sexta-feira, 9 de março de 2012

Conheça as 'néns', patricinhas que moram longe do Leblon - Comportamento







Elas são vaidosas, gostam de vários estilos de música e seguem no Rio de Janeiro uma tendência particular na hora de se vestir




Valmir Moratelli













Foto: Selmy YassudaAmpliar



Jessyca e Grazy Bastos, as irmãs "Dolls": maquiadas e com champanhe na praia






Para começar, ném chama todo mundo de ném. Durante esta reportagem, o repórter perdeu a conta das vezes em que foi chamado dessa forma. Ném adora tirar fotos com a mão na cintura e pede para que depois sejam enviadas para seu email, porque precisa atualizar o álbum do Facebook. Nas redes sociais, gosta de publicar fotos tiradas no espelho ou mesmo na praia, sempre de biquíni ou trajes sensuais.


“Ném” (redução da palavra “neném”, que o iG optou por manter acentuada por ser escrita dessa forma pelas adeptas do termo) é uma gíria que surgiu nos morros cariocas. Começou como algo carinhoso, uma forma de chamar alguém com mais intimidade. Mas logo ganhou as ruas da cidade e agora invadiu as praias do Rio. “Todo mundo é um pouco ném. Eu sou ném desde que nasci”, se diverte a empresária Swellen Sauer, 27 anos, que se apresenta soletrando o nome cheio de “detalhes”.





Foto: Selmy YassudaAmpliar



Vaidade: telefone também ajuda como espelho




Detalhes também estão no visual de uma autêntica ném. Elas gostam de vestidos justíssimos, com as pernas à mostra. Sempre de salto alto. Não saem de casa sem maquiagem e, claro, o celular – que parece só funcionar no modo viva-voz.


Códigos comportamentais


Néns são divertidas, engraçadas, cheias de atitude. Algumas a definem como “patricinhas do subúrbio”, por não morarem na zona sul da cidade. Sem qualquer tipo de preconceito, elas se definem como estilosas. “Não tenho objeção ao termo. Na gíria, ‘ném’ é a menina gatinha, mulher que se cuida. Quem está fora é que vê de modo pejorativo”, afirma Tania Emanuelle – com duplo L no nome, claro. Moradora de Vaz Lobo, subúrbio do Rio, ela é guarda municipal, tem 30 anos e está se lançando como funkeira, sob a alcunha de Manu Arrasadora.



Suas unhas parecem o esboço de uma artista detalhista, tamanha a quantidade de cores em tão pequeno espaço para os desenhos. Mas nem todas as néns gostam de funk. São ecléticas. O termo não está preso a uma denominação musical, mas a uma série de códigos comportamentais (veja a lista no final da matéria). Por isso o próprio termo entra em discussão. “Não gosto de ser chamada de ‘ném’ porque fica parecendo que é rótulo de funk. E eu gosto de tudo”, analisa Jéssyca Bastos, de 23 anos.





Foto: Selmy Yassuda



Nem todas são funkeiras, mas Tania Emanuelle quer ser MC






Com sua irmã, Grazy, de 25 anos, Jessyca não só divide o ‘y’ no nome, como forma a dupla Dolls, que canta música pop no estilo Kelly Key. “Somos muito vaidosas. Não posso ver um espelho, que paro para ajeitar os cabelos”, conta Jessyca, moradora da Freguesia, zona oeste do Rio. “Também me vejo como patricinha, o estilo é esse mesmo”, completa a irmã.


Swellen acredita que ném é uma gíria genérica, que pode ser aplicada a várias situações. “Há diferentes escalas de ‘ném’. Você pode não apresentar todos os sintomas de ném, mas alguma coisa com certeza vai ter para se identificar”, brinca a moradora de Curicica, outro bairro da zona oeste da cidade.





Foto: Selmy YassudaAmpliar



Tatuagens ajudam a compor o visual das "patricinhas"




A confusão é que tem gente que confunde ‘ném’ com outro termo surgido no funk, a ‘piriguete’. “Não tem nada a ver. A piriguete é aquela menina que dá em cima dos caras, que é atirada mesmo. Uma ném é mais romântica”, compara Swellen.


Um brinde com champanhe


Apesar de elas morarem longe da praia, todas têm em comum o hábito de curtir a azaração das areias. Principalmente se for para, junto com as amigas, degustarem champanhe com energético. É quando exibem as tatuagens (de preferência inscrições em idiomas que não dominam) e piercings que balançam no umbigo. Cintia de Pina Pereira, estudante de Direito, moradora do Meier, zona norte da cidade, ainda não tem piercings. “Não tive coragem, queria fazer no umbigo”, conta a jovem.



Elas chamam tanta atenção que, durante a sessão de fotos para esta reportagem, Jéssyca ouviu uma cantada bem-humorada de um homem que passava no calçadão da praia. “Nossa, que é isso, hein? Adorei a sandália, ném”. Há quem critique o exagero na hora de se maquiar ou mesmo de escolher a roupa ideal para sair. Elas não dão a mínima para isso. “O importante é se sentir bem, estar feliz. E não se importar com o que os outros falem. Pode criticar, mas todo mundo olha”, diz Tania Emanuelle, sendo interrompida várias vezes pelo seu celular, no viva-voz. Ném que é ném sempre deixa o celular no viva-voz.





Foto: Selmy Yassuda



Swellen Sauer: "Todo mundo é um pouco ném'"






Veja a seguir uma série de itens presentes no comportamento das néns. Em algum momento, você também vai se identificar com este estilo despojado e bem-humorado das cariocas.


Como identificar uma ném:


1. Toda ném é vaidosa. Gosta de sair bem arrumada, com vestidos coloridos e salto alto.
2. Ném usa o perfume “Angel”, da Victoria’s Secret.
3. A maquiagem precisa ser bem chamativa, com sombra colorida em torno dos olhos. Tem quem goste até de rímel azul.
4. Ném posta fotos de biquíni nas redes sociais para exibir a boa forma.
5. Faz “chapinha” no cabelo. Quase diariamente.
6. Tem unhas coloridas, grandes e decoradas.
7. Nem todas gostam de funk, mas todas foram aos inúmeros shows de despedida do Exaltasamba.
8. O celular da ném chega primeiro do que ela nos lugares. Isso porque ele toca, nas alturas, ringtones de sucessos do momento (como o “Ai se eu te pego”). E elas adoram falar no viva-voz.
9. Na folga do trabalho, ném vai para onde tem música. Não importa que tipo de música.
10. Néns são carinhosas e expõem o que pensam. Quando têm carro, colam o adesivo “Eu amo minha família” na traseira do veiculo.
11. Vão à praia todo final de semana. E adoram beber champanhe com energético com as amigas. O biquíni geralmente é com babados.
12. Exibem tatuagens na nuca, no cóccix e, de preferência, no antebraço. Elas gostam de tatuar palavras em outro idioma – do inglês ao japonês, mesmo que não dominem a língua.
13. Moram longe da praia, nas zonas oeste e norte do Rio. A maioria usa ônibus para se locomover.
14. Ném tem vários piercings pelo corpo. Nariz e umbigo são as partes mais enfeitadas pelos acessórios. Ideal é ter junto algum penduricalho.
15. O importante é ser feliz. Ném não se importa com o que os outros pensam dela.























Cintia de Pina Pereira - Foto: Selmy Yassuda


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Make: Maurício Nazário / Agradecimentos: Champagne Peterlongo (21 3476-2913), salão Ferluz Studios (21 2494-1116)


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