseráveis. "A coleta de lixo é altamente irregular. Há pilhas de lixo em todos os lugares", disse Sakoba Keita, médico guineense encarregado de lutar contra as doenças. "Muitos bairros não têm água potável."
Por enquanto, as autoridades estão trabalhando para tentar conter a epidemia, mesmo reconhecendo que uma resolução a longo prazo permanece indefinida para a região.
"Se a sua região está inundada com a água da chuva e as pessoas estão defecando ao ar livre, a doença certamente vai contaminar o abastecimento de água", disse Jane Bevan, especialista em saneamento regional para a Unicef. "Sabemos que os governos têm dinheiro para outras coisas. Eu tenho medo que o saneamento nunca receba a prioridade que merece. "
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Enfermeira Christiana Andeson cobre criança de 14 anos que está contaminada, em Freetown, Serra Leoa (14/8)
*Por Adam Nossiter

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