domingo, 11 de setembro de 2011

O que está a matar as orcas?

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Killer whale (c) Brendan Cole / NPL

As orcas, os predadores mais ferozes do oceano e facilmente reconhecidos pelas suas manchas negras e brancas, parecem ter um futuro igualmente negro. Os peritos estão preocupados com a ameaça invisível à sobrevivência dos animais que tem vindo a crescer desde a Segunda Guerra Mundial, momento em que a indústria começou a utilização intensiva dos retardantes de chama, como os PCB.

Estes compostos químicos, descobriu-se mais tarde, são perigosos para a saúde humana e para o ambiente e acabaram por ser banidos pelas autoridades mundiais na década de 70 do século passado. Mas o seu legado permanece vivo nos oceanos mundiais, dizem os biólogos, onde representam uma ameaça para animais como as orcas.

Ingrid Visser, cresceu a observar orcas na Nova Zelândia e tem dedicado a sua vida a saber mais sobre elas. A população de orcas da ilha tem menos de 200 indivíduos e está por isso listada como ameaçada.

"Elas caçam em águas da Nova Zelândia em busca de raias nas águas mais baixas e de tubarões em águas mais profundas", diz Visser. "Estas orcas são únicas porque são a única população até agora reconhecida especializada na caça de raias e tubarões."

Mas, de acordo com os estudos de Visser, esta dieta única pode ser a razão porque a população não está a crescer.

Como mamíferos de grande porte, as orcas consomem grande quantidade de presas e esta posição de predadores de topo torna-as particularmente vulneráveis a alterações nas suas presas. As orcas alimentam-se de peixes que, por sua vez, se alimentam de presas contaminadas ou que absorvem poluição directamente da água. Desta forma, as orcas acabam por ingerir toda a poluição da cadeia alimentar, um processo conhecido como bioacumulação.

Visser diz que os seus estudos de corpos de orcas que deram à costa e dos tubarões e raias de que se alimentam confirmaram este receio. "As suas presas estão poluídas e observamos picos dos mesmos compostos químicos nas orcas."

As orcas da Nova Zelândia não são as únicas que vivem com a poluição, de acordo com Alex Rogers, professor de biologia da conservação na Universidade de Oxford. "Estudos já têm identificado níveis elevados de retardantes de chama em orcas, particularmente nas do hemisfério norte, por exemplo ao largo da costa do Canadá e do Árctico no Pacífico. Estes químicos também foram encontrados em altas concentrações nas orcas do hemisférico sul."

Os PCBs (bifenís-policlorinados) foram banidos a nível global na década de 70 e nos últimos anos a União Europeias também baniu a utilização de PBDEs (difenil-éter-polibrominados) nas espumas de mobiliário e artigos eléctricos pelo sua potencial toxicidade.

"Os dois grupos principais de compostos químicos retardantes de chama, os PCBs e os PBDEs, têm uma vasta gama de efeitos nos animais, incluindo interferências com função da tiróide e do metabolismo da vitamina A, efeitos negativos no desenvolvimento neurológico e reprodutivo e impactos na função imunitária", diz Rogers.

Mas apesar das acções para limitar a utilização destes compostos, também conhecidos como poluentes orgânicos persistentes (POP), os peritos sugerem que os danos já foram feitos. "Os PCBs não são solúveis em água, apenas se dissolvem e acumulam no tecido adiposo", diz Paul Jepson, da Zoological Society de Londres.

Jepson considera que esta solubilidade em gorduras é uma questão essencial para as fêmeas dos cetáceos que alimentam as suas crias até ao ano de idade com leite muito rico em gordura para estimular o seu desenvolvimento. "Há uma imensa transferência maternal, calcula-se que nas baleias e golfinhos cerca de 90% ou mais da carga corporal da mãe de PCB pode ser descarregada, particularmente na primeira cria."

Os POP são um problema que não vai desaparecer. "Apesar dos PCBs terem sido banidos, são tão resistentes à degradação no ambiente que o declínio destes poluentes está a ser muito lento", diz Jepson.

No seu papel de coordenador do Cetacean Strandings Project do Reino Unido, Jepson contacta regularmente com mamíferos marinhos e os seus estudos com botos salientaram o recorrente impacto destes compostos. "Não observamos na realidade qualquer declínio nos PCBs nos botos e os níveis destes compostos em águas britânicas parecem ter estabilizado desde 1997."

Jepson diz que as descobertas de Visser podem originar uma séria razão de preocupação para com as orcas de todo o mundo, especialmente as próximas de zonas fortemente poluídas e industrializadas. "Os níveis de poluentes, particularmente com PCBs, serão muito mais elevados em águas europeias do que nas águas neozelandesas", diz Jepson. "Se lá estão a encontrar níveis tão elevados nas orcas é realmente muito preocupante para nós."

Esta permanece uma área controversa de estudo, quanto mais não seja pela natureza esquiva dos objectos de estudo. As orcas apresentam a distribuição mais cosmopolita dos animais, sendo encontradas em todos os oceanos do mundo mas os seus vastos territórios, natureza predatória e estilo de vida ligado às profundezas tem restringido os estudos de longo prazo para determinar a dimensão das populações.

Há muito poucas oportunidades para estudar estes animais em terra pois raramente dão à costa: o último encontro de Jepson com uma orca em terras britânicas foi há 12 anos, pelo que pouco se sabe sobe as causas de morte das orcas e se há poluentes nos seus corpos.

Visser, ainda assim, está determinada em registar as orcas da Nova Zelândia na esperança de que estas forneçam informação que ajude a sua conservação. Para o fazer, os cientistas estão literalmente a mergulhar no mundo das orcas para documentar o seu comportamento e saúde.

Sem estudos aprofundados das populações de todo o mundo, não haverá evidências que permitam saber verdadeiramente se estão em declínio.

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