A ausência na coleta de lixo em Duque de Caxias deixou um cenário quase apocalíptico na cidade
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Foto: Mauro Pimentel / Terra
A crise na cidade mais populosa da Baixada, e cuja economia é a segunda maior do Rio de Janeiro, se intensificou desde outubro, após as eleições. A Locanty, empresa responsável pela coleta de lixo da cidade, passou a reclamar falta de pagamento, e pedir o rompimento do contrato. A coleta passou a ser feita, então, de forma precária. Nesta semana, a Locanty informou que não recolheria mais o lixo na cidade.
A prefeitura alega que o fechamento do aterro sanitário de Gramacho, ali mesmo em Caxias, prejudicou o escoamento do material descartado pela população.
Na sexta-feira, quase três meses após o lixo começar a se acumular nas ruas da cidade, o governo do Estado decidiu patrocinar uma força-tarefa para tentar aliviar o drama dos caxienses. Um mutirão liderado pelo prefeito eleito, Alexandre Cardoso (PSB), e que terá apoio da secretaria estadual de Ambiente, terá início amanhã para tentar restabelecer na cidade condições mínimas de higiene para os mais de 855 mil habitantes.
Comércio afetado
Na região central de Caxias imperam a sujeira e o mau cheiro: centenas de montes de lixo espalhados a cada esquina fazem boa parte dos pedestres circularem tapando o nariz. É ali que se concentra o comércio da cidade, onde estão boa parte das lojas, restaurantes e bares.
Na região central de Caxias imperam a sujeira e o mau cheiro: centenas de montes de lixo espalhados a cada esquina fazem boa parte dos pedestres circularem tapando o nariz. É ali que se concentra o comércio da cidade, onde estão boa parte das lojas, restaurantes e bares.
O lixo espalhado vem afetando as vendas de alguns comerciantes. É o caso de Erivaldo Corrêa de Souza, dono do Blek Bar, situado na avenida Doutor Manoel Teles. Diante do lixo jogado praticamente na porta de seu estabelecimento, ele lamenta que as vendas de seu negócio despencaram, e que será difícil fechar as contas deste mês.
"Ontem não consegui trabalhar com esse cheiro. Hoje, ainda de manhã, já estou pensando em fechar. Está difícil ficar aqui na loja, estou me sentindo mal, estou com tonteiras. E não aparece nenhum cliente", conta o comerciante, olhando para o bar deserto.
Erivaldo é dono do bar há 23 anos, e teme não ter dinheiro para pagar o aluguel que vence no próximo dia 5. Ele acrescenta que reduziu as compras para o bar, diante do menor movimento de clientes, afugentados pelo lixo próximo ao local. "Em 23 anos aqui, nunca vi nada parecido. Os fregueses não entram. De manhã, sempre tem alguém aqui. Nesses dias, nada. E não temos com quem reclamar, já que o prefeito, a essa hora, está bem longe", critica.
Em frente ao bar de Erivaldo e de boa parte da rua, o lixo espalhado exala um mau cheiro insuportável e atrai vermes e insetos. Além do potencial de transmissão de doenças, o material não recolhido atrapalha o tráfego de veículos, já que o lixo ocupa parte da via. A caótica situação assusta até os moradores mais antigos, que já viram o Centro sem asfalto, e alagado após fortes chuvas.
"Tenho 65 anos, sempre morei em Caxias, e nunca vi nada parecido. Nem no tempo em que tudo isso aqui era terra. É muito triste", afirma o aposentado José Silva.
Hospitais sem limpeza
A crise em Caxias não se resume ao lixo. Funcionários da prefeitura reclamam de salários atrasados, e as condições nos hospitais, clínicas e postos de saúde da cidade deixam bastante a desejar. No hospital infantil Ismélia Silveira, pais das crianças ali atendidas denunciam péssimas condições de higiene e a presença de moscas nos quartos onde os filhos permanecem internados.
A crise em Caxias não se resume ao lixo. Funcionários da prefeitura reclamam de salários atrasados, e as condições nos hospitais, clínicas e postos de saúde da cidade deixam bastante a desejar. No hospital infantil Ismélia Silveira, pais das crianças ali atendidas denunciam péssimas condições de higiene e a presença de moscas nos quartos onde os filhos permanecem internados.
"Está tudo imundo. Os funcionários passam e limpam o chão com pano molhado. Não tem material de limpeza para desinfetar. Temi pelo meu filho ali", diz Reinaldo do Rosário, que está desempregado e deixava a unidade com o filho Tales, 4 anos, que teve alta depois de um quadro de pneumonia.
Em frente ao hospital infantil, no Centro Municipal de Saúde, o cenário é parecido. A unidade, que não tem pronto-atendimento, está em péssimo estado de conservação, e há muita sujeira em toda a parte. O banheiro ao lado da farmácia tem fezes espalhadas pelo vaso sanitário e sujeira acumulada em toda a parte. Em frente, no pátio da unidade, sacos de lixo com material hospitalar estão amontoados, sem qualquer tipo de proteção, no mesmo local onde os pacientes circulam.
Prefeito não é visto há semanas
A crise em Caxias marca o ocaso de um ícone político da história recente da cidade. Zito governa a cidade pela terceira vez, e termina a administração com recordes de impopularidade. Ao final de seu primeiro mandato, em 2000, a situação era completamente inversa. Depois de assumir em 1997, Zito teve seu primeiro governo amplamente aprovado, e foi reeleito. Na época, era o político mais popular da Baixada, e apontado como um nome que poderia ter destaque futuro na política estadual.
A crise em Caxias marca o ocaso de um ícone político da história recente da cidade. Zito governa a cidade pela terceira vez, e termina a administração com recordes de impopularidade. Ao final de seu primeiro mandato, em 2000, a situação era completamente inversa. Depois de assumir em 1997, Zito teve seu primeiro governo amplamente aprovado, e foi reeleito. Na época, era o político mais popular da Baixada, e apontado como um nome que poderia ter destaque futuro na política estadual.
O segundo mandato, no entanto, não teve a mesma aprovação, e Zito não conseguiu eleger seu sucessor. Depois de rodar por diferentes partidos, como PDT e PSDB, acabou sendo eleito novamente à prefeitura em 2008, e finaliza o mandato na próxima segunda-feira. Ele tentou se manter no poder, mas sequer chegou ao 2º turno, ficando em 3º lugar.
Zito não é visto há semanas, e comenta-se que ele nem está mais em Caxias. O prefeito eleito, Alexandre Cardoso, disse ter tentando contato com o atual mandatário para tratar a questão do lixo, mas não o encontrou. Na porta da casa de Zito, seguranças à paisana permanecem de prontidão, para evitar manifestações populares.
Mutirão emergencial
O esquema emergencial que será iniciado na sexta-feira contará com 80 caminhões de coleta, dez caminhonetes do Corpo de Bombeiros, dois caminhões-pipa e 300 voluntários. A ideia, segundo a equipe do prefeito eleito, Alexandre Cardoso, é fazer com que a população entre em 2013 com um cenário mais digno, retirando boa parte do lixo espalhado pela cidade.
O esquema emergencial que será iniciado na sexta-feira contará com 80 caminhões de coleta, dez caminhonetes do Corpo de Bombeiros, dois caminhões-pipa e 300 voluntários. A ideia, segundo a equipe do prefeito eleito, Alexandre Cardoso, é fazer com que a população entre em 2013 com um cenário mais digno, retirando boa parte do lixo espalhado pela cidade.
A expectativa é que, até a próxima segunda-feira, 8 mil t de lixo sejam retiradas das ruas da cidade. O volume que está espalhado, segundo a futura administração, é muito maior, mas ainda não pode ser calculado.
A partir da próxima quarta-feira, já em 2013, duas empresas a serem contratadas em caráter emergencial passarão a cuidar da limpeza da cidade. Será iniciada ainda uma campanha de conscientização para que os moradores só coloque lixo nas ruas próximo aos horários em que os caminhões irão passar. A nova agenda de recolhimento de lixo será informada à população, segundo a equipe de Cardoso
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