Em depoimento à Polícia Federal, a testemunha corrobora o inquérito que investiga pagamentos da Odebrecht para o MDB, que teriam sido acertados previamente por Michel Temer, em 2014, no Palácio do Jaburu; entenda
O policial militar Abel de Queiroz afirmou ter feito pelo menos duas entregas de dinheiro vivo ao advogado José Yunes, que é amigo pessoal do presidente Michel Temer, entre 2013 e 2015.
As informações são do jornal Folha de S.Paulo , que obteve a transcrição do depoimento dado por Queiroz à Polícia Federal no dia 28 de março, que estaria mantido em sigilo. O PM é testemunha no inquérito que investiga pagamentos de R$ 10 milhões por parte da Odebrecht a campanhas do MDB, que teriam sido acertados com Temer no Palácio do Jaburu, em 2014.
O policial trabalhava como motorista para a Transnacional, empresa que atua no transporte de valores contratada por companhias ligadas à Operação Lava Jato , entre elas, a Odebrecht.
Segundo Queiroz, ele dirigiu o veículo blindado até o escritório de Yunes pelo menos duas vezes. Ele contou que, nas ocasiões, os agentes identificados como Oliveira e Alves levaram para dentro do imóvel os valores.
O depoimento contribui para a acusação do Ministério Público Federal, apresentada em 21 de março, contra o advogado e outros aliados do presidente, onde Yunes teria atuado mais de uma vez como arrecadador de recursos ilícitos para o presidente.
Aceita pela Justiça Federal em Brasília, foi aberta uma ação penal contra o advogado e outro amigo de Temer, o coronel João Baptista Lima Filho, por organização criminosa.
Quantia
De acordo com a testemunha, que trabalhou por dois anos na Transnacional, até meados de 2015, o valor máximo das remessas era de R$ 300 mil, limite coberto pelo seguro das operações. Porém, em 2014, ano eleitoral, o teto teria sido expandido.
O PM ainda disse que não saberia dizer quais valores teriam sido levados e as datas em que aconteceram as entregas, “pois era encarregado [de levar a quantia até o imóvel] que tinha mais contato com esses dados”.
Yunes já admitiu ter se envolvido em uma operação que teria sido uma “mula involuntária” do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, quando recebeu um pacote em que não sabia sobre sua origem, destino e conteúdo.
O corretor de valores Lúcio Bolonha Funaro , delator da Lava Jato, que cumpre prisão domiciliar, chegou a confessar que foi buscar R$ 1 milhão no escritório de Yunes em setembro de 2014, a pedido de ex-ministro Geddel Vieira Lima. Funaro afirma que o advogado sabia do que se tratava.
Em setembro daquele ano, as planilhas do departamento de propinas da Odebrecht registraram a remessa desse valor ao escritório do amigo de Temer no dia 4 daquele mês e ano. O repasse seria parte do suposto acordo feito pelo presidente para o caixa dois do MDB. Temer nega ter participado de conversas sobre caixa dois.
Defesa
Segundo o advogado de Yunes, José Luís de Oliveira Lima, seu cliente “com mais de 50 anos de advocacia, jamais se prestou a desempenhar o papel de intermediário”.
Além disso, ele acrescentou, em nota enviada à Folha de S.Paulo que “quanto às informações de Lúcio Funaro, o seu histórico demonstra que sua fala não merece qualquer credibilidade”.
Já o advogado de Temer, Brian Alves Prado, informou que a defesa do presidente não teve acesso ao depoimento e, portanto, não poderá comentar sobre o caso.
Em fevereiro, Temer chegou a dizer que pediu “auxílio formal e oficial” à Odebrecht em 2014 para sua campanha, mas ressaltou que não autorizou ou solicitou que “nada fosse feito sem amparo nas regras da Lei Eleitoral”.
O depoimento contribui para a acusação do Ministério Público Federal, apresentada em 21 de março, contra o advogado e outros aliados do presidente, onde Yunes teria atuado mais de uma vez como arrecadador de recursos ilícitos para o presidente.
Aceita pela Justiça Federal em Brasília, foi aberta uma ação penal contra o advogado e outro amigo de Temer, o coronel João Baptista Lima Filho, por organização criminosa.
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