quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Há 70 anos se descortinava ao mundo o horror de Auschwitz

Prof. Julio Sosa

           Sim, foi possível. A humanidade presenciou essa barbárie feita pelas do próprio homem. Pelo menos um milhão de mortos no pior campo de extermínio sustentado pelo horror nazista; há 70 anos, em 27 de janeiro de 1945, o Exército Vermelho libertou Auschwitz, e o mundo começava a se dar conta das atrocidades ali praticadas.

uma das entradas atuais de Auschwitz

Nas  câmaras de gás e nos  crematórios de Auschwitz, no auge do Holocausto, em 1944, eram assassinadas seis mil pessoas por dia. Auschwitz tornou-se sinônimo do genocídio de judeus e tantos outros grupos perseguidos pelos nazistas.
As tropas do exército vermelho chegaram ao campo, atual Polônia, em 27 de janeiro, era um sábado à tarde, e os nazistas resistiram provocando a morte de 231 soldados soviéticos. Oito mil prisioneiros foram libertados, a maioria em situação deplorável devido a barbárie  que enfrentaram.          
"Na chegada ao campo de concentração, um médico e um comandante questionavam a idade e o estado de saúde dos prisioneiros que chegavam", contou Anita Lasker, uma das sobreviventes. Era a escola entre a vida e a morte: as pessoas eram encaminhadas para esquerda ou para direita, isto é, aos dormitórios ou aos crematórios; a alegação de qualquer problema era assinatura da sentença de morte imediata.
“Vi muitas coisas horríveis e de pesadelo nesta guerra, mas o que testemunhei em Auschwitz ultrapassa a imaginação”, escreveu o militar soviético Georgi Elisavestski numa carta à mulher, depois que o Exército Vermelho libertou o campo e ele já era o comandante.

mais de milhão de mortos em Auschwitz

“Imagina um complexo prisional, rodeado por campos menores, com capacidade para 60 mil a 80 mil pessoas, vindas de toda a parte do mundo. Ver o estado das pessoas que aqui ficaram – e compreender o que se passou aqui – é suficiente para perder o juízo”, confessava Elisavestski, citado no livro Total War – From Stalingrad to Berlin, de Michael Jones (John Murray, 2011). “Encontrámos as ruínas de quatro fornos crematórios, com capacidade para queimar milhares de pessoas diariamente”, relatava o oficial. “Traziam os prisioneiros para o que chamavam ‘descontaminação.’ Forçavam-nos a despir-se e a ir para uma sala na cave, onde havia chuveiros. Quando estava cheia, fechavam as portas e lançavam gás. Após 10-15 minutos, traziam os cadáveres para os crematórios."



prisioneiros de Auschwitz encaminhando-se à morte

O campo de concentração criado em 1940, a cerca de 60 mil quilômetros da cidade polonesa de Cracóvia, nem aparecia nos mapas dos soviéticos. Idealizado inicialmente como centro para prisioneiros políticos, o complexo foi ampliado em 1941. Um ano mais tarde, a SS (Schutzstaffel) instituiu as câmaras de gás com o altamente tóxico Zyklon B. Usada em princípio para combater ratos e desinfetar navios, quando em contato com o ar a substância desenvolve gases que matam em questão de minutos. Os corpos eram incinerados em enormes crematórios.
Seria possível que soldados que acabavam de vencer uma guerra dura, poderiam ser surpreender com alguma coisa? Auschwitz mostraria que sim. Ali os soldados viram  pessoas que eram apenas esqueletos, crianças usadas para experiências científicas; descobriram toneladas de cabelo humano – para usar na indústria têxtil – e de roupa, sapatos e objetos pessoais em ouro, que incluíam dentes, que seriam enviados para a Alemanha. Eram coisas que punham os soldados a chorar. “Tinha visto pessoas enforcadas, pessoas queimadas. Mesmo assim não estava preparado para Auschwitz…”, recordou Anatoli Shapiro, comandante do 1085.º Regimento do Exército Vermelho, o primeiro a entrar no campo.
“Vimos logo às fileiras de casernas. Abri a porta de uma. O fedor era insuportável. Era uma caserna feminina, e havia poças de sangue congeladas no chão, e cadáveres, muitos cadáveres. E lá pelo meio havia ainda pessoas vivas, seminuas, vestida, tão somente, com roupa interior fina – em Janeiro! Os meus soldados recuaram, horrorizados. Um deles disse: ‘Não consigo suportar isto. Vamos sair daqui. Isto é inacreditável! ’”
Apesar do compreensível horror os soldados seguiam em frente, continuaram abrir portas e a descortinar o inacreditável, não sabiam eles que descortinavam a história, a cada porta aberta mais horror, se descobria  “pessoas emaciadas, brutalmente torturadas”, na descrição do tenente Ivan Martinushkin. “Já não pareciam pessoas”, disse o sargento Genri Koptev. “Tinham uma pele tão fina que se podiam ver as veias e os olhos estavam salientes, porque os tecidos à volta tinham desaparecido. Quando esticavam as mãos, podia-se ver cada osso, cada tendão e articulação. Sentimo-nos tomados pelo terror. Ninguém nos tinha preparado para isto.”

Como foi possível tamanho horror? Como nos permitimos esse absurdo? Tudo seria mais fácil de ser superado se pudéssemos dizer: passou, não acontecerá mais, aprendemos. Mas, será mesmo? Se olharmos hoje o que o Estado de Israel, logo eles, fazem em Gaza e nos territórios palestinos ocupados não encontraremos um horror menor, e talvez daqui a setentas anos alguém se pergunte, com eu faço agora, como foi possível Gaza? Como foi possível Auschwitz?

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