O governo ucraniano emitiu um alerta de combate a suas forças armadas depois que o Parlamento russo aprovou o envio de soldados para o país.
O presidente interino da Ucrânia, Olexander Turchynov, disse também que aumentou a segurança em pontos chave do território ucraniano, incluindo usinas nucleares.
A decisão foi recebida com preocupação por líderes ocidentais. O primeiro-ministro britânico David Cameron afirmou que "não há desculpa" para uma intervenção militar na Ucrânia.Horas antes, o governo de Vladimir Putin pediu ao Parlamento que aprovasse o envio de soldados para proteger os seus interesses no país. O pedido aconteceu um dia depois de manifestações pró-Rússia na Ucrânia.
Putin teve uma conversa telefônica de 90 minutos com o presidente americano Barack Obama na qual, segundo o Kremlin, deixou claro que Moscou tem o direito de proteger seus interesses e os interesses dos representantes da Rússia no país.
Ele também afirmou que a questão não se limitaria aos conflitos recentes na Crimeia, "caso a violência se espalhe pelo leste da Ucrânia".
Obama, de acordo com a Casa Branca, disse a Putin que a maneira mais apropriada de expressar suas preocupações é "pacificamente, através de conversas diretas" com o governo ucraniano e órgãos internacionais de mediação.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu a "restauração imediata da calma e do diálogo direto" e o chefe da Otan, Anders Fogh Rasmussen disse, em seu perfil no Twitter: "o fim da escalada (de tensão) na Crimeia é urgente".
O Conselho de Segurança da ONU teve uma sessão de emergência sobre o assunto neste sábado, e autoridades da Otan e da União Europeia devem dar início a negociações nos próximos dias.
Conflito sangrento
Em seu pronunciamento ao vivo pela televisão, o presidente interino Turchynov pediu que os ucranianos superem as divisões no país e não caiam em provocações.
Ele foi acompanhado pelo primeiro-ministro Arseniy Yatsenyuk, que disse estar "convencido" de que a Rússia não faria uma intervenção militar "já que seria o início de uma guerra e o fim das relações (entre os países)".
Mas a tensão é grande, não somente na Crimeia - que abriga um grande número de russos - mas em todo o país.
Neste sábado, diversas cidades ucranianas foram palco de manifestações em favor da Rússia. A opinião pública é dividida na Ucrânia, e no leste muitos cidadãos apoiam a aproximação com os russos.
Em Donetsk, tradicional reduto do presidente afastado Viktor Yanukovych, cerca de 7 mil pessoas foram às ruas. Portando bandeiras russas, eles tentaram, sem sucesso, ocupar um prédio do governo local.
Em Kharkiv, a segunda maior cidade do país, houve confrontos entre a polícia e manifestantes pró-Rússia. Em Mariupol, também houve atos públicos com bandeiras russas.
Em nota oficial, Putin pediu ao Parlamento o envio de mais soldados russos "relativamente à situação extraordinária na Ucrânia e à ameaça às vidas de cidadãos russos".
A decisão da câmara alta do Parlamento russo foi rápida e unânime. No entanto, o vice-ministro das Relações Exteriores, Grigory Karasin, disse que "isso não significa que este direito (de enviar soldados) será usado rapidamente".
Durante o debate, um dos parlamentares russos acusou o presidente americano, Barack Obama, de passar dos limites. Obama havia feito um alerta na sexta-feira para que os russos evitassem uma ação militar na Ucrânia.
O parlamento russo também pediu que o embaixador russo nos Estados Unidos seja chamado para consultas, mas essa decisão cabe a Putin, e não ao Legislativo.
Presença militar
Apesar dos acontecimentos do sábado, observadores relatam um aumento da atividade militar russa na Crimeia - que já abrigava a frota russa no mar Negro - nos últimos dias.
Os relatos mais recentes dizem que dois navios russos anti-submarino apareceram na costa da Crimeia, violando um acordo a respeito da presença da frota russa na península.
Soldados russos já estariam montando guarda em uma série de edifícios administrativos e bases militares na Crimeia. O Parlamento, aeroportos, o prédio da televisão estatal e outros centros de telecomunicações também teriam sido cercados pelo Exército russo.
Cerca de 6 mil soldados russos e 30 veículos blindados a mais já estão na Crimeia, segundo o ministro da Defesa ucraniano Ihor Tenyukh.
O líder recém-eleito da Crimeia Sergiy Aksyonov, que é pró-Moscou, disse ter pedido ajuda a Putin para garantir a paz na península.
No entanto, o governo interino em Kiev não reconhece Aksyonov e seu governo e decretou neste sábado que a eleição dele - que aconteceu em uma sessão de emergência do Parlament regional nesta semana - é ilegal.
A Ucrânia e a Rússia vivem dias de grande tensão, em uma disputa de influência entre o Ocidente e os russos na Ucrânia.
No mês passado, após várias semanas de protestos nas ruas da capital Kiev, o presidente ucraniano, Viktor Yanukovych, foi afastado por uma votação no Parlamento. As manifestações começaram em novembro do ano passado, quando Yanukovych rejeitou uma aproximação com a União Europeia em prol de um acordo econômico com a Rússia.
Um governo interino crítico à influência russa assumiu a Ucrânia após a queda de Yanukovych, que agora é procurado pela Justiça do país, acusado de mandar matar manifestantes. O ex-presidente recebeu abrigo na Rússia e prometeu continuar lutando pelo seu país.
Na última semana, o foco do conflito passou a ser a Crimeia, uma região de 2,3 milhões de habitantes que faz parte da Ucrânia, no litoral do Mar Negro. Muitos na Crimeia se consideram russos étnicos e falam o idioma russo, com grande simpatia por Yanukovych.
Agora, há temores de que a Ucrânia e a Rússia possam entrar em conflito pelo controle da Crimeia.
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