sexta-feira, 4 de outubro de 2013

O planeta chega ao seu limite

Até agora, três dos limiares planetários – a mudança climática, a perda da
biodiversidade e o ciclo do nitrogênio – já foram excedidos, e mais quatro –
ciclo do fósforo, acidificação dos oceanos, uso de água doce e do solo –
serão logo ultrapassados se as atividades humanas mantiverem o ritmo atual
por Amâncio Friaça
Um recente artigo da renomada revista Nature, assinado por 29 cientistas,
busca quantificar o impacto da atividade humana sobre a Terra, identificando
processos biofísicos e seus limiares que, se transgredidos, podem gerar
mudanças ambientais inaceitáveis1
. Johan Rockström, da Universidade de
Estocolmo, e os coautores propõem nove “limiares planetários”: mudança
climática; perda da biodiversidade; interferência nos ciclos do nitrogênio e do
fósforo; acidificação dos oceanos; uso global de água doce; mudanças no uso
do solo; destruição do ozônio estratosférico; emissão de aerossóis na
atmosfera; e poluição química. Esses limites definem um “espaço de
operação seguro” para as pressões humanas sobre a biosfera. O respeito
desse espaço permitiria à humanidade continuar a prosperar por vários
séculos no futuro.
10 mil anos de estabilidade
O planeta experimentou uma excepcional estabilidade ambiental nos últimos
10 mil anos. Este período, o Holoceno da geologia, começou no final da
última glaciação e é caracterizado por uma temperatura global amena e
praticamente constante, além de pouca variação dos fluxos geobioquímicos e
da disponibilidade de água doce. Porém, na história do Homo sapiens
sapiens, a estabilidade ambiental é exceção e não regra. Nos cem mil anos
anteriores ao Holoceno, a temperatura global flutuou irregularmente. Foi
quando nossa espécie exibiu uma imensa mobilidade: saiu da África, chegou
à Austrália, migrou à Europa e entrou na América. Porém, a agricultura só
surgiu durante o Holoceno. Antes, o clima errático, com amplas variações,
teria dificultado a fixação do homem na terra. No Holoceno, a regularidade
das estações favoreceu a passagem do nomadismo ao sedentarismo e a
agricultura se desenvolveu na maior parte do globo; surgiram as cidades e as
civilizações complexas. Com base na evolução prevista da órbita da Terra em
torno do Sol, o Holoceno poderia prolongar-se por mais 50 mil anos2
.
Ironicamente, contudo, foi a estabilidade mesma dessa era que antecipou o
seu fim ao favorecer o desenvolvimento da humanidade e de suas ações
destrutivas.
Os sistemas ecológicos têm a capacidade de responder a perturbações
(incêndios, vulcanismo, pragas etc.) retornando a um estado próximo do
inicial. Esta propriedade, a “resiliência”, permite que o sistema se recupere
dos choques sofridos. A resiliência da biosfera manteve fatores-chave
biogeoquímicos e atmosféricos flutuando dentro de uma faixa estreita durante
o Holoceno. Contudo, estresses extremos podem romper a resiliência de toda
a biosfera, que então colapsa. É o que ocorreu nas cinco extinções em
massa, com causas astronômicas, vulcânicas ou atmosféricas. A última delas
há 65 milhões de anos, viu o desaparecimento dos dinossauros.

Fonte:blog da Unigranrio.

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