domingo, 18 de setembro de 2011

Bangkok corre risco de afundar | oecocidades

Mais de 1 milhão de edifícios estarão ameaçados pelo aumento do nível do mar, foto: Mr.Wood

Entre os desafios prementes enfrentados pelo novo governo da Tailândia, eleito em julho, está o fato de que a cidade está, aos poucos, afundando. As previsões mais pessimistas sugerem que partes da capital tailandesa poderão estar debaixo da água até 2030, mas, apesar disso, especialistas apontam a falta de uma política clara para evitar o desastre iminente.

Vários fatores – como as mudanças climáticas, o aumento do nível do mar, a erosão costeira e o deslocamento do solo argiloso­ – ameaçam a cidade sobre o delta do rio Chao Phraya, fundada em 1782 pelo primeiro monarca da dinastia Chakri, família ainda no poder. A população aumentou consideravelmente, com cerca de 10 milhões de pessoas atualmente vivendo na cidade e nos subúrbios. Até mesmo o peso dos arranha-céus, cujo número não para de crescer com a conurbação, contribui para a imersão gradual de Bangkok. Parte da metrópole está, hoje, abaixo do nível do mar e o chão está afundando de 1,5 a 5 centímetros por ano.

De médio a longo prazo, mais de 1 milhão de edifícios estarão ameaçados pelo aumento do nível do mar, dos quais 90% são residenciais. De acordo com o Instituto Asiático de Tecnologia, os pisos térreos desses prédios poderão sofrer 10 centímetros de inundação em algumas épocas do ano. No porto de Samunt Prakan, cerca de 15 quilômetros a jusante da capital, os moradores de casas isoladas ao longo do rio já passam vários meses do ano com água no nível dos seus tornozelos.

Um estudo publicado em dezembro pelo Banco Mundial em parceria com o Asian Development Bank e com a International Co-operation Agency, do Japão, destacou a ameaça que as mudanças climáticas representariam para três megacidades: Bangkok, Ho Chi Minh e Manila. De acordo com Jan Bojo, especialista do Banco Mundial, a exploração ilegal de água subterrânea é uma das causas dos infortúnios da cidade. Nem todos endossam o seu ponto de vista, mas outros estudiosos concordam que essa situação deve piorar ainda mais nos próximos anos. Smith Dharmasaroja, chefe do National Disaster Centre, prevê que até 2100 Bankok terá se transformado na nova Atlantis. E as previsões de Dharmasaroja são levadas a sério: nos anos 90 ele anteviu o tsunami que devastou países em torno do oceano Índico em 2004.

Dharmasaroja afirma que “nenhuma decisão foi tomada” pelo governo para “reverter o problema”. E ainda completa que, se nada for feito, Bangkok pode estar debaixo d’água até 2030. Uma das soluções sugeridas por ele é construir uma série de represas ao longo da costa do Golfo da Tailândia, um projeto que custaria mais de 2 bilhões de dólares. Ele diz que o trabalho deveria começar imediatamente, caso contrário, será tarde demais para impedir a cadeia de eventos que podem levar a um desastre.

Anond Snidvongs, oceanografista e especialista nos impactos das mudanças climáticas no sudeste da Ásia, adota uma linha mais cautelosa. “Ninguém pode prever quanto tempo levará para que Bangkok seja inundada e como esse processo de desenrolará”, afirma. Ele não vê sentido em construir grandes represas. “O aumento do nível do mar não é tão grande e as mudanças climáticas desempenham um papel relativamente pequeno – cerca de um quinto do cenário atual”, acrescenta. “É inútil”, ressalta, “tentar proteger o litoral, que está sendo erodido de três a quatro centímetros por ano. Mas há muitas maneiras de combater a inundação, como implantar uma melhor gestão dos terrenos para construção na cidade”.

Niramon Kulsrisombat, urbanista e professor de planejamento urbano e regional na Chulalongkorn University, confirma que “enchentes sempre ocorreram, já que Bangkok foi construída sobre um terreno encharcado 1,5 metro abaixo do nível do mar”. Uma rede de khlongs (canais), campos e loteamentos costumava absorver as enchentes, mas, com a urbanização recente, muitos edifícios tomaram o seu lugar e agora a água fica presa.“Os esforços do governo têm sido direcionados ao levantamento de barreiras de 2,8 metros ao longo de vários trechos do Chao Phraya”, explica Kulsrisombat, “mas isso causou ainda mais estrago à aparência tradicional de uma localidade em que a população morava em palafitas”.

Snidvongs acredita que o fator-chave para salvar a cidade é coordenar medidas. “É absolutamente necessário alcançar um consenso para que esse um milhão de pessoas, ou mais, que será diretamente afetado pela inundação a médio e longo prazo possa chegar a um acordo em relação aos princípios que sustentam todas as soluções”, afirma.

Resumindo, os cientistas que gastam seu tempo examinando Bangkok devem aprimorar seus diagnósticos para se preparar melhor para o resgate da capital tailandesa.

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