Beleza Adormecida, da estreante diretora australiana Julia Leigh, definitivamente não é um filmeconvencional. É uma história recheada de drama, um certo suspense e incógnitas que não são reveladas explicitamente. O ponto de vista de cada pessoa é que determina o motivo de muitas das ações e reações contidas no enredo. Apesar do título aparentemente doce e que poderia pertencer a um conto de fadas, esta obra não chega nem perto do clássico A Bela Adormecida, da Disney, pois Beleza Adormecida está longe de ser um mundo repleto de fantasias inocentes.
É perceptível que o objetivo da diretora neste longa é criar uma áurea de incômodo, com total atenção e foco na personagem principal, Lucy (Emily Browning, de Sucker Punch). Lucy é uma garota jovem e dona de uma beleza angelical. É independente, mora sozinha em um uma pensão e paga aluguel. Além disso, ela também estuda e é cobaia de um aparente cientista. Fuma, usa algumas drogas e tem apenas um amigo, a quem visita de vez em quando. Uma onda de mistério parece envolvê-la a cada cena.
Para manter-se financeiramente, trabalha em um escritório e em uma lanchonete. A princípio, nada de mais, nenhuma história surpreendente, mas a vida de Lucy muda completamente quando ela entra em contato com uma cafetina de luxo, Clara (Rachael Blake), e a partir daí se submete às mais sórdidas experiências em troca de ganhar algum dinheiro.
A moça aceita trabalhar como garçonete em jantares luxuosos para homens mais velhos e muito ricos, trajando apenas lingerie; mas o ápice de sua atuação é quando Lucy – ou Sara, seu codinome –, torna-se um objeto sexual para velhotes. São cenas impactantes, até mesmo chocantes. A regra é simples: a garota toma um chá, adormece, e o seu ‘cliente’ entra no quarto e a acaricia, ou faz qualquer outra coisa que quiser, exceto conceber o ato de uma relação sexual.
Apesar da nudez ser explícita, não chega a ser despudorada; é apenas um corpo, um corpo sendo usado como um utensílio, uma forma de emanar prazer. Emily Browning é uma atriz muito jovem, e prova neste filme que, apesar do rosto doce e ingênuo, pode atuar com a maturidade de uma mulher. Vendo-a, pode-se imaginar que ela poderia ter saído do livro Mulheres, de Charles Bukowski.
Roteiro de Julia Leigh é bem construído, mas falta de trilha sonora em Beleza Adormecida é um ponto fraco
Ao assistir a um longa-metragem dramático, um elemento que se pode esperar com avidez é uma trilha sonora, mesmo que por alguns momentos, em determinadas cenas. Entretanto, isso não acontece emBeleza Adormecida. Não há sequer um background, nem mesmo ruídos, é literalmente um filme silencioso, de poucas palavras e mais expressões.
Além desse pormenor, os frames do término de cada cena são finalizados sempre com uma tela negra, com um fade out, o que passa uma sensação melancólica. É um ponto positivo, exceto pelo fato de que há situações que não são cabíveis nem mesmo de aparecerem, por serem desnecessárias. Por outro lado, há cenas reflexivas e que cada espectador provavelmente terá um ponto de vista próprio.
Mesmo com características aparentemente simples, como prostituição, drogas e instinto de sobrevivência, essa produção não é e nem tenta fazer o estilo ‘agradar a todos’. É muito original, e em matériade de ter explorado toda essa fantasia obscena, foi muito feliz e merece ser analisado sob olhares atentos às particularidades. Não é um filme feito para assistir em família, isso seria extremamente constrangedor, mas vale a pena mergulhar nesse fascinante mundo de promiscuidade, certa ganância e alter egos de Lucy.
Por: Alessandra Caires
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