O "outsider" multimilionário Donald Trump prestou juramento nesta sexta-feira como o 45° presidente dos Estados Unidos e anunciou, em seu discurso inaugural, marcado por um forte tom protecionista, que todas as decisões de Washington serão orientadas a priorizar o país.
"A partir deste dia, uma nova visão governará nossa pátria. A partir deste dia, os Estados Unidos vêm em primeiro lugar", disse Trump em seu discurso de 20 minutos.
O altivo ex-astro de 'reality show', sem qualquer experiência política assumiu as rédeas da primeira potência mundial das mãos do democrata Barack Obama.
Trump, que pretende deportar entre dois e três milhões de imigrantes em situação irregular e construir um muro nos 3.200 km de fronteira com o México, também enumerou em seu discurso "duas regras simples: compre [produtos] americanos e empregue [funcionários] americanos".
Ele foi aplaudido várias vezes por milhares de simpatizantes vindos de todo o país.
Antes e depois da cerimônia de posse, centenas de manifestantes anti-Trump entraram em confronto com a polícia no centro de Washington. Eles atiraram projéteis, quebraram vidraças e foram dispersados com bombas de gás lacrimogênio.
Poder para o povo
"A cerimônia de hoje tem um significado muito especial porque não estamos meramente transferindo o poder de um governo a outro, de um partido a outro. Estamos transferindo o poder de Washington DC e devolvendo-o a vocês, o povo", disse o septuagenário Trump à multidão.
Ele lamentou que o país "enriqueça as indústrias estrangeiras" e "subsidie exércitos estrangeiros".
"Defendemos as fronteiras de outros países, enquanto nos negamos a defender as nossas (...) Devemos proteger nossas fronteiras dos estragos de outros países que fabricam nossos produtos, roubam nossas empresas e destroem nossos empregos", acrescentou.
Na cerimônia de posse, celebrada nas escadarias em frente ao Capitólio, sede do Congresso americano, também prestou juramento mais cedo o novo vice-presidente, Mike Pence.
A vitória de Trump, que deixou o planeta atônito, está ancorada sobretudo nos votos de uma classe trabalhadora branca que desconfia dos políticos tradicionais e que sente que a globalização a prejudicou, transferindo empregos do México à China.
Em um documento publicado na página da Casa Branca na internet, o presidente Trump anunciou que retirará os Estados Unidos a Aliança Transpacífica (TPP, na sigla em inglês, formado por 12 países, como Chile, México e Peru, que respondem por 40% da economia mundial) e que foi assinado em fevereiro, mas ainda não foi ratificado.
Também ameaçou abandonar o acordo de livre comércio com o México e o Canadá (TLCAN).
"Se nossos parceiros se recusarem a uma renegociação que ofereça aos americanos um tratamento justo, então o Presidente comunicará a decisão dos Estados Unidos de se retirar do TLCAN", acrescentou o documento.
O México observa o bilionário nova-iorquino com inquietação. Suas políticas já lhe custaram milhões em investimentos empresariais não materializados e poderiam arrastar o país para uma recessão em 2017.
O gabinete de Trump é o mais branco e o mais rico em décadas. Tem um único negro e pela primeira vez em quase trinta anos, nenhum hispânico, o que lhe rendeu fortes críticas da principal minoria do país, com mais de 55 milhões de pessoas (17% da população).
A ausência de hispânicos no gabinete não é surpreendente para um presidente que promete tomar medidas duras contra esta minoria.
Trump também poderia voltar atrás na aproximação com Havana, impulsionada por Obama, e tudo indica que será mais agressivo com a Venezuela.
Protestos violentos
Milhares de manifestantes protestaram pacificamente, mas também houve confrontos com a polícia, constataram jornalistas da AFP.
Após a cerimônia de posse, entre 400 e 500 manifestantes atiraram projéteis contra a tropa de choque da polícia, que responderam com bombas de gás lacrimogênio.
Pouco antes, dezenas de manifestantes, muitos encapuzados e vestidos de preto, atiraram pedras, quebraram vitrines de várias lojas, de um banco e de uma limusine.
"Não às deportações, não à Ku Klux Klan, não a uns Estados Unidos fascista!", repetiam.
"Detivemos 95 pessoas" pelos crimes de "vandalismo e destruição de propriedade", disse um porta-voz da polícia, Sean Conboy.
Dois policiais ficaram feridos nos confrontos, informou.
O novo presidente promete unificar o eleitorado polarizado, mas isto não combina com seus constantes ataques a críticos, geralmente pelo Twitter: da imprensa à atriz americana Meryl Streep ou ao herói da luta pelos direitos civis John Lewis, das agências de inteligência à chanceler alemã, Angela Merkel.
Os atos de investidura começaram com uma cerimônia religiosa na pequena igreja episcopal de Saint John, de onde Trump e sua terceira esposa, Melania, uma ex-modelo de 46 anos nascida na Eslovênia, chegaram à Casa Branca.
Obama e sua esposa Michelle os aguardavam de pé na porta, ela com um elegante vestido vermelho longo. Melania, de vestido azul celeste Ralph Lauren ao estilo de Jackie Kennedy, entregou um presente a eles.
Os dois casais presidenciais tomaram um chá na Casa Branca e posteriormente percorreram juntos em uma limousine os 4 km da avenida Pensilvânia até o Capitólio.
Na escadaria do Congresso, Trump prestou juramento ao meio-dia local (15h00 de Brasília) com a mão posta sobre duas bíblias empilhadas, seguradas por Melania: uma presenteada a ele por sua mãe, em 1955, e a de Abraham Lincoln, que lutou pela abolição da escravidão, também utilizada por Obama há quatro anos.
Obama e outros três ex-presidentes - Jimmy Carter, George W. Bush e Bill Clinton - os observavam atentamente, assim como a ex-adversária de Trump, Hillary Clinton.
Após o discurso de Trump, Obama, o primeiro presidente negro da história do país, deixou Washington depois de oito anos na Casa Branca rumo a Palm Springs, na Califórnia, onde passará férias de família.
Depois da cerimônia, seguiu-se um almoço no Congresso, durante o qual Trump pediu aplausos para a ex-adversária na corrida pela Casa Branca, dizendo-se "honrado" de que Hillary e Bill Clinton tenham assistido à posse.
Trump derrotou Hillary, ex-senadora e secretária de Estado, nas eleições presidenciais americanas de 8 de novembro de 2016.
Nenhum comentário:
Postar um comentário